quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Doe de Coração completa 10 anos levando esperança de nova vida

Iniciativa contribui para a colocação do Ceará em segundo lugar no ranking dos estados que mais fazem transplante
Joana da Silva tem três anos e 11 meses. Há três anos, ela ganhou um novo coração e a esperança de um futuro, graças à solidariedade de uma família, que perdeu um menino de 11 anos, e à ação efetiva da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz com apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Hoje, Dia do Doador de Órgãos e Tecidos, a iniciativa comemora dez anos de existência e a contribuição decisiva para a colocação no Ceará em segundo lugar no ranking dos estados que mais fazem transplante no Brasil.

Joana da Silva, de três anos e 11 meses, recebeu um transplante de coração há três anos, o que mudou a vida dela e de sua mãe, Josicléia Foto: Alex Costa


Nascida em Tauá, no Sertão dos Inhamuns, Joana foi diagnosticada com cardiopatia congênita ainda com três meses de idade, o que obrigou a família a vir duas vezes na semana até Fortaleza, distante daquela cidade 377 quilômetros. A rotina foi essa por 11 meses, do seu nascimento até o transplante, que mudou a sua vida.

De acordo com a reitora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fátima Veras, a Campanha Doe de Coração chega a ser um programa. "Porque conscientiza e orienta a população, em especial, a menos esclarecida, através de meios de comunicação como o Diário do Nordeste, que chega ao Interior do Estado e da Televisão Verdes Mares, que tem amplo alcance", avalia.

Conforto
Para a reitora, o movimento da Fundação Edson Queiroz tem muita importância não só para quem recebe o órgão e uma nova condição de sobrevida, como Joana, mas para quem doa. "Além de diminuir o tempo de espera por um órgão, ainda beneficia a família que perde algum ente querido, que tem a oportunidade de fazer um ato de grande importância para o outro. Foi quebrado um tabu, já que, antes da Doe de Coração, várias pessoas ainda tinham preconceito e temiam ser doadoras", ressalta.

O empresário Edmar Montenegro sabe muito bem do conforto que ajudar alguém, com a doação de órgãos, pode proporcionar. Quando a filha, a empresária Marcela Montenegro, foi assassinada, em 2010, em uma tentativa de assalto, ele decidiu transformar a sua morte em vida para pessoas que esperavam por um órgão na lista de espera por um transplante.

"Eu já havia registrado antes na minha carteira de identidade que sou doador e pensei que, como a minha filha era jovem, não fumava e não bebia, os órgãos dela poderiam estar em bom estado e viáveis para salvar alguém. Esse ato solidário me aliviou um pouco da dor que senti quando perdi minha filha", conta.

Números
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), até ontem, 893 transplantes foram realizados no Estado neste ano. Essa quantidade só perde para os números de 2011, quando, até dezembro, foram feitos 1.295 procedimentos desse tipo.

Na fila de espera, hoje, 724 pessoas aguardam órgãos. A maior procura é por uma córnea, com 329 pacientes. Em segundo lugar, com 253 casos, estão os que precisam de um rim. Também estão nessa lista os que aguardam fígado, pulmão, coração, pâncreas e medula óssea. Este número é o menor da história. No ano passado, por exemplo, 1.200 pacientes esperavam um transplante.

Conscientização
Na opinião do chefe de Transplantes Cardíacos do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, João David Souza Neto, a Campanha Doe de Coração tem muita importância nessa redução histórica na fila de espera. "Se a população está mais consciente, as doações aumentam e a fila de espera diminui, e isso se deve às campanhas que informam sobre isso. As equipes também estão mais estruturadas e experientes", explica.

Em caso de morte encefálica, o coração é o órgão que exige mais urgência. "A maioria dos transplantes de coração são feitos com doadores de Fortaleza, porque o tempo máximo de espera é de quatro horas para que seja feito o procedimento", esclarece o médico.

FIQUE POR DENTRO
Cearense vira garota- propaganda
Com 12 anos e vivendo há oito com coração doado, a menina Nívia Maria Castro Alves é a cearense que irá estampar com sua história as campanhas de doação e transplantes de órgãos do Ministério da Saúde. Acompanhada da mãe, Francisca, ela foi a Brasília, em agosto, para ser produzida e fotografada para a campanha.

Nívia recebeu coração saudável em 2004, aos quatro anos, no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, da Secretaria da Saúde do Estado. Ele está na relação dos 285 transplantes de coração realizados no Ceará desde 1998, quando foi implantada a Central de Transplantes do Ceará.

Nova Central é inaugurada hoje
As novas instalações serão no Bloco E da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) e contam com 12 salas e sete médicos Foto: Viviane Pinheiro
No Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) aproveita para inaugurar a Central de Transplantes do Estado. As novas instalações estão no Bloco E da Sesa e contam com 12 salas e um número maior de médicos. Há sete anos, a equipe só contava com dois médicos e, agora, dispõe de sete. Outra novidade é o acréscimo de três aparelhos de eletroencefalograma, que diagnosticam a morte encefálica. Antes, só existia um equipamento.

Neste dia, considerado um dos mais expressivos para o calendário da saