domingo, 19 de maio de 2013

As opções de Angelina

Fiel ao seu estilo polêmico, a atriz anuncia a retirada das mamas após exame genético e inspira mulheres no mundo todo

Por Natália Mestre
Uma das mulheres mais bonitas e desejadas do planeta, esposa do astro Brad Pitt, mãe de seis filhos, sendo três adotivos, ativista humanitária, destruidora de lares, bissexual assumida, com histórico de anorexia e depressão. São muitos os rótulos associados à vida e à carreira da atriz americana Angelina Jolie, 37 anos, alguns aparentemente contraditórios, que compõem uma personalidade rica e multifacetada, de uma celebridade que consegue ser, ao mesmo tempo, formadora de opinião, polêmica e vanguardista. Na terça-feira 14, a diva deu mais uma demonstração de sua veia rebelde e corajosa ao anunciar, em artigo no jornal “The New York Times”, intitulado “My medical choice” (Minha escolha médica, em tradução livre), que havia feito uma mastectomia dupla preventiva após ter se submetido a um teste genético que estimou um risco de 87% de ela ter câncer de mama e 50% de ovário. Jolie, que perdeu a mãe, Marcheline Bertrand, morta aos 56 anos vítima de um tumor no ovário, começa seu texto no “NYT” deixando claro que foi motivada pelos filhos, que perguntavam se a doença que levou a avó também poderia vitimá-la. “Sempre falei para não se preocuparem, mas, na verdade, carrego um gene ‘defeituoso’, o ‘BRCA1’, que aumenta abruptamente minha chances de desenvolver câncer de mama e ovário”, escreveu a atriz.
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Em questão de minutos, o artigo saltou para o topo da lista dos mais lidos e centenas de comentários, a grande maioria parabenizando a atriz pela decisão, invadiram as redes sociais. Angelina incorporava mais um predicado à sua já numerosa lista: o de voz combativa na luta contra o câncer e pela valorização da saúde feminina. “Acho uma atitude de coragem e inteligência que vem favorecer as mulheres que passam por esse drama”, afirmou a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da Universidade de São Paulo (USP). “O seio é uma representação simbólica da vida e, de certa forma, é algo paradoxal relacioná-lo com doença e morte. Por isso a ideia de removê-lo é tão assustadora.” Com seu gesto radical, a esposa de Brad Pitt se tornou um exemplo. Segundo especialistas em comportamento, ela passou a mensagem de que, diante de uma situação difícil, o pior a fazer é se deprimir e se entregar e a melhor saída é buscar uma solução efetiva para os problemas. De fato, a atriz classificou a sua decisão como uma das mais difíceis de sua vida. Também não poupou os detalhes das etapas médicas pelas quais passou.
Segundo a médica americana Kristi Funk, do Pink Lotus Breast Center, a clínica em Beverly Hills (Los Angeles) que cuidou da estrela, a atriz já estava em pé apenas quatro dias depois da operação, às voltas com seu novo projeto cinematográfico. “Acho que a recuperação é reflexo da expectativa. Angelina esperava se sentir bem e estar ativa”, afirmou Kristi. Brad Pitt esteve com a mulher durante todo o processo e derreteu-se em elogios à esposa. “Ela poderia ter mantido tudo em sigilo e não acredito que alguém iria perceber, diante de resultados tão bons. Mas era realmente importante para ela compartilhar essa história, pois assim as outras pessoas iriam entender que isso não precisa ser uma coisa assustadora”, disse. O astro ainda revelou sua admiração pela força de Angelina, uma vez que ela manteve os seus compromissos nos últimos meses, como a visita ao Congo e a Conferência dos Ministros das Relações Exteriores do G-8, em Nova York. “Isso foi durante o estágio 2 (quando a mastectomia foi realizada).”
