sábado, 17 de dezembro de 2016

Danos causados pela síndrome do overtraining

Todo excesso é sempre prejudicial à saúde. Isso vale para quem busca ser um maratonista em tempo recorde
Quando há um desequilíbrio entre o estresse causado pelo treinamento e os níveis de recuperação, é possível afirmar que o indivíduo desenvolveu a chamada síndrome do 'overtraining'. Para evitar essa sobrecarga, é importante ter um acompanhamento profissional, assim como o planejamento das atividades físicas.
Apesar de pesquisas demonstrarem que esse problema pode atingir em cheio atletas de alto rendimento, com os amadores a possibilidade para desenvolver o problema é ainda maior, uma vez que o controle da carga de treinamento não é tão rigoroso quando feito por uma equipe profissional. É justamente aí que "mora" o perigo.
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Supercompensação
"O praticante fica na tentativa de melhorar o desempenho, exagera e talvez treina com uma intensidade que o corpo não consegue se recuperar para o próximo treino. Essa é uma das principais causas do que chamamos de 'Teoria da Supercompensação'. É uma sobrecarga progressiva. No entanto, cada indivíduo tem um tipo de adaptação e recuperação", justifica Eduardo Netto, conselheiro do Conselho Federal de Educação Física e mestre em Motricidade Humana.
Netto, que é pós-graduado em Fisiologia do Exercício, explica que a sobrecarga de exercícios gera um acúmulo catabólico muito grande. Isso é comum em praticantes de corrida de médias e longas distâncias, em triatletas, em pessoas que, de um modo geral, estão muito preocupadas com o resultado. Afeta também as pessoas que permanecem em treinamento constante sem ter um período adequado de recuperação.
Dependência de exercícios
Existem vários parâmetros psicológicos envolvidos no processo de 'overtraining'. É o caso da síndrome da dependência ou 'addiction', descreve o professor Franco Noce, psicólogo docente de Educação Física e do programa de pós-graduação em Ciências do Esporte, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Essa síndrome, afirma, faz com que a pessoa treine muitas vezes lesionada, em condições ambientais adversas, deixando até mesmo de ter contatos sociais por colocar o treinamento em primeiro plano.
"O overtraining é uma das consequências de um treinamento intenso. Na verdade, um conjunto de treinamentos intensos sem que ocorra a devida recuperação do atleta", cita o professor.
Estresse além da conta
Existe uma diferença entre treino forte e overtraining. Na primeira situação, o indivíduo é capaz de concluir a atividade e depois voltar a treinar. Existem a motivação e a força para enfrentar outra sessão de exercícios.
Com o overtraining, o treinamento foi tão intenso que desde o início do aquecimento o atleta mal tem vontade de continuar. A dificuldade de se perceber que o limite do treino forte foi passado é a ausência de uma orientação profissional.
Como o corpo sente
"O estresse do sistema nervoso por questões hormonais é resultado do overtraining. Há uma reação de catabolismo (quebra de moléculas com o objetivo de fornecer energia) maior que a de anabolismo (regeneração do tecido). Você gasta mais do que compõe o tecido. As lesões acontecem porque o treino foi tão forte e frequente, que o corpo não tem tempo de se recuperar", informa Eduardo Netto.
Os sintomas são fáceis de se perceber: quadro constante de mudança de humor e irritabilidade; queda na qualidade do sono; fadiga constante; dor muscular, sensação de perda nos níveis de condicionamento físico;e baixa na imunidade.
FIQUE POR DENTRO
Repouso integra o processo de recuperação
Segundo o professor Franco Noce (UFMG), quando o overtraining acontece, muitas vezes o atleta é afastado do treinamento. Dependendo da intensidade do problema, essa situação tende a perdurar até por meses. Também pode haver o desligamento total da atividade (drop out) e levar o indivíduo a desenvolver transtornos de ansiedade, frustração e evoluir para quadros depressivos.
Para evitar chegar a esse ponto, o acompanhamento de um profissional de educação física e de uma equipe multidisciplinar é capaz de identificar possíveis excessos que o atleta cometa. No tratamento do overtraining, obrigatoriamente, o praticante deve reduzir o volume de treino consideravelmente. Quando a recuperação é obtida, deve-se cuidar para não cometer os mesmos erros.
"As pessoas querem se tornar atletas com uma velocidade muito grande. É comum o desejo de fazer uma maratona. Mas uma pessoa que é sedentária, para correr dessa forma, precisa de pelo menos um ano de treinamento. Não dá para ser um maratonista em três ou quatro meses. Aí é lesão e sobretreino com certeza", conclui Eduardo Netto.

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