domingo, 28 de fevereiro de 2010

A fábrica de orgãos

Embora transplantes de órgãos tenham se transformado em operações simples e frequentes, duas grandes questões persistem quando se fala sobre esse tipo de intervenção médica: a disponibilidade de doadores e o risco de rejeição que ocorre quando o organismo não reconhece a nova parte ligada a ele. Estudada pelos cientistas há alguns anos, a solução para ambos os problemas pode estar muito perto de se tornar realidade. Trata-se de uma máquina que poderia produzir novos tecidos e órgãos a partir das células de quem precisa deles. Na verdade, essa “impressora” finalmente está disponível para venda, a princípio, a grupos de pesquisa. Em breve, serão entregues os primeiros modelos fabricados em maior escala. Os pesquisadores interessados pagarão em torno de US$ 200 mil pela máquina, produzida pela americana Organovo, especializada em medicina regenerativa, e pela Inventech, companhia australiana de engenharia e automação. Um dos fundadores da Organovo é Gabor Forgacs, da Universidade do Missouri (EUA), que desenvolveu o primeiro protótipo da invenção e não está mais ligado à empresa – apesar de continuar pesquisando o assunto e ser uma das maiores autoridades do mundo nessa área. “O dispositivo criado por Forgacs estabeleceu a tecnologia que usamos agora”, diz Keith Murphy, presidente da Organovo.
“O aparelho atual utiliza o mesmo princípio, mas é mais rápido, tem alta capacidade de reprodução e possui calibragem a laser. Além disso, ele foi projetado para caber dentro de um armário de biossegurança, o que permite que qualquer laboratório possa usá-lo.” Hoje, quem faz esse tipo de estudo tem de adaptar instrumentos e máquinas já existentes. Apenas tecidos simples, como pele, músculo e partes de veias, serão criados – por enquanto, para pesquisas. Murphy espera, no entanto, que em cinco anos, quando mais estudos clínicos estiverem concluídos, as máquinas possam produzir vasos sanguíneos para enxerto em cirurgias do coração. Como o invento tem a capacidade de fazer tubos ramificados, ele poderia, por exemplo, fabricar redes de vasos necessárias para sustentar grandes órgãos, como coração e pulmões. Murphy se recusa a fazer previsões sobre a produção dessas partes do corpo. “Produzir órgãos é um objetivo de longo prazo. Não queremos especular um tempo específico para isso”, diz ele. O dispositivo funciona de forma similar às máquinas usadas na indústria de autopeças, por exemplo.Nos dois casos, elas trabalham como uma impressora comum, mas “imprimem” em três dimensões, depositando gotas de um composto químico que se unem para formar uma estrutura. A cada passagem da cabeça de impressão, responsável por lançar a substância, a base sobre a qual o objeto está sendo feito desce um degrau, formando-o aos poucos. Estruturas com espaços vazios e formas mais complexas podem ser criadas graças a um molde de material solúvel em água – feito pela impressora ao mesmo tempo que a própria peça. O detalhe é que a máquina de tecidos usa células humanas, em vez dos polímeros aplicados na indústria. Ao que tudo indica, não está distante o tempo em que, quando um órgão não funcionar bem, bastará encomendar um novo. E sob medida.

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