Levantamento publicado em periódico afirma que os prejuízos da triagem são maiores do que os reais benefícios

Em sua última recomendação, publicada em 2008, os pesquisadores da Força Tarefa haviam concluído que não havia evidências que apoiassem a triagem para homens acima dos 75 anos de idade. Um painel independente de especialistas revisou, no entanto, as evidências usadas à época e concluiu que os danos da triagem com o antígeno específico de próstata (PSA) são maiores do que os benefícios. Na avaliação, foi levada em consideração apenas danos e benefícios à saúde, mas não custos.
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PSAPSA é a sigla em inglês para antígeno prostático específico, uma proteína produzida pelas células da próstata e considerada um importante marcador biológico para determinar quais homens precisam de biópsia e quais deles têm menor risco de desenvolver o câncer de próstata. O exame de PSA sozinho, no entanto, não é capaz de fornecer informações suficientes para determinar se o paciente tem ou não a doença.
Segundo a USPSTF, fortes evidências mostram que a triagem está associada a danos significativos. Aproximadamente 90% dos homens que tiveram a doença detectada pela triagem passaram por tratamentos precoces com cirurgia, radiação ou terapia de privação de hormônios masculinos. Algumas evidências apontam, no entanto, que mais de cinco em 1.000 homens morrem cerca de um mês após a cirurgia para o câncer. Entre 10 e 70 sobrevivem, mas sofrerão ao longo da vida de efeitos colaterais, como incontinência urinária e disfunção erétil e intestinal.
Conclusão precipitada — De acordo com William J. Catalona, diretor médico da Fundação para Pesquisa Urológica e autor de um editorial que acompanha a pesquisa, a recomendação da Força Tarefa tem subestimado os benefícios e superestimado os danos da triagem. Ele e seus coautores argumentam que a Força Tarefa – cujo painel não inclui urologistas ou especialistas em câncer – baseia sua recomendação em estudos. Além disso, as recomendações focam apenas na mortalidade e não levam em consideração a dificuldade em se viver com um câncer avançado.
De acordo com Otis W. Brawley, diretor da Sociedade Americana de Câncer e autor de um segundo comentário que acompanha a publicação, o diagnóstico em demasia faz a triagem parecer salvar vidas quando ela verdadeiramente não o faz. Isso porque muitos homens são diagnosticados com câncer de próstata que poderia nunca progredir. Mas como são tratados, eles pensam que a triagem salvou suas vidas. "Muitas pessoas têm uma fé cega na detecção precoce do câncer", diz Brawley.
Opinião do especialista
Gustavo Cardoso GuimarãesCirurgião oncologista e diretor do Departamento de Urologia do Hospital A.C. Camargo.
"Hoje, acredita-se que 90% dos cânceres de próstata são diagnosticados em fases iniciais por causa dos exames preventivos. Desses, cerca de 70% não progridem. Por isso, toda essa controvérsia sobre os testes para triagem.
Mas os resultados estão ainda muito aquém do que gostaríamos de verdade, o que se tem de ainda é muito prematuro. O que nós precisamos é melhorar o método de diagnóstico com novos marcadores e novos exames e não crucificar o único exame eficiente que existe hoje. Parar de usar esse teste para fazer as triagens é o mesmo que voltar à década de 1980."
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