segunda-feira, 7 de maio de 2012

Dificuldades no diagnóstico superlotam as unidades de saúde


Além da gripe comum e H1N1, a dengue pode ser confundida também com a meningite e leptospirose
Todo ano é a mesma coisa. Muda o tempo, começa a chover e, junto com os fenômenos da natureza, chegam também a coceira na garganta, o nariz escorrendo, a tosse, o espirro, a dificuldade para respirar. E, agora, a dengue também se tornou uma das maiores preocupações dos cearenses diante da grande quantidade de casos confirmados. A questão é: como diferenciar essas viroses? Que tipo de especialista procurar? Quando é preciso ir ao posto de saúde ou à emergência hospitalar? A s dúvidas acabam superlotando as unidades de saúde na Capital.

Cansaço, secreção, tosse, febre. Há uma semana, o pequeno João Pedro, de seis meses, apresenta esses sintomas. Com medo de o filho estar com dengue, a estudante Cristiane Costa da Silva levou o bebê para Centro de Saúde César Cals Oliveira, na Aerolândia. "Não sei a diferença entre dengue e virose. Portanto, como há três dias ele não apresentava melhora, eu o trouxe ao posto. Enquanto isso, estou dando apenas paracetamol", diz.

Pietro, sete meses, também apresentava febre, tosse e moleza no corpo. A dona de casa Lucinalva Fernandes, mãe do menino, notou algumas manchas vermelhas na pele e optou por ir direto para o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) por suspeitar que o filho estivesse com dengue, mas o exame de sangue deu negativo, era apenas uma gripe.

Semelhanças
De acordo com o médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, casos como esses são frequentes, pois a maioria das viroses começam com sintomas semelhantes. Mas, segundo ele, a grande diferença é que a dengue não causa problemas respiratórios. "Se o paciente estiver com dor de garganta, tosse, congestão nasal, e muita secreção, deve descartar a possibilidade de dengue imediatamente", orienta o especialista.

Ele explica que os sintomas da dengue são febre, dores no corpo, fadiga e algumas manchas vermelhas na pele. Ainda de acordo com Castelo Branco, se depois de três dias com a doença a febre passar, é preciso ficar em alerta. "O paciente começa a desidratar e a febre passa, o indicado é procurar com urgência o médico. Outro sinal de dengue é a queda constante das plaquetas, por isso a necessidade de realizar o hemograma", diz.

Porém, o infectologista ressalta que, entre as viroses respiratórias e a gripe comum, é mais difícil fazer o reconhecimento, pois o que difere uma da outra é apenas a intensidade dos sintomas. "Nas viroses, há uma menor intensidade de secreção, portanto, usa-se apenas lenços. Mas, na gripe comum, por ser bem mais forte, usa-se um lençol", explica Ivo Castelo Branco, em uma linguagem bem popular, a melhor maneira de diferenciar as doenças.

Ivo Castelo Branco destaca ainda que a diferença entre o vírus H1N1, conhecido como gripe A, e a gripe comum é possível de identificar pela insuficiência respiratória. Segundo ele, o paciente com a influenza A apresenta um quadro clínico grave e muita falta de ar, o que pode levar a morte. "A reação inflamatória lesa os tecidos do pulmão, e o paciente não consegue fazer as trocas gasosas. Este quadro acomete os órgãos como coração e fígado, por isso o indivíduo acaba falecendo. Portanto, se estiver gripado e apresentar qualquer sinal de insuficiência, vá para uma unidade de saúde", diz.

O que chama atenção na gripe H1N1, conforme o infectologista, é a grande demanda de pessoas jovens doentes, e não somente idosos e crianças. Diante disso, a vacinação passou a ser importante em todas as idades. Porém, segundo ele, no Ceará, as campanhas são realizadas no período errado.

Para o médico, a vacinação deveria acontecer em janeiro e fevereiro, meses chuvosos no Estado e não em abril, período em que a quadra invernosa está se encerrando. "O calendário nacional da vacinação não privilegia o Ceará, nem o Nordeste. Diante disso, as pessoas se vacinam quando já estão doentes e não antes da gripe se manifestar".

Outros problemas
O médico sanitarista e coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Manoel Fonsêca, destaca que, neste período de chuva, a patologia mais comum no Ceará está sendo a dengue. Segundo ele, a doença pode ser confundida com, outras viroses, além de H1N1 e gripe comum, como a meningite e leptospirose. Todas, conforme Fonsêca, inicialmente, apresentam os mesmos sintomas.

