sábado, 3 de outubro de 2015

O controle da doença do consumo

Cientistas europeus e americanos criam teste que aponta se a pessoa é viciada em compras, descrevem características de personalidade que predispõem à doença e orientam o que fazer para escapar da dependência


Pesquisadores da Noruega, Estados Unidos e Inglaterra acabam de divulgar um recurso simples, mas que auxiliará muita gente a sair de uma armadilha capaz de arruinar vidas. Eles desenvolveram um teste que, apesar de ser executado facilmente, tem sólido embasamento científico para indicar se uma pessoa é dependente de compras. Ou seja, se ela não controla seu impulso de comprar, independentemente da sua necessidade e da presença de condições financeiras para arcar com os custos.
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As universidades envolvidas no estudo foram a Universidade de Bergen, na Noruega, a Nottingham Trent University, no Reino Unido, e as universidades americanas Stanford e da Califórnia. O trabalho se baseou no acompanhamento de 23,5 mil participantes com idade em torno de 35 anos. Eles foram questionados sobre hábitos de compras, traços de personalidade, autoestima e sintomas de ansiedade e depressão.
A análise resultou no teste, que tem sete perguntas e está descrito em um artigo publicado na última semana na revista científica Frontiers in Psychology. Entre as perguntas, estão as que questionam se o indivíduo pensa o tempo todo em compras e se o hábito compromete a execução das atividades diárias, como trabalhar. Caso o resultado dê positivo, a recomendação é a de que a pessoa procure ajuda médica e adote intervenções que possam afastá-la do impulso de comprar. “Não usar mais cartão de crédito e encontrar outras formas de lidar com a urgência de comprar, como ir caminhar, e esperar um dia antes de ceder ao desejo estão entre elas”, disse à ISTOÉ Cecilie Andreassen, da Universidade de Bergen, coordenadora do estudo. Ela aponta outras atitudes, como fazer uma lista de compras e se ater a ela e evitar gatilhos potenciais (entrar em shoppings, por exemplo).
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O instrumento tem como mérito principal servir de forma eficaz para alertar as pessoas se sua relação com as compras está dentro do normal ou se atravessou a delicada fronteira que leva à dependência. A compulsão por compras é catalogada como um transtorno de impulso. Na sua raiz, está a busca por compensações imediatas sem que sejam racionalizadas as consequências do ato. “Entre outras ações, o paciente adquire coisas das quais não precisa e muitas vezes nem abre o pacote daquilo que acabou de comprar”, explica a psiquiatra Fátima Vasconcelos, do Rio de Janeiro, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria.
A dependência pode levar o caos às vidas privada e profissional. Nos consultórios psiquiátricos, as histórias de pacientes impressionam. Há gente que perdeu o emprego porque não cumpriaprazos e horários, já que estava sempre envolvido com compras, e até quem foi obrigado a vender imóveis para pagar as dívidas contraídas nas aquisições.
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Na pesquisa agora divulgada, os cientistas apontam características de personalidade que predispõem ao transtorno. Uma delas é a tendência ao negativismo. “Esses indivíduos tendem a adotar comportamentos que reduzam os sentimentos incômodos”, explica Cecilie. Os extrovertidos estão incluídos entre as pessoas com maior risco. Uma das explicações seria o fato de que eles em geral gostam de aparentar status social e aumentar seu poder de sedução. A pouca disposição para conflitos e um senso mais apurado de autoestima são, ao contrário, fatores protetores.
Sabe-se que, fisiologicamente, há anormalidades nos sistemas cerebrais que regulam a concentração de substâncias como a serotonina e a dopamina. Por isso, em alguns casos, remédios que atuam sobre esses compostos (antidepressivos modernos) podem ser receitados. “Além disso, a terapia psicológica individual e em grupo é recomendada”, explica a psiquiatra Fátima Vasconcelos. 
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