Pesquisas comprovam que o consumo regular de alimentos como amoras, morangos e mirtilo melhora o raciocínio, a memória e protege os neurônios
Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
As falhas de
memória e o declínio gradual de outras habilidades cognitivas associados
ao envelhecimento estão no alto da lista de prioridades de institutos
de pesquisa em saúde. Por isso, países como os Estados Unidos e o Canadá
estão investigando novas abordagens para preservar o cérebro desse
desgaste. Uma das estratégias mais eficientes pode ser adicionar porções
de frutas vermelhas à mesa, de modo que passem a fazer parte da rotina
alimentar. Grandes estudos sobre os efeitos dessa escolha estão em
andamento pelo mundo. E se os primeiros trabalhos preocupavam-se em
comprovar os benefícios das amoras, dos morangos e de outras frutas
vermelhas ou arroxeadas (como o açaí e a jabuticaba), os que estão sendo
executados agora procuram compreender os mecanismos moleculares pelos
quais elas conseguem defender o cérebro. Uma das linhas de pesquisa mais
recentes e promissoras busca desvendar a ação das antocianinas,
substâncias pertencentes à família dos flavonoides. Eles são alguns dos
compostos encontrados nessas frutinhas, com ação no combate ao processo
de inflamação crônica que prejudica as funções cognitivas e acelera o
envelhecimento do corpo todo. “As antocianinas atravessam a barreira
hematoencefálica e, desse modo, penetram até o núcleo das células. Ali
modificam a atividade de genes que regulam a produção de enzimas
anti-inflamatórias, entre outros”, explica Franco Lajolo, diretor do
Núcleo de Apoio à Pesquisa de Alimentos e Nutrição da Universidade de
São Paulo (USP) e o pesquisador principal do Food Research Center,
projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo voltado à
inovação. A barreira mencionada por Lajolo é uma membrana que restringe a
passagem de substâncias da corrente sanguínea para as estruturas
cerebrais, o que garante a função metabólica normal do órgão.

AÇÃO
O cientista canadense Weber investiga como mirtilos
protegem os neurônios de danos após lesões
Recentemente, estudos sobre o papel das
berries (nome dado ao conjunto das frutinhas vermelhas mundo afora)
capturaram a atenção dos especialistas. Um deles está em andamento na
Harvard Medical School, em parceria com o Brigham and Women’s Hospital,
duas instituições americanas. A equipe avaliou dados obtidos por um
levantamento iniciado em 1976 sobre a saúde e o estilo de vida de 121,7
mil enfermeiras com idade entre 30 e 55 anos. Entre 1995 e 2001, a
função cognitiva de 16.010 dessas mulheres, selecionadas por, àquela
altura, terem idade superior a 70 anos, foi medida a cada dois anos. O
grupo concluiu que as participantes que consumiam uma a duas porções de
morangos e mirtilos por semana tinham taxa mais lenta de decréscimo da
memória. E que as que comiam mais do que isso apresentavam menor
declínio. “Ricas em flavonoides, especialmente antocianinas, as berries
melhoram a cognição em estudos experimentais”, afirma a epidemiologista
Elizabeth Devore, que lidera pesquisas nesse campo nas duas instituições
americanas e organiza um seminário para 2015 sobre essas frutas.
No Canadá, John Weber, da Memorial School
of Pharmacy, investiga o potencial de amoras e mirtilos para preservar
da morte as células neuronais de pessoas que sofreram traumatismo. De
acordo com Weber, o cérebro contém compostos antioxidantes para combater
os radicais livres, mas a produção dessas substâncias nocivas aumenta
após lesões cranioencefálicas ou acidente vascular cerebral e pode levar
a danos rapidamente. Sua esperança é que o consumo de quantidades
adequadas de flavonoides funcione como uma espécie de escudo protetor
das células cerebrais. “Em laboratório, vimos que o dano celular foi
drasticamente reduzido ao ministrarmos extratos de várias frutas
vermelhas”, diz.

BENEFÍCIO
Composto presente na cereja ajuda no combate à inflamação
Os flavonoides têm ação em todas as células
do corpo. Está previsto para o início de 2015, por exemplo, um estudo
de pesquisadores canadenses e da USP para avaliar o impacto dos
flavonoides na produção de insulina, o hormônio que conduz a glicose do
sangue para dentro das células. “Temos projetos para investigar esses
compostos nas cascatas de sinalização do pâncreas”, diz Lajolo. O
pâncreas é o órgão onde estão as células que produzem a insulina. Resta
ainda o desafio de definir a quantidade necessária à mesa todos os dias
para preservar o cérebro. Estudos sugerem que pequenas quantidades já
produzem efeitos. Lajolo, porém, é cauteloso. “Sugiro comer,
diariamente, cinco porções de vegetais e frutas variadas para o maior
aproveitamento de substâncias protetoras”, diz o cientista.

Fotos: TPG-Images/AGB Photo; Rafael Hupsel
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