segunda-feira, 12 de julho de 2010

SER II tem ´riqueza´ e altas taxas de mortalidade infantil-Fortaleza Ce

A mortalidade infantil reduziu 53% em Fortaleza, de 1999 a 2008, segundo pesquisa recente. Contudo, ainda existem muitas crianças que não ultrapassam um ano de idade. E são nos bairros da Secretaria Executiva Regional (SER) II,- responsável por grande parte da arrecadação - onde existe a maior concentração de riqueza, que as crianças morrem mais, conforme o Boletim de Saúde de Fortaleza. Em geral, são mães pobres, que vivem com poucas condições de higiene e saúde, que têm filhos prematuros, com doenças congênitas, residindo no mesmo espaço geográfico de edifícios de luxo, shoppings, lojas de grife e trade centers.Esse índice reflete que, apesar do notório desenvolvimento socioeconômico conquistado nos últimos anos pelo Município, Estado e País, ainda persistem condições precárias de vida como moradias insalubres, saneamento deficitário, aleitamento materno insuficiente, analfabetismo e falta de bem-estar d as gestantes e seus bebês.De acordo com o levantamento do Boletim de Saúde de Fortaleza, todas as regionais são semelhantes entre si quanto à mortalidade infantil, mas a SER II apresenta taxas mais elevadas. Para o titular da Secretaria de Saúde do Município (SMS), Alex Mont´ Alverne, o número não é aceitável. "O índice é pra ser semelhante à média do Município. Vou pedir uma revisão desses dados porque a taxa média não é para ser em torno de 5. Deve existir algum equívoco, é preciso averiguar se o dado coletado é relativo a nascidos vivos por mães residentes, ou ao local de ocorrência do óbito".Como atribuiu Mont´Alverne, ainda "tem o fato de que os hospitais de referência, como César Cals e Hospital Geral de Fortaleza (HGF) são situados na SER II, por isso pode ter havido um maior registro" . De acordo com o mesmo relatório, as taxas de mortalidade infantil no Ceará e em Fortaleza, assim como no País, declinaram. O estudo é o mais recente, com dados de 1999 a 2008, que aponta 15 óbitos por mil nascidos vivos na Capital.O secretário associa essa redução à expansão do Programa de Saúde da Família (PSF) que desde 1998, e mais intensamente partir de 2006, tem proporcionado acesso maior à atenção básica. "Tivemos a implantação da rede de atendimento para gestantes de risco. Em 2005, incrementamos e implantamos unidades de médio risco neonatal nos hospitais. Nessa época, garantimos a pediatra em sala de parto em todos os hospitais municipais, além da UTI neonatal". Antes,o atendimento pré-natal era apenas nos hospitais.Metas do milênioApesar do declínio, ainda não estamos perto de atingir a quarta meta dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Para tanto, é necessário reduzir em dois terços, até 2015, a mortalidade materna de crianças menores de cinco anos. Ou seja, a redução deve ser de 66,6% e não apenas 53%.De acordo com o portal de acompanhamento municipal dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), mais de 16mil crianças morreram em Fortaleza, antes de completar doze meses de vida, entre os anos de 1995 a 2008. E esse número é considerado abaixo do real. O relatório dinâmico da ODM sugere ainda que pode ter havido um alto índice de subnotificação de óbitos no Município. O número de óbitos de crianças de até um ano informados no Estado representa 60,0% dos casos estimados para o local no ano de 2006.VOLUNTARIADO-Pastoral da Criança salva e celebra vidas periodicamente.Os galos mal começaram a cantar e o quintal já estava sendo limpo e preparado para que a comunidade do Demócrito Rocha se reunisse para mais uma Celebração da Vida. Meninos e meninas que nasceram com baixo peso demonstram que conseguiram atingir a idade de cinco anos deixando para trás qualquer sinal de subnutrição. Problemas de gestação ou mortalidade infantil quase não são detectados na comunidade, desde que a agente da Pastoral da Criança, Irene Paiva, vem desenvolvendo ações no bairro.Bem como a cicerone Vilani dos Santos, que abre as portas de sua casa e põe cadeiras em seu quintal para receber crianças, gestantes e idosos, para atividades mensais.Debaixo de árvores, e reunidos em círculo, pais trocam cumprimentos afetusos com seus filhos, crianças e demais pessoas que chegam para o encontro.A balança da pastoral é colocada sob o galho de uma árvore e chama a atenção das crianças que parecem já conhecer o ritual. Depois do momento de mística e diálogo, as crianças serão colocadas, uma a uma, na balança que parece uma rede, e seus pesos são anotados na Caderneta da Criança.Esse ato, aparentemente simples, é uma das principais ações dos agentes da Pastoral que acompanham com atenção o desenvolvimento das crianças do bairro. São homens e mulheres que acordam cedo para preparar o lanche, organizar as leituras, as cadernetas e a programação da reunião.A espiritualidade é percebida no momento inicial do encontro, mas também nos diálogos. Os pais, mães e filhos, são convidados a falar e vivenciar a fé de uma forma ecumênica e respeitosa às orientações religiosas de cada um. A dona de casa Katiane de Lima, seu esposo e o filho participam do encontro com frequência e relatam os beníficios dessa convivência. "Apredemos a fazer chá para aliviar as tensões do dia a dia, e a cuidar das crianças da maneira mais correta", observa o casal.Os líderes comunitários, com apoio dos participantes, contribuem para a prevenção da violência doméstica, levando a mensagem da paz, do amor e da solidariedade.EntrevistaNo Ceará, muitas bebês ainda morrem antes dos sete dias de vida, óbitos neonatais são desafioDrª Tati AndradeOficial de projetos do Unicef.Você poderia indicar alguns marcos históricos no combate à mortalidade infantil no Ceará?O Estado vem se destacando desde o início dos anos 1980, quando foi inserida no Ceará a figura do agente de saúde. No final da mesma década, Fortaleza tornava-se a primeira capital brasileira a municipalizar a Saúde. Isso fez os investimentos aumentarem, assim como a clareza em torno das atribuições de cada esfera do poder. A Escola de Saúde Pública do Ceará é, por exemplo, uma referência para todo o País.De que forma o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) está hoje atuando junto aos lares das gestantes e puérperas da Grande Fortaleza?O material mais enfático e quem tem alcançado de forma didática os agentes de saúde e as mães mais diretamente, é o kit Família Brasileira Fortalecida. Ele contém cinco álbuns que explicam os cuidados necessários para as crianças desde a gestação até os 6 anos de idade, com ilustrações, visão interdisciplinar, multicultural, de valorização à família.Quais os fatores da queda nos índices de mortalidade ?A criação do Programa Saúde da Família (PSF) em 1994 foi, sem dúvida, um grande passo. Contudo, é difícil colocar em apenas um setor a responsabilidade pela mortalidade infantil. Além da qualidade da saúde pública, influenciam também o saneamento básico, o nível de instrução das mães e a alimentação das crianças.Qual a dificuldade que ainda persiste em nosso Estado no combate aos óbitos precoces?A mortalidade infantil pode ser vista sob dois prismas: o das mortes neonatais (até os 28 dias de vida) e pós-neonatais (crianças a partir dos 28 dias). O Ceará tem conseguido reduzir os índices das mortes pós-neonatais, mas muitas crianças ainda morrem antes dos sete dias de vida. Isso acontece porque as mães não têm tido acesso a um acompanhamento neo-natal adequado. Ao mesmo tempo, nem todos os hospitais estão preparados para realizar partos complicados e nem unidades de terapia intensiva para bebês prematuros.Que experiências você reconhece como bem-sucedidas?Em 2001, a Secretaria de Saúde de Sobral passou a investigar todos os óbitos de crianças menores de um ano, identificando as principais deficiências na assistência pré-natal e no parto. Ao constatar que a falta de apoio familiar, o desmame precoce, a falta de acompanhamento e de informações geravam problemas na gestação e para o bebê, a Secretaria de Saúde implantou o Programa Trevo de Quatro Folhas, baseado na garantia de atenção a quatro momentos: pré-natal, parto e puerpério, nascimento e dois primeiros anos de vida. O Trevo se tornou uma estratégia intersetorial.Mortalidade infantil.Principais causas-Deficiências na assistência pré-natal, Sífilis congênita, Aids e outras doenças adquiridas antes ou durante a gestação, quando não são detectadas na primeira consulta ou quando o tratamento não é assegurado.AUSÊNCIA DE CUIDADOS PÓS-PARTO-Mães que não fazem a puericultura, sem acompanhamento mensal das crianças, sem aleitamento materno realizado de forma suficiente.Condições de vida precáriasA insalubridade geral e o saneamento deficitário, bem como o analfabetismo persistente contribuem para a mortalidade infantil.

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