terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Agora, a segunda onda de feridos-HAITI

Praticamente um mês depois do terremoto que devastou grande parte do Haiti, as equipes médicas mobilizadas em Porto Príncipe, a capital do país, estão lidando com uma nova onda de pacientes, que sofrem com ferimentos menos aparentes, mas também ligados à catástrofe de 12 de janeiro. Anne Setoute, 53 anos, por exemplo, não dorme há três dias devido a uma dor nas costas que a impede de respirar. Algo caiu em suas costas no dia do tremor. A casa onde morava desabou no terremoto, e ela hoje mora na rua.
Ao lado dela, Jean-Baptiste André, 55 anos, também está no hospital pela primeira vez. Ele não foi ferido no terremoto, mas sente os dois pés “quentes” e revela ter uma dor no estômago. “A primeira onda de feridos veio com traumatismos, fraturas e queimaduras. Desde a semana passada, voltamos a uma medicina mais clássica”, comenta Christian Riello, tenente-médico responsável pela unidade da segurança civil no hospital de Diquini, em Carrefour, na periferia oeste de Porto Príncipe. Hoje, além dos partos, as equipes médicas também tratam muitos bebês “que vivem em condições precárias de higiene”.
A notícia da presença de uma equipe médica internacional em um bairro se alastra muito rapidamente pelas ruas, e longas filas não demoram para se formar. Os feridos atendidos nos primeiros dias depois da tragédia aparecem agora para trocar os curativos e verificar a evolução dos problemas. Muitos se instalam nos jardins dos hospitais, sob as tendas dos chamados “serviços pós-operatórios”. Há ainda alguns feridos graves, que demoraram para vir ao hospital por não terem conseguido chegar antes à capital por seus próprios meios — mas eles são cada vez mais raros.
“O problema mais sério que temos agora são as infecções, principalmente as ligadas à falta de higiene ou a ferimentos que não cicatrizaram”, explica Danielle Laporte Chastes, 23 anos, enfermeira na República Dominicana que se tornou a coordenadora adjunta de um hospital móvel instalado em uma zona industrial de Porto Príncipe.
Outros problemas são as dores de barriga — como as de Jean-Baptiste André — ou nas costas, decorrentes de uma somatização da ansiedade provocada pela catástrofe e pelos múltiplos tremores secundários que se seguiram. “A primeira equipe de psicólogos cuidou principalmente dos socorristas”, admite Damien Deluz, psicólogo da segurança civil. “Nesse tipo de tragédia, a fase de choque inicial é seguida por uma etapa de estresse pós-traumático, quando a pressão começa a cair”, explica Deluz.
Em Diquini, pacientes com braços e pernas enfaixadas se amontoam em um caminhão. “Fiquei sabendo há uma hora que um cirurgião especialista em enxertos de pele estaria no hospital de Canapé Vert hoje à noite e amanhã, então, estou enviando o maior número possível de pessoas para lá. Essa é a chance da vida delas”, diz Riello.

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