Médicos alertam para o risco de ocorrência de graves problemas de saúde durante viagens aéreas. Entre eles, a embolia pulmonar, que pode matar se não for tratada a tempo
Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)Dois bilhões de passageiros cruzam os céus do planeta por ano, conforme dados da Agência de Administração de Aviação Americana. Aproximadamente 25% deles sofrerão algum mal-estar a bordo. As queixas vão desde uma simples dor de cabeça por falta de sono a condições que colocam a vida em risco, como a trombose venosa profunda (TVP) e sua mais temível consequência, a embolia pulmonar. O problema é originado pelo surgimento de coágulos de sangue nas veias das pernas. Eles podem bloquear o fluxo desses vasos ou se soltar e viajar pela corrente sanguínea até se fixarem no pulmão, causando a embolia pulmonar.

SUSTO
Mirella sofreu embolia dias após desembarcar de um voo vindo
da Itália. Foi medicada e hoje espera seu primeiro filho

TEMPO
Peclat, da Sociedade de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro,
diz que o problema pode ocorrer semanas após o voo
O médico Julio Peclat, presidente da Sociedade de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro, alerta que diversos pacientes apresentam trombose venosa profunda vários dias depois do voo. “Pode ocorrer até duas semanas após o desembarque. As longas distâncias aéreas funcionam como mais um fator de risco para quem já tem lesões nos vasos ou tendência genética à formação de coágulos”, diz o especialista.


A primeira especialista consultada não soube interpretar o resultado de seu exame de tomografia computadorizada e acreditou tratar-se de uma pneumonia. “Meu irmão, que é cardiologista, achou estranho ter pneumonia sem febre. Pediu para repetir o exame e me encaminhou para outro especialista, que descobriu a embolia pulmonar. Podia ter morrido.” A carioca tomou remédios anticoagulantes por dois meses. Agora, sempre que faz uma viagem aérea, movimenta-se com frequência. “Faço isso independentemente da distância.” Mirella mora hoje no Brasil e está às vésperas do parto de seu primeiro filho.

RECOMENDAÇÃO
Magalhães orienta viajante com doença crônica a procurar o
médico antes do embarque para evitar problemas
No ano 2000, por exemplo, a Agência de Administração de Aviação Americana registrou uma média de 15 emergências por dia. Nos casos mais graves, houve desvio de rota para providenciar atendimento hospitalar. “Um dos dados mais impressionantes desse estudo é que, apesar de haver médicos a bordo em 85% dos voos registrados, menos de 1% sabia realizar os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar”, explica Timerman, que também está à frente do Conselho 3CPR, da Associação Americana do Coração. É uma subdivisão que define as diretrizes para o melhor atendimento de problemas cardiopulmonares, cuidados críticos e ressuscitação.

Na verdade, é crescente a preocupação das companhias aéreas com essas questões. E, ainda que nem todas já estejam implementando os equipamentos e processos mais atuais, há um movimento nesse sentido. A Gol, por exemplo, informa que os seus comissários de bordo são treinados para iniciar as manobras de ressuscitação em passageiros nas aeronaves equipadas com o desfibrilador.

PREPARO
Timerman, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, defende que
todas as aeronaves sejam equipadas com desfibriladores
Magalhães diz que é necessário melhorar a troca de informações entre os médicos, as empresas e os passageiros. “Muitos eventos em viagens aéreas acontecem com pessoas que convivem com doenças crônicas que não estão bem controladas”, diz. Há também casos de indivíduos doentes que decidem se consultar em outras cidades. Porém, o melhor lugar para quem não se sente bem não é o avião. Um dos motivos que tornam esse ambiente menos favorável é a diferença de pressão atmosférica. Nos aviões mais modernos, ela é até mais bem controlada, mas de qualquer forma o ar é mais rarefeito e isso representa menor oxigenação. “Pessoas sadias não são afetadas, mas quem tem problemas cardíacos pode eventualmente sentir alguma mudança. Por isso é importante ser orientado corretamente pelo médico antes de viajar”, diz Magalhães. O especialista aconselha a indivíduos submetidos recentemente a grandes cirurgias de pulmão, cérebro, coração ou ortopédicas que comuniquem as companhias até 72 horas antes de embarcar.

Fotos: Eduardo Zappia; Bruno Poppe, THIAGO BERNARDES/FRAME; Kelsen Fernandes
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