sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Maior desafio dos médicos é se manter atualizado

Estudo em cinco países da América Latina revela que baixa oferta de treinamentos impacta nos resultados do tratamento do paciente.Os avanços cada vez mais velozes na medicina obrigam os profissionais da saúde a buscar atualização constante. Pelo menos deveria ser assim, mas na prática as coisas são diferentes. Pesquisa da empresa médica Johnson & Johnson em parceria com o Instituto das Américas (organização que trabalha pela integração e desenvolvimento na América Latina) revela que se manter atualizado é um dos principais desafios para médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais da área.O levantamento envolveu 393 profissionais do Brasil, México, Ar­­gentina, Colômbia e Porto Rico e revela que 98% dos entrevistados consideram o treinamento importante ou muito importante para a utilização de novas técnicas. En­­tretanto, para 41% a oferta de treinamentos deixa a desejar em comparação com Estados Unidos ou Eu­­ro­­pa. Cerca de 72% dos desafios mencionados estão relacionados a treinamento e informações sobre técnicas médicas, entre eles a segurança no diagnóstico, a falta de técnicos capacitados e preparados, a dificuldade de entender a utilização racional do equipamento ou dis­­positivo e a dificuldade de conciliar o conhecimento técnico com o teórico.
O custo alto dos equipamentos, que se imaginava ser o principal desafio dos profissionais na América Latina, onde os recursos costumam ser escassos, principalmente na rede pública, apareceu em segundo lugar (19%). No Brasil, os resultados foram semelhantes. Cerca de 62% revelaram que o maior desafio é manter-se atualizado. Apenas 10% citaram os altos custos dos equipamentos.
Apesar dos problemas levantados, 93% dos profissionais consultados na pesquisa declararam participar com frequência de cursos de aperfeiçoamento e treinamento. A maioria, entretanto, limita-se a oportunidades no país. Apenas 49% conseguem participar de cursos e congressos no exterior. A pesquisa também constatou que o nível de interesse dos profissionais de saúde da América Latina por oportunidades internacionais de aprendizado é maior do que a participação efetiva. Nove entre dez entrevistados afirmaram ter interesse em trocar experiências com profissionais de outros países. Mas só 49% disseram participar de congressos e cursos no exterior.
“Apesar de os números serem bons, ainda estamos distantes do ideal. Os principais congressos e cursos de treinamento ocorrem em outros países e, principalmente para os brasileiros, é mais difícil participar devido aos custos e distância. O idioma também atrapalha. Para profissionais do México e Porto Rico, por exemplo, é mais comum participar de eventos internacionais”, explica o médico Almino Cardoso Ramos, representante do Instituto das Américas e doutor em cirurgia digestiva.
Para Ramos, o ideal é que os médicos passem por algum curso de reciclagem a cada quatro anos, no máximo. A atualização também é necessária para operar novos equipamentos ou aplicar novas tecnologias. “É preciso criar centros de aperfeiçoamento aqui no Brasil para que o médico não tenha necessidade de viajar a outro país. Temos condições de treinar nossos profissionais aqui mesmo.”Centro reúne todas as tecnologias num só lugar
Inaugurado no início deste mês, o Johnson & Johnson Medical Innovation Institute (Instituto de Inovação Médica da Johnson & Johnson) é o primeiro centro de treinamento da América Latina a reunir todas as tecnologias da área médica e cirúrgica em um só lugar. O Brasil foi escolhido para ser sede do instituto porque conta com a maior população do continente e o maior número de profissionais de saúde.
Segundo o diretor do centro, George Marques da Silva Filho, o Brasil é referência na realização de congressos médicos e respeitado pelos países vizinhos. “Acredita­mos, inclusive, que, com a abertura do instituto, pode haver uma migração de treinamento para dentro do país, poderemos desenvolver essa área”, explica. O centro não tem fins lucrativos e, a princípio, oferecerá os programas de atua­­lização gratuitamente a qualquer profissional de saúde, da área pública e privada. Com capacidade para 7 mil alunos por ano, já está com 4 mil vagas fechadas.
O Innovation Institute tem salas de cirurgia com simuladores de realidade virtual para videolaparoscopia e procedimentos cardiovasculares, o que permite aos coordenadores dos programas ensinar diferentes tipos de procedimentos. Os aparelhos funcionam da mesma forma que os simuladores de voo.
O local também oferece sala de cirurgia com integração de todos os equipamentos e permite que o cirurgião controle qualquer um por meio de tecnologia touch-screen (tela sensível ao toque) e comando de voz. Ainda é possível realizar a telemedicina, com médicos de qualquer parte do mundo, e há salas de aula interligadas e laboratórios para o treinamento de procedimentos abertos ou minimamente invasivos.
Como explica o cardiologista intervencionista Andrés Sanchez, existem apenas seis simuladores endovasculares na América La­­tina. “O uso desses simuladores é muito importante porque diminuem a curva de aprendizado do aluno. Também é uma técnica mais segura e que ainda diminui o uso de animais no treinamento das cirurgias”, diz.

Perfil
Quatro entre dez entrevistados na pesquisa são do Brasil e dois terços atuam na área de saúde há mais de 11 anos.
- Entre os profissionais entrevistados estão cirurgiões, patologistas, farmacêuticos e bioquímicos, cardiologistas, biomédicos, microbiólogos, bacteriologistas, enfermeiros, técnicos e hematologistas.
- Os países mais representados na amostra de 393 profissionais foram o Brasil, com 41% das entrevistas, e o México, com 25%.
- Cerca de 64% dos entrevistados têm entre 35 e 54 anos. Aproximadamente 74% estão na metade da carreira e atuam na área há mais de 11 anos.
- Cerca de um terço dos entrevistados declarou participar de cursos nacionais duas vezes por ano, enquanto 45,9% frequentam congressos internacionais uma vez por ano.

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