Pela primeira vez, estudos científicos
identificam os prejuízos à saúde da pele causados pela falta de sono.
Entre eles estão a maior quantidade de rugas e a baixa capacidade de
manter bons níveis de hidratação
Cilene Pereira
Nos primeiros estudos do gênero feitos
até hoje, pesquisadores americanos confirmaram a antiga suspeita de que
dormir mal danifica a pele. Um dos trabalhos foi realizado pela
University Hospitals Case Medical Center, nos Estados Unidos. Os
cientistas constataram que poucas horas de sono ou um repouso de
qualidade ruim aumentam a velocidade da formação de rugas e a quantidade
de manchas e reduzem de forma significativa a capacidade de a cútis se
proteger e de se recuperar da agressão de fatores como a poluição.
Coordenado pela pesquisadora Elma Baron, o trabalho foi apresentado no
Encontro Internacional de Dermatologia Investigativa, realizado
recentemente em Edimburgo, na Escócia. “Nossa pesquisa é pioneira em
demonstrar de maneira conclusiva que o sono inadequado está relacionado à
má saúde da pele e ao seu envelhecimento precoce”, afirmou Elma.
REFLEXOS
Elma (à frente) avalia a coloração das olheiras formadas pelo
pouco sono em participante de uma das pesquisas
A médica e sua equipe avaliaram as condições de pele e de sono de 60
mulheres com idades entre 30 e 49 anos. Metade delas apresentava uma má
qualidade de sono. Os pesquisadores encontraram diferenças importantes
entre as que dormiam bem e aquelas que não desfrutam de um bom descanso.
Esse segundo grupo apresentava maior quantidade de rugas, manchas e
diminuição da elasticidade da pele, o que resulta em maior flacidez.
Além disso, a cútis dessas mulheres manifestava menor capacidade de
recuperação de agentes estressores. Sua regeneração após exposição solar
sem proteção levou mais de 72 horas, indicando que a inflamação
instalada não foi combatida de forma eficiente. Outra constatação: a
habilidade de manter a hidratação foi 30% maior na pele das
participantes que dormiam bem.
A outra investigação a respeito do impacto do sono para a aparência
foi conduzida na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Também de
forma pioneira, os pesquisadores demonstraram os benefícios para esse
fim do tratamento da apneia do sono. A doença é caracterizada por ronco e
pela interrupção súbita e passageira da respiração durante o sono. Além
de estar relacionada a problemas cardíacos e maior risco de cansaço,
falta de concentração e de irritação nos dias seguintes, a enfermidade
também pode imprimir um aspecto mais pesado ao semblante.
Os cientistas, especializados no tratamento de doenças do sono,
decidiram comprovar a impressão que tinham quando se deparavam com
pacientes tratados corretamente. “Eles sempre nos pareciam muito mais
saudáveis”, disse à ISTOÉ Ronald Chervin, diretor do Centro de
Distúrbios do Sono da universidade americana. Os pesquisadores avaliaram
as mudanças na aparência de 20 pacientes meses após o início do
tratamento, que consistiu no uso regular – e em casa – de um aparelho
que mantém constante o fluxo de oxigênio durante o sono. Para analisar
as transformações, eles utilizaram recursos da cirurgia plástica (como
uma espécie de mapeamento digital da face para a identificação de
irregularidades na pele) e também contaram com as opiniões de 22 pessoas
convidadas a apreciar as fotos dos participantes antes e depois do uso
do equipamento sem que soubessem quando as imagens eram anteriores ou
posteriores ao tratamento.
Nos exames mais precisos, a melhora na qualidade da pele foi notável.
A testa, por exemplo, estava menos inchada e a tonalidade da pele,
menos avermelhada. E, em 75% das vezes, os convidados apontaram que os
pacientes, após o tratamento, pareciam mais alertas, jovens e atraentes.
Os pesquisadores pretendem usar os resultados para estimular os
portadores da doença a aderir ao tratamento. Há uma dificuldade em fazer
com que o paciente use o aparelho (uma máscara), apontado como algo
desconfortável. “Queremos que eles saibam que há outros benefícios, além
da melhora na qualidade do sono”, completou à ISTOÉ.
Os cientistas irão aprofundar as investigações para descobrir de que
forma a falta de sono traz esse tipo de dano a pele. Mas eles já têm
algumas hipóteses. “Dormir mal pode induzir o surgimento de estresse
oxidativo na pele ou torná-la menos capaz de se defender dele”, disse à
ISTOÉ Elma Baron. A cientista se refere a um fenômeno já descrito pela
ciência e associado a danos no material genético das células e ao seu
envelhecimento precoce. A pesquisadora recomenda que os indivíduos
tenham entre sete e nove horas de sono por noite. “Mas, se isso não for
possível, as pessoas podem recorrer a produtos com propriedade
antioxidante e também se proteger diariamente usando filtro solar.”
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