Novos métodos permitem remover nódulos na glândula sem a necessidade de cirurgia
Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
Em média, uma
em cada sete mulheres tem nódulos na glândula tireoide. Se crescerem
rápido demais, incomodarem e se sua aparência despertar o receio de que
sejam malignos ou de que venham a se converter em câncer, a recomendação
é removê-los. Até agora, o método predominante para isso é a cirurgia, o
que pode implicar remoção parcial ou total da glândula e a necessidade
de fazer reposição hormonal. Muitos centros médicos nos Estados Unidos,
na Europa e na Ásia, porém, começam a colocar em prática métodos menos
invasivos para reduzir bastante as dimensões dos nódulos ou eliminá-los.
Os cientistas estão estudando principalmente o desempenho das ondas de
radiofrequência, do laser e das micro-ondas. As técnicas geram calor, o
que leva à morte dos tecidos nodulares.
Testes com pacientes estão em andamento
principalmente na Coreia, nos Estados Unidos e na Itália. Um dos
aspectos mais investigados é a segurança do procedimento para não
atingir estruturas nobres que cercam a tireoide, como as artérias
carótidas, a traqueia e o nervo laríngeo (relacionado à voz).

RECURSOS
O médico Rahal, do Albert Einstein, confirmou a eficácia
do laser e planeja testar a aplicação de micro-ondas
O pesquisador italiano Roberto Valcavi
concluiu recentemente um dos primeiros estudos que comparam o desempenho
de duas dessas técnicas. Ele submeteu 54 mulheres com nódulos benignos
grandes à ablação por radiofrequência, enquanto outras 54 foram tratadas
com laser. “O grupo submetido à radiofrequência teve resultados
melhores e mais rápidos”, disse Valcavi. Na Coreia, no Centro Asan, 692
pacientes experimentaram o método, com igual sucesso. Alguns, entre eles
homens, tinham nódulos volumosos, daqueles que desfiguram o pescoço e
são chamados de bócio. No período de seis meses a um ano, houve reduções
de até 75% do tamanho.
No Brasil, os radiologistas
intervencionistas Antônio Rahal e Rodrigo Gobbo, do Hospital Israelita
Albert Einstein, em São Paulo, submeteram, em caráter experimental, 33
mulheres com nódulos benignos ao tratamento com laser. “Verificamos que
se trata de uma terapia precisa, com resultados tão eficazes quanto os
da radiofrequência”, afirma Rahal. O procedimento é realizado por meio
da introdução de um a quatro feixes de fibra óptica no interior do
nódulo por onde serão conduzidas as ondas de energia do laser. Sob
temperatura elevada, as células sofrem necrose e morrem. A paulista
Aline Gandra, 24 anos, passou pela terapia. “Até agora o nódulo não
voltou”, diz.
Logo após a conclusão do teste, os
especialistas do Albert Einstein pediram a aprovação do procedimento e
do aparelho à Agência Nacional de Vigilância Sanitária. “Foi em 2012,
mas ainda esperamos a liberação. Enquanto isso, não podemos usar sem que
seja em pesquisa”, diz Gobbo. No Brasil, as mulheres que precisam
remover nódulos contam apenas com duas opções: a cirurgia ou a
alcoolização (injetam-se doses de álcool puro no interior dos nódulos
para murchá-los). Em geral, o método precisa ser repetido mais de uma
vez. “As brasileiras precisam ter acesso a métodos menos agressivos,
como a radiofrequência”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de
São Paulo.
Há mais técnicas em estudo. Uma delas é a
eletroporação (usa pulsos elétricos para perfurar a membrana das
células, levando-as à morte), em teste em centros americanos e europeus.
Por aqui, a equipe do Einstein pretende iniciar ainda este ano um
protocolo experimental utilizando as micro-ondas.
As principais vantagens dessas técnicas em
face da cirurgia são a eliminação dos nódulos sem cortes e as chances de
preservação da glândula. “Essa espécie de implosão do nódulo, matando
as células, é um benefício porque elimina a possibilidade de que ele
aumente de tamanho e provoque sintomas ou adquira aspectos sugestivos de
câncer”, diz Maria Fernanda.

O cirurgião Luiz Paulo Kowalski, chefe do
departamento de cabeça e pescoço do A. C. Camargo Cancer Center, em São
Paulo, pensa diferente. Ele acredita que, se houver possibilidade de o
nódulo vir a ser câncer, deve ser removido cirurgicamente. “Se não há
risco, pode ser acompanhado e não precisa ser extraído”, diz. O
cirurgião Sérgio Arap, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, diz que é
cedo para dar um veredicto. “Falta um acompanhamento a longo prazo das
pacientes para conhecer os resultados depois de cinco anos, por
exemplo”, afirma.
Os avanços incitam também a preocupação com
sua aplicação adequada. “Esses procedimentos se destinam a pacientes
com nódulos benignos. O câncer não pode ser tratado dessa forma”, disse à
ISTOÉ o médico Damian Dupuy, diretor de radiologia do Rhode Island
Hospital, nos Eua. Ele é um dos principais pesquisadores das novas
tecnologias. Sua recomendação é a de que só depois de comprovar que o
nódulo é benigno (por duas punções seguidas da análise dos tecidos) se
pode optar por um método menos agressivo.
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