domingo, 8 de setembro de 2013

Unidos emagreceremos!

Apoio da família na reeducação alimentar de uma criança com sobrepeso é a chave para o sucesso do tratamento
  Amanda Milléo Foi-se o tempo que ser gordinho era sinônimo de criança saudável. E o apoio da família ao tratamento da obesidade infantil é a chave para combater os quilos a mais. Caso contrário, os pais tornam-se os maiores sabotadores dos filhos, alertam os especialistas. Afinal, mudar o que a genética predispõe não é tarefa de uma pessoa só, ainda mais quando se é criança.
Doze meses é o período máximo que uma criança normalmente fica em tratamento contra a obesidade, quando a família toda assume o compromisso. “No consultório, percebo que a criança segue tudo à risca. Quem costuma sabotar são os pais. Por isso, o tratamento tem dois momentos: com a criança, para modificar o comportamento alimentar, e depois com os pais, orientando a seguirem a dieta. A mãe tem de sumir com as guloseimas. Não dá certo ter bolacha em casa para outra criança mais magra ou ter refrigerante para toda a família”, diz a psicóloga clínica e especialista em obesidade e transtorno alimentar Denise Cerqueira Leite Heller.
Henry Milléo / Gazeta do Povo / Eduarda Taborda, de 9 anos, disse adeus aos quilos a mais graças a uma alimentação saudável e a aulas de judô e natação
Henry Milléo / Gazeta do Povo
 
