Pesquisa revela como a exposição aos raios solares pode se tornar um vício. Especialistas alertam para a necessidade da busca de auxílio psicológico para controlar a tendência
Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
Você não sai da
praia antes do último raio de sol? Responda rápido se faz isso porque
deseja dourar a pele a qualquer preço ou porque os raios solares
melhoram o seu humor e proporcionam bem-estar inigualável. Se escolher a
segunda opção, saiba que cientistas da Escola Médica da Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos, estão estudando casos como o seu. Eles
acreditam que esse comportamento reúne os ingredientes para ser
considerado uma espécie de dependência química. O mais recente trabalho a
esse respeito foi publicado pela revista americana “Cell”. “O estudo,
feito com animais, tinha o objetivo de entender os mecanismos
subjacentes a essa necessidade biológica por doses maiores de sol”,
esclarece o pesquisador David Fisher, que liderou a pesquisa.

O pesquisador e sua equipe expuseram
cobaias à radiação ultravioleta por seis semanas. A intensidade dos
raios foi calculada para simular a exposição de uma pessoa de pele clara
por até 30 minutos ao sol do meio-dia da Flórida (EUA), durante o
verão. “Já na primeira semana, constatamos um aumento dos níveis
sanguíneos de endorfina”, conta o pesquisador. As endorfinas são
hormônios naturais do organismo que atuam nas mesmas vias que as drogas
opioides (como a morfina), gerando bem-estar e analgesia. Além disso, a
exposição aos raios UV levou as caudas dos animais a enrijecer e
levantar, uma reação conhecida como cauda de Straub e observada quando
os ratos recebem drogas opioides. Ao final das seis semanas, os animais
tomaram remédios para bloquear a liberação de endorfinas e permitir que
os níveis da substância no organismo voltassem ao normal. Nesse período,
tiveram sintomas de abstinência, como agitação e tremores.
Pesquisas anteriores já haviam revelado que
a luz solar desencadeia a produção de endorfinas, assim como o
exercício, sexo e chocolate. Mas ainda são necessários mais estudos para
determinar o alcance do problema. “É uma informação nova que precisa
ser aprofundada. Atualmente, estima-se que 10% da população apresenta
predisposição a um comportamento de dependência do sol”, diz o
dermatologista Omar Lupi, professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e vice-presidente do Colégio Ibero-Latinoamericano de
Dermatologia. Especula-se também sobre a possibilidade de haver mais de
uma razão para o vício em sol. Existiriam tanto pessoas dependentes do
aumento da endorfina como indivíduos com transtornos de imagem que
recorrem ao bronzeamento excessivo para disfarçar falhas físicas (como a
acne ou o tamanho das coxas).

EXCESSO
Na visão dos estudiosos, Paris Hilton e Cristina Aguillera,
sempre bronzeadas, estão na categoria de risco

Todos esses achados podem ter impacto nas
campanhas educativas contra o câncer de pele. “Nossos resultados sugerem
que a decisão de proteger a nossa pele ou a pele de nossos filhos pode
exigir um esforço consciente”, alerta o americano Fisher. “Essas pessoas
agem como adictos e talvez precisem de apoio para mudar de hábitos”,
diz Lupi, do Rio de Janeiro.
De acordo com o Skin Cancer Foundation,
mais de 3,5 milhões de cânceres de pele são diagnosticados em mais de
dois milhões de pessoas a cada ano nos Estados Unidos. Aproximadamente
86% dos casos de tumores do tipo melanoma, o mais agressivo dos tumores
de pele, são causados pela exposição aos raios solares ou à radiação de
câmaras de bronzeamento.

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