Entre a meningite e a dengue, conforme ele, as diferenças são a rigidez da nuca apresentada na meningite e as manchas da pele, que são mais sanguíneas. Na dengue, segundo o coordenador, as manchas cutâneas parecem com alergia a picada de mosquito. Os vômitos da meningite são involuntários e em forma de jatos.

No bebê, a moleira fica dilatada na meningite, pois há uma desidratação. Segundo Fonseca, na dengue, há dor abdominal intensa, fezes escuras, diminuição de urina, tudo causado também pela desidratação.

Já a leptospirose se assemelha a dengue em vários sintomas, como, por exemplo, febre alta, fezes escuras, dor de cabeça, vômitos, além de dores abdominais frequentes. A diferença, segundo Fonseca, são os olhos amarelados e dores da panturrilha, a popular batata da perna.

O sanitarista reforça a fala de Ivo Castelo Branco, dizendo que, na dengue, meningite ou leptospirose, não há tosse, dor de garganta ou qualquer outro sintoma respiratório grave, enquanto a diferença entre gripe A e gripe comum é a insuficiência respiratória. Nos bebês, fase que é mais difícil identificar qualquer doença, já que eles não sabem dizer o que sentem, o vírus H1N1 é identificado quando se apresenta com sintoma de asma.
Opinião do Especialista:
Viroses comuns em períodos chuvosos

Francisca XavierPedriatra e alergista

Os vírus mais frequentes neste período chuvoso são os rinovírus, que são os do resfriado comum, e o influenza A, que é o da gripe. Quando a doença ocorre pelo rinovírus, ela se manifesta como um resfriado normal, com sintomas nasais de espirros, coriza, coceira e obstrução nasal, sendo sempre um quadro mais leve do que aquele observado com o vírus influenza, que apresenta um quadro de febre e prostração mais intensos, acompanhado de sintomas nasais, dor de garganta e tosse. Às vezes, pode acompanhar quadros de vômitos e diarreia, principalmente em crianças.

O vírus da gripe tem elevada morbidade e apresenta, ainda, um grau de mortalidade, como vemos nos grupos de idosos. Não é fácil identificar claramente o vírus causador do quadro respiratório agudo. O médico se baseia principalmente pela clínica. Sempre que o paciente evoluir com sintomas de prostração intensa, febre alta, dor abdominal, vômitos e diarreias frequentes, deve-se procurar ajuda médica imediata. Inúmeras doenças virais e bacterianas podem cursar com quadros semelhantes a dengue. Havendo a suspeita, procure assistência médica, pois só o médico pode introduzir o tratamento.
Hias registra 425 casos suspeitos de dengue apenas durante o mês de abril
Sala de espera lotada com crianças chorando e mães desesperadas. Algumas com febre, outras com dificuldade para respirar e há aquelas que não abrem nem os olhinhos de tanta moleza. Esse é o retrato do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) nos últimos meses. Para se ter uma ideia, de acordo com a unidade, foram registrados, somente em abril, 425 casos suspeitos de dengue. Destes, 111 foram confirmados, 107 descartados, um teve o diagnóstico de dengue hemorrágica e 206 estão em andamento.

Mas, além da dengue, muitas crianças apresentam viroses respiratórias, porém, o hospital não informou quantos casos foram registrados e a gripe H1N1, da qual, de janeiro a março, a unidade notificou 12 casos.

Entretanto, um grande problema enfrentado pelo Hias é que, diante da semelhança entre as doenças, centenas de mães optam por ir direto ao hospital em vez de passar, primeiro, no posto de saúde, o que, segundo Patrícia Jereissati, pediatra e coordenadora da emergência da unidade, gera superlotação e demora no atendimento.

E essa situação foi sentida na pele pela dona de casa Ana Cláudia Souza, mãe de Ruan, 7 anos. Segundo ela, o filho apresentava febre, vômito, dor de cabeça e fraqueza no corpo. Diante desses sintomas, Ana preferiu ir direto ao Hias, e não ao posto de saúde perto de sua casa. "Sei que existem casos mais urgentes do que o do meu filho, pois são mais graves e prioritários. Mesmo assim, acho que o atendimento poderia ser mais rápido", destaca.

Patrícia Jereissati explica que a prioridade na unidade são os pacientes com sintomas graves como, por exemplo, problemas cardíacos, pneumonia, hemorragias, doenças neurológicas descompensadas, intoxicações, tumores cerebrais e dengue.

Conforme ela, esta última é de maior demanda da unidade nos últimos meses. "Mesmo quando a mãe suspeita de dengue, o ideal é procurar primeiro o posto de saúde ou outras unidades municipais", afirma.
KARLA CAMILAREPÓRTER

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