Eduarda Taborda, de 9 anos, disse adeus aos quilos a mais graças a uma alimentação saudável e a aulas de judô e natação
Mitos e verdades
A obesidade infantil gera muitas dúvidas e conclusões equivocadas, segundo o nutrólogo pediátrico da Abran Carlos Alberto Nogueira de Almeida:
Crescer emagrece
Se a afirmação fosse verdadeira, ao final da adolescência todas as crianças obesas teriam crescido e emagrecido, mas isso não acontece.
A culpa é da avó
A obesidade tem um fator genético importante, portanto a culpa não é de uma pessoa ou de outra. O caso é de definir responsabilidades para a alimentação e exercícios físicos da criança.
Vitamina engorda
Quando receitadas por médicos, as vitaminas são nutrientes ingeridos em tão pequena quantidade que não engordariam alguém.
Criança obesa é preguiçosa
Para a criança obesa às vezes é muito difícil realizar certas atividades físicas, como correr ou saltar, deixando a impressão de que são preguiçosas.
Emagrecer é perder peso
Emagrecer é perder gordura. A criança pode ganhar peso porque cresceu ou porque está fazendo mais exercícios e aumentando a massa muscular.
Fruta não engorda
Quase todos os alimentos engordam. Tudo depende da quantidade que se come. Algumas frutas são ricas em açúcar (frutose) e, se ingeridas em excesso, ajudam a engordar.
Quem emagrece engorda de novo
Depois de mudar seu estilo de vida (exercitando-se e comendo menos), emagrece. Mas, se depois ela volta a ser sedentária e comer em excesso, voltará a engordar.
Para emagrecer é preciso eliminar os doces
Não é necessário tirar os doces da alimentação para emagrecer. Basta controlar a quantidade e a frequência das refeições.
Crianças obesas são mais alegres
O papel de gordinho feliz é mais bem aceito pelo grupo social. Mas afirmar que toda criança obesa é feliz, não é uma realidade.
Fique atento
Ponha em prática algumas ações simples que podem melhorar a rotina das refeições e dos exercícios físicos de toda a família:
• Os televisores devem ser desligados na hora das refeições: sem distração, o momento de comer é voltado para a degustação.
• Os alimentos devem ser bem mastigados: para dar o tempo adequado ao organismo sentir quando é hora de parar de comer.
• Ordem de apresentação dos alimentos: primeiro a salada, depois legumes e proteínas, por último os carboidratos. Quando deixados por último, as crianças acabam comendo menos.
• Fim de semana de exercícios físicos: sábado e domingo de caminhada no parque, andar de bicicleta, jogar vôlei com a família ou qualquer outro jogo que incentive e mostre a atividade física como algo positivo e divertido.
• Nada de comida como prêmio ou para acalmar a criança: essas atitudes acabam pré-dispondo o indivíduo ao sobrepeso.
NÚMERO
12 vezes é o mínimo de vezes que a criança deve ser apresentada ao alimento para que definitivamente decida se gosta ou não.
A imposição de limites é essencial e a comida não deve ser usada como forma de acalmar a criança, conforme explica o diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Carlos Alberto Nogueira de Almeida. “Se a família, toda vez que a criança faz birra, oferece um doce para parar, esse comportamento predispõe à obesidade.”
Para mudar
Tentar compreender os pensamentos da criança com sobrepeso é um fator importante no tratamento. “Gordinhos não falam, comem. A psicóloga ensina a criança a ser assertiva, a desenvolver a capacidade de falar o que está pensando e sentindo. Os pais não sabem o que faz a criança buscar a comida. Quando pergunto para eles se sabem que o filho come quando está triste, quando está com raiva, eles desconhecem esta dinâmica”, comenta a psicóloga.
A renovação do cardápio diário pode ser uma etapa mais fácil de ser administrada em casa. O problema maior, segundo especialistas, está em achar tempo para levar o filho às atividades físicas. “As crianças de hoje não têm ninguém com paciência para levá-las às aulas de dança, de vôlei, de futebol. Elas não podem sair andar de bicicleta na rua porque a violência é muito grande e acabam presas na frente da tevê”, diz a psicóloga Denise Heller, assinalando ser comum que os pais desenvolvam, por esse motivo, um sentimento de culpa.
Conscientizar a família e fazer com que todos estejam de acordo com as pequenas e constantes mudanças é um longo processo. “Quando a mãe vem à consulta com o filho, nem sempre está pronta para assumir as mudanças. Às vezes ela passa a responsabilidade ao filho, mas não percebe que ela tem papel fundamental na questão. A criança ou adolescente precisa de regras e de apoio”, diz a nutricionista e professora do curso de Nutrição da PUCPR Caroline Filla Rosaneli.
Reflexão
Gordinho, fofinho, obeso?
A cultura do brasileiro ainda teima em acreditar que a criança acima do peso esbanja saúde, quando na ­­realidade a obesidade ­­tornou-se uma doença crônica entre adultos. De acordo com dados do Institudo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país, 49% das pessoas com 20 anos ou mais estavam acima do peso em 2010 e 15% estavam obesos. Com relação às crianças entre 5 e 9 anos, um em cada três (33,5%) tem excesso de peso e 14,3% são obesas. Normalmente, de acordo com a nutricionista clínica Luciana Papp, é o pediatra quem identifica se a criança apresenta indícios de desenvolver a obesidade, por meio das curvas de crescimento. “Tudo é levado em consideração. A descendência da criança, o porte físico, a altura. Tudo é avaliado com muito cuidado”, indica.
Cardápio sempre natural
A família da massoterapeuta Helena Taborda sempre foi adepta do estilo de vida saudável. Avessos aos fast ­­foods, eles preferem comida caseira, com muita salada e evitam ao máximo o refrigerante. Por isso, o sobrepeso da filha Eduarda, de 9 anos, veio como uma surpresa para Helena. “Um pouco é genético. A gente faz tudo de acordo, mas sempre dá para melhorar. Trocamos o arroz normal pelo integral, comemos mais vegetais cozidos e, de sobremesa, frutas”, comenta. A experiência com sobrepeso é familiar a Helena, que não quer o mesmo para a filha e a incentiva a praticar exercícios. “Ainda nos batemos para levá-la ao judô e a natação por causa da falta de tempo, mas ela gosta muito. Por isso, fazemos um esforço”, relata.

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