sábado, 27 de outubro de 2012

Sete dias em outro mundo

Livro de neurocirurgião americano sobre o que viu e sentiu durante a semana em que esteve em coma reacende interesse pela chamada experiência de quase morte

Mônica Tarantino


 

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VIAGEM
O médico Eben afirma ter estado consciente e
viajado para uma outra dimensão do universo
Quando recuperam a consciência depois de sobreviver a traumas graves, algumas pessoas relatam o que teriam vivenciado, como visitas a lugares desconhecidos. Chamadas de experiências de quase morte (EQM), essas situações são estudadas por cientistas interessados nas relações entre o cérebro e a espiritualidade e na compreensão da consciência. É um campo polêmico, no qual há poucas certezas e muitas hipóteses. Na última semana, chegou às livrarias americanas um relato único sobre o tema, escrito na primeira pessoa pelo neurocirurgião Eben Alexander III, do Brigham & Women Hospital e da Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos. O livro se chama “Proof of Heaven: A Neurosurgeon’s Journey into the Afterlife” (Prova do paraíso: a jornada de um neurocirurgião à vida após a morte, em tradução livre). É a história de um médico que por mais de 25 anos manteve o ceticismo frente aos testemunhos de EQM de seus pacientes. Há quatro anos, porém, o próprio Alexander passou por uma experiência desse tipo, o que abalou seriamente as suas convicções sobre a natureza dessas vivências. “Não acreditava nesse fenômeno. Para mim, sempre houve boas explicações científicas para essas viagens fora do corpo descritas por pessoas que haviam escapado da morte”, diz o médico.
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Na obra, que o médico considera também uma resposta à descrença polida dos colegas que ouviram sua história, Alexander detalha a odisseia transcendental que experimentou durante a semana em que esteve em coma profundo por causa de uma forma rara de meningite bacteriana. Em estado vegetativo e com poucas chances de se recuperar, ele abriu os olhos no sétimo dia. Nesse período, conta que viu e sentiu coisas estranhas. “Enquanto meu corpo estava em coma, minha consciência viajou para outra dimensão do universo que eu nunca sonhei que existisse”, diz. “É um novo mundo onde somos muito mais do que nossos cérebros e corpos e a morte não é o fim da consciência”, afirma. Perplexo diante do que viveu, ele se questiona: “Os principais argumentos contra as EQM sugerem que elas são resultado do mau funcionamento do córtex (região do cérebro). No meu caso, ele não estava funcionando. Isso está documentado por exames neurológicos.” Disponível também em versão eletrônica, o livro de Alexander será lançado no Brasil em abril de 2013 pela Editora Sextante.

Como outras pessoas que tiveram uma EQM, Alexander levou meses para começar a entender o que lhe sucedera. Foi assim também com o advogado Solon Michalski, 65 anos, de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Aos 21 anos, ele ficou em coma por dez dias após um acidente de carro. “Eu via meu corpo na cama do hospital e ouvia as pessoas chorando. Sentia uma sensação de alívio crescente do desconforto que era estar preso a um corpo machucado”, conta. “Revi também as mancadas que dei na vida e fiquei muito envergonhado antes de recuperar a consciência e abrir os olhos”, conta ele, que teve depois outra EQM. “Foi durante uma cirurgia na perna. Eu via luzes da sala de operação de um ângulo que me deu a impressão de estar colado no teto e percebi que os médicos estavam tentando me acordar”, relata. Por mais de quatro décadas, ele meditou sobre essas sensações, que acabaram mudando sua vida. “Sou uma pessoa melhor. Li muito e entendi que somos parte de um tecido universal que está sempre se ajustando”, diz Michalski.
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No Brasil, as EQM serão em breve investigadas com critérios científicos. Um grupo de professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, ligado às redes internacionais de estudo sobre o tema, está prestes a dar início a um estudo para mapear casos de quase morte em pacientes que tiveram parada cardíaca nos hospitais da cidade. “Serão colocadas prateleiras acima dos leitos das UTIs e, em cima delas, figuras impressas de fácil identificação. Tais imagens ficam a 30 centímetros do teto, onde só podem ser vistas por alguém que esteja flutuando”, explica o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, coordenador do Núcleo de Espiritualidade e Saúde da universidade e autor de livros e artigos sobre espiritualidade e saúde. Os pacientes serão também submetidos a testes para descartar doenças neurológicas ou transtornos psiquiátricos.
Foto: divulgação
Foto: Daniela Dacorso/ag. Istoé

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