Sedentários que começaram a praticar exercícios com regularidade depois dos 50 anos mostram que é possível enfrentar a terceira idade com vigor físico e qualidade de vida
JOSÉ EDUARDO BARELLA - O Estado de S.Paulo
Daphinis
de Lauro, de 88 anos, Mitiko Nakatani, de 80, e Ivone Ramos, de 70, são
bisavôs saudáveis e de bem com a vida. Eles trilharam caminhos
parecidos até atingir um vigor invejável para pessoas da terceira idade -
abandonaram o sedentarismo depois dos 50 anos, abraçaram uma atividade
física e não pararam mais. Daphinis participa de campeonatos de natação
há 13 anos. Mitiko, uma celebridade entre os corredores de rua, disputa
provas há 23. Ivone começou a treinar natação 18 anos atrás, mas nos
últimos 2 migrou para as corridas de rua. A receita dos atletas bisavôs
inclui uma rígida rotina de treinos cinco vezes por semana, alimentação
controlada e uma constatação: nunca é tarde para começar.
Razões
não faltam para cair na malhação. Estudo divulgado neste ano pela
Universidade Harvard, nos Estados Unidos, indica que o sedentarismo
estava relacionado a 5,3 milhões de mortes no mundo em 2008, pelo fato
de ser um facilitador do desenvolvimento de diabete, hipertensão,
obesidade e até determinados tipos de câncer. O número representa 9% das
mortes anuais causadas por doenças crônicas não transmissíveis do
planeta, perdendo apenas para o tabagismo.

Segundo
Sandra, o corpo começa perder o vigor a partir dos 30 anos. Entre os 50
e 60 anos, a perda de massa muscular é acentuada, principalmente nos
membros inferiores, afetando as articulações e o equilíbrio. A atividade
física nessa faixa etária fortalece o sistema cardiovascular e combate a
osteoporose. "Praticar exercícios é como fazer uma "poupança" da saúde
do corpo", diz.
A
maioria, porém, só passa a se mexer quando as doenças crônicas começam a
se manifestar. Foi o que aconteceu com Mitiko. Até os 54 anos, ela
vivia à base de remédios e calmantes para aplacar as dores nas costas e
as crises de hipertensão que tornavam sua vida um inferno. Por
recomendação médica, começou a caminhar. No início, uma volta no
quarteirão por dia. Aos poucos foi aumentando a distância até que alguém
sugeriu que começasse a correr. Indicada por um sobrinho, passou a
treinar com o técnico Wanderlei de Oliveira, um dos maiores
especialistas do País. Mitiko tinha na época 57 anos. "O efeito mais
visível no início foi a melhora da autoestima", diz Oliveira. "Ela
ajudou a derrubar o mito de que a idade é um fator limítrofe para a
prática de atividade física."
Mitiko
diz que enfrentou preconceito. "Quando comecei a treinar em pista, os
jovens diziam que eu atrapalhava, que ali não era lugar para uma idosa",
conta.
Com
acompanhamento, ela entrou no circuito de provas de pista e de rua (3
km, 5 km e 10 km) que a credenciou a voos mais altos. Das três maratonas
internacionais que disputou, venceu duas na sua faixa etária. Seu
currículo inclui o bicampeonato mundial master, dez vitórias
consecutivas na tradicional prova da São Silvestre e o recorde
brasileiro dos 800, 1.500 e 3.000 metros. Além de treinos técnicos,
Mitiko - um casal de filhos, três netos e um bisneto - faz musculação e
hidroginástica. No ano que vem, ela pretende abocanhar o tri do mundial
master, que será disputado no Brasil.
Ivone
tinha 51 anos quando começou a praticar exercícios, também por
necessidade. Mas aproveitou o conselho do médico vascular de incluir a
natação no tratamento de varizes para lançar um desafio a si própria: o
de aprender a nadar. "Queria usar a piscina de meu filho e não podia,
pois era funda", conta. "Fiquei um ano tendo aulas num tanquinho.
Aprendi e, quando tive segurança, parti para o treinamento sério."
Em
pouco tempo, Ivone passou a competir em torneios master de natação,
acumulando vitórias e recordes pessoais durante 17 anos. Sua rotina
incluía musculação e esteira. Em busca de novos desafios, decidiu trocar
a natação pela corrida de rua. Em dois anos, já completou cinco meias
maratonas - na última delas, há um mês, foi a campeã na sua faixa
etária. Mãe de um casal de filhos, Ivone tem cinco netos e dois
bisnetos. Aparenta bem menos a idade que tem, treina seis vezes por
semana - dois deles na piscina - e reclama que é a única da família que
pratica exercícios. "Falei para o meu filho, que acaba de fazer 52 anos,
que comecei na idade dele. Ainda dá."
Carga.
Daphinis praticou atletismo na juventude, mas caiu no sedentarismo
depois que começou a trabalhar como autônomo. Ele só saiu da mesmice aos
56 anos, quando passou a nadar à noite numa academia perto de casa, sem
maiores pretensões ou acompanhamento. Aos 75, mudou de bairro e de
academia, matriculando-se na Competition, onde foi estimulado a treinar
sob supervisão de especialistas.
Ele
admite que enfrentou preconceito de amigos próximos, que consideravam a
carga de treinos pesada para sua idade. "Falavam que fazer exercício é
muito chato, uma perda de tempo para quem é velho", diz. Daphinis
lamenta que todos eles já tenham morrido. "Eles se foram e ainda estou
aqui."
Disciplinado,
Daphinis acumulou mais de 50 medalhas em provas e ainda conseguiu
arrastar a família para a prática de exercícios. A mulher, de 84 anos,
nada e faz musculação. O mais velho dos cinco filhos, hoje com 64 anos,
compete em provas de 3.000 m e 5.000 m em mar aberto. Além deles, uma
nora, um neto e uma neta também malham na mesma academia. E espera um
dia acompanhar os três bisnetos. "Já fiz proposta de me mudar para cá",
brinca. Daphinis reclama não ter ninguém de sua faixa etária (85 a 90
anos) disputando provas master de natação. "Meu adversário sou eu", diz.
/ COLABOROU MARIANA LENHARO
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