sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Em estudo internacional, Brasil avalia casais gays em que um tem HIV

Pesquisa acompanha 234 casais do Brasil, Austrália e Tailândia.
Objetivo é descobrir se uso de antirretroviral impede transmissão do vírus.

Mariana Lenharo Do G1, em São Paulo
Estudo internacional com participação do Brasil avaliou casais de homens gays em que um dos dois tinha HIV (Foto: Gary John Norman/Cultura Creative)Estudo internacional com participação do Brasil avaliou casais de homens gays em que um dos dois tinha HIV (Foto: Gary John Norman/Cultura Creative)
Um estudo internacional do qual o Brasil faz parte está avaliando como se dá a transmissão de HIV em casais formados por homens gays sorodiscordantes, ou seja, em que um tem HIV e o outro não.  A pesquisa, financiada pela Fundação para a Pesquisa da Aids (amfAR), é especialmente importante no Brasil na medida em que a epidemia no país é concentrada em populações-chave, entre elas a de homens que fazem sexo com homens.
Resultados preliminares da pesquisa, apresentados esta semana na Conferência de Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Seattle, nos Estados Unidos, mostram que em pacientes em tratamento e com carga viral considerada indetectável (aqueles que têm no sangue menos de 200 cópias do vírus por ml), o risco de transmissão do vírus para o parceiro, mesmo em caso de sexo anal sem camisinha, pode variar de zero a apenas 4,2% ao ano.
"Este é um resultado empolgante e fornece mais evidências para adicionar às de estudos anteriores de que a transmissão de HIV, quando a carga viral de alguém é indetectável, é bastante improvável", diz o texto divulgado pelos pesquisadores no evento.
Opostos se atraem
A pesquisa, chamada “Os Opostos se Atraem”, é liderada pelo Instituto Kirby, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália. No Brasil, o estudo está sendo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec). Dos 234 casais recrutados até dezembro, 135 são da Austrália, 52 são de Bangkok e 47 do Rio de Janeiro.
Cientistas conseguiram fazer HIV sair de 'esconderijo' para combatê-lo (Foto: SKU/Science Photo Library) Concepção artística do vírus HIV: em casos em que
o HIV estava indetectável no organismo do
soropositivo, risco de infectar o parceiro variou de
zero a 4,2% (Foto: SKU/Science Photo Library)
Segundo a pesquisadora Beatriz Grinsztejn, diretora do Laboratório de Pesquisa Clínica DST/Aids do Ipec, que lidera o estudo no país, voluntários ainda estão sendo recrutados. O objetivo é que até 70 casais brasileiros participem do estudo.
Além de verificar como se dá a transmissão de HIV nesses casais, a pesquisa pretende avaliar como os homens lidam com a situação da carga viral indetectável em relação ao uso do preservativo (se eles abrem mão ou mantém o uso da camisinha nessa situação), segundo Beatriz. E também analisar se a presença de outras doenças sexualmente transmissíveis impacta na transmissão do HIV.
Durante o período de um ano no qual os casais participantes foram acompanhados, nenhum soronegativo contraiu HIV de seu parceiro soropositivo. Entre os soropositivos, 84% estava tomando antirretrovirais e 83% tinham carga viral indetectável. 58% dos casais relataram fazer sexo anal sem camisinha às vezes ou sempre.
Os pesquisadores destacam que os resultados ainda são preliminares e que a recomendação é que o preservativo seja usado em todas as relações sexuais.
Em casais heterossexuais
Um estudo anterior, feito em casais heterossexuais sorodiscordantes, mostrou que quando o parceiro soropositivo está tomando antirretrovirais, o risco de transmitir HIV para o parceiro soronegativo é reduzido em 96%.
O estudo é particularmente importante para o Brasil porque o país tem uma epidemia que não é generalizada, é concentrada em populações-chave para as quais se precisa avaliar novas medidas de prevenção"
Beatriz Grinsztejn, Instituto Evandro Chagas
Segundo Beatriz, avaliar essa relação em casais de homens gays “é extremamente importante porque a transmissão através da mucosa anal é muito mais eficiente do que transmissão pela mucosa vaginal”. Por isso havia o temor de que o impacto do tratamento na transmissão da doença fosse diferente entre os homossexuais.
A pesquisadora destaca que este é o primeiro projeto de pesquisa financiado pela amfAR no Brasil. Para o presidente-executivo e diretor da amfAR, Kevin Robert Frost, os resultados do estudo podem levar a ações de combate à doença mais eficazes no Brasil.
"A epidemia de Aids no Brasil está desproporcionalmente concentrada entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, e a redução da propagação e do impacto do HIV nessa população chave exigirá que programemos intervenções que são verdadeiramente eficazes", diz Frost.
Casais gays sorodiscordantes que vivam no Rio de Janeiro e que tenham interesse em se informar sobre como participar do estudo podem ligar grátis para 9090 (21) 2260-6700.

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