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Ao expor a sua decisão pela mastectomia preventiva, Angelina também abriu caminhos para uma discussão de âmbito mundial sobre a possibilidade de prevenir o câncer de forma efetiva. Desde o seu anúncio, mulheres de todos os continentes pararam para pensar no assunto. “O caso de Angelina mexeu com todo mundo”, afirmou o mastologista Henrique Alberto Pasqualette, diretor do Centro de Diagnóstico da Mulher (Cepem) do Rio de Janeiro. Desde então, pacientes de Pasqualette e de tantos outros médicos perguntaram se precisavam se submeter à cirurgia. “Mas é preciso informar que esse procedimento não é indicado para todos”, disse. Na quinta-feira 16, inspirada pela declaração de Jolie, a atual Miss Columbia (EUA), Allyn Rose, uma bela modelo e advogada de 25 anos, veio a público declarar que também fará uma mastectomia preventiva após a escolha da próxima Miss Columbia, em junho deste ano. “No início eu era contra a cirurgia, mas o tempo corre para mim”, disse Allyn, cuja mãe, que morreu por causa da doença, foi diagnosticada com câncer aos 27 anos. “Angelina deixou claro que a saúde é mais importante que a estética e que não liga para os padrões convencionais de beleza, e isso é muito positivo para as mulheres”, afirmou Noely Moraes, professora de relações de gênero do departamento de psicologia social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Não é de hoje que Angelina demonstra um certo descaso para os padrões. Ela nunca teve medo de assumir os seus atos e expor as suas fragilidades. Nunca escondeu, por exemplo, o relacionamento conturbado com o pai, o ator John Voight. Desde que ele saiu de casa, quando ela tinha 2 anos, os dois vivem em pé de guerra, com brigas e tumultos constantes. Segundo a biografia “Angelina Jolie – A história Jamais Contada da Superstar Que Ousou Ter Tudo”, da jornalista Rhona Mercer, a atriz foi uma criança exótica. Tinha um lagarto e uma cobra de estimação, colecionava armas e facas e estudou artes mortuárias. Nascida em Los Angeles, a futura superstar se mudou para Nova York para cursar artes cênicas no Lee Strasberg Theatre Institute e na Universidade de Nova York, onde começou a atuar em produções teatrais de pequeno porte. Na época, tinha pensamentos de suicídio recorrentes, tendo chegado a contratar um pistoleiro para matá-la, segundo declarou à revista “Rolling Stone” em 1999.
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Todo desgosto decorria da carreira, que não decolava. Para sua sorte, foi escalada para viver a viciada Gia Garangi, no filme “Gia – Fama e Destruição”. Pelo seu desempenho, foi convidada para atuar em “Garota, Interrompida”, que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz coadjuvante e enorme projeção. Durante a cerimônia de premiação, em 2000, ela declarou que o irmão James Haven Voight era o amor da sua vida e, depois, deu-lhe um beijo na boca. Nessa época, também assumiu ter usado todos os tipos de drogas. Por inúmeras vezes foi apontada como anoréxica e depressiva. Mesmo assim, se tornou símbolo sexual ao interpretar Lara Croft, da saga “Tomb Raider”.
A vida amorosa foi tão conturbada quanto. Casou-se com os atores Jonny Lee Miller e Billy Bob Thornton – de quem usava o famoso pingente com sangue. Bissexual assumida, foi namorada da modelo Jenny Shimizu durante dez anos e existem rumores de que esse caso nunca tenha terminado. Em 2005, conheceu Brad Pitt nas filmagens de “Mr. e Mrs. Smith”. Ela já era mãe adotiva de Maddox e, com Pitt, adotou mais dois, Pax, e Zahara, e teve três filhos biológicos, Shiloh, Knox e Vivienne. Vivem o modelo da família feliz e defensora das causas humanitárias. Uma realidade bem distante daquela quando Angelina era chamada de destruidora de lares, acusada de ter sido o pivô da separação do galã da atriz Jennifer Aniston. Agora, ela é a mulher que declara: “Meus filhos sabem que eu os amo e farei tudo que estiver ao meu alcance para ficar o máximo de tempo possível com eles.” Pelo menos, essa é a versão atual da maior celebridade do mundo de hoje.

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