A Organização Mundial de Saúde faz um alerta global para avisar que a resistência aos antibióticos já se espalhou por todo o mundo e que o problema terá implicações devastadoras para a humanidade
Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Aproliferação
de bactérias resistentes a todos ou quase todos os antibióticos deixou
de ser uma ameaça para se tornar uma realidade. O alerta foi feito na
quarta-feira 30 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a
entidade, esse tipo de micro-organismo já pode ser encontrado no mundo
inteiro, o que configura um quadro de grave preocupação. “A resistência a
antibióticos tem potencial para afetar qualquer um, em qualquer idade,
em qualquer país”, alerta a OMS em seu relatório. O texto é claro:“É
hoje uma das maiores ameaças à saúde pública e suas implicações serão
devastadoras.”

É a primeira vez que a OMS se posiciona com
tamanha contundência em relação à questão – tema que já preocupa a
comunidade médica há tempos. A entidade realizou um levantamento em 114
países e concluiu que até mesmo superbactérias capazes de sobreviver aos
mais modernos antibióticos da atualidade – os carbapenêmicos – são
encontradas em todas as regiões. Em alguns países, esses medicamentos
não funcionam mais em metade dos pacientes internados em hospitais e
infectados pela bactéria K. pneumoniae. Entre outras doenças, ela causa
pneumonia e infecções em recém-nascidos e em doentes internados em
unidades de terapia intensiva.

RISCO
Fukuda, da OMS, diz que infecções comuns podem voltar a matar
Esse tipo de ocorrência sustenta previsões
sombrias. “O mundo está entrando na era pós-antibiótico, em que
infecções comuns tratadas há décadas podem voltar a matar”, afirmou
Keiji Fukuda, diretor-geral assistente para Segurança em Saúde da OMS.
De fato, pelo menos dez países – entre eles o Japão, a Noruega e a
França – registram casos de gonorreia resistentes aos remédios atuais.
Nos Estados Unidos, uma das superbactérias mais conhecidas, a MRSA, é
responsável pela morte de 19 mil pessoas por ano. É mais do que mata a
Aids naquele país.

Na opinião do infectologista Jacyr
Pasternack, da Comissão de Infecção Hospital do Hospital Israelita
Albert Einstein, de São Paulo, chegou-se ao limite na criação de novos
antibióticos. “A indústria farmacêutica está fugindo desse campo. Uma
das razões é que investir em remédios para para doenças crônicas, por
exemplo, dá mais dinheiro”, afirma. O médico acredita que o problema só
será controlado com o uso racional dos antibióticos. “Para isso, é
preciso educar pacientes e médicos.”
Foto: Fabrice Coffrini/AFP
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