segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vacina para doença cardíaca

Cientistas testam novas substâncias que agem de forma inédita para evitar ataques cardíacos e o acidente vascular cerebral 

Mônica Tarantino
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PROMESSA
O cardiologista Bruno Caramelli acredita no potencial dessa
nova linha de tratamento, mas espera confirmação de eficácia
nos testes em humanos
Novas estratégias para combater as doenças do coração, como uma vacina e anticorpos monoclonais, podem mudar o panorama do tratamento em um período estimado de quatro a dez anos. As duas iniciativas pertencem ao campo da imunologia, uma frente de batalha que começa a ser explorada no enfrentamento dos males cardiovasculares. “A vacina e os anticorpos monoclonais podem ser considerados inovadores, pois, pela primeira vez, estão atacando as causas subjacentes às doenças cardíacas”, disse à ISTOÉ o cientista sueco Jan Nilsson, da área de Pesquisa Cardiovascular Experimental da Universidade de Lund, e líder dos estudos com a vacina. Ele é um pesquisador renomado na criação de tratamentos imunológicos.
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Os testes realizados até agora, exclusivamente com camundongos, mostraram que a vacina reduziu os depósitos de placas de gordura nas artérias em até 70%. A proposta do imunizante é modificar a maneira como o sistema imunológico responde à formação de placas nas artérias, que estão na origem de problemas como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Ambos ocorrem quando as placas ateroscleróticas (de gordura) se rompem no interior das artérias. No coração, é o infarto. No cérebro, dá lugar ao AVC. Um dos processos envolvidos no rompimento dessas placas é a oxidação dos depósitos de gordura nas artérias. Quando isso acontece com as moléculas de gordura infiltradas no endotélio (membrana que reveste as artérias), o corpo passa a identificá-las como agente agressor e dispara anticorpos para se defender do ataque, causando inflamação e elevando o risco de ruptura.

O imunizante é feito com partes de aminoácidos (os tijolinhos que formam as proteínas) tirados da molécula de colesterol oxidado presente nas placas. No estágio atual, aguarda aprovação do FDA, agência americana que regulamenta medicamentos, para ser testado em humanos. Será ministrado por via subcutânea, por injeção. Porém, está sendo examinada uma segunda vacina na forma de spray nasal. “Minha expectativa é de que esteja disponível para ser usado em cinco anos”, diz o cientista Nilsson.
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O cardiologista e pesquisador Bruno Caramelli, diretor da Unidade Clínica de Medicina Interdisciplinar do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo, acha que a vacina será um grande avanço. “Mas não se pode dizer que vá mudar todo o tratamento porque ainda não foi testada em seres humanos. Muitas promessas falham nessa etapa”, ressalva o especialista. “Além disso, provavelmente será muito cara e terá de ser tomada repetidas vezes”, afirma o cardiologista. O próprio Nilsson reconhece que o preço poderá ser alto e prediz que, por isso, as pessoas com risco elevado de infarto do miocárdio provavelmente serão as primeiras candidatas às abordagens imunológicas.

Há mais perspectivas. Uma delas é uma das substâncias usadas na composição dessa vacina que demonstrou uma inesperada capacidade de reduzir a formação das placas de gordura e fazer a doença regredir.  Por isso, está sendo testada separadamente em 114 pacientes com doença arterial em 20 centros nos Estados Unidos e no Canadá. Os primeiros resultados serão divulgados este ano. “É uma abordagem interessante e há mais estudos nessa direção”, diz o professor e pesquisador Francisco Laurindo, diretor do Laboratório de Biologia Vascular do InCor. “A vantagem é que ambos os tratamentos, a vacina e os anticorpos monoclonais, têm mecanismos diferentes de ação e podem ser usados em conjunto com as terapias atuais, que reduzem o risco de doença cardiovascular em 40%”, afirma o sueco Nilsson. Ele acredita que a vacina poderá também ser usada em crianças. Outros avanços estão a caminho. “O futuro do tratamento das doenças cardiovasculares está na aplicação dos recursos da genética para buscar novos alvos e criar terapias dirigidas. Muita gente está trabalhando nisso”, disse à ISTOÉ o renomado pesquisador Peter Libby, da Universidade de Harvard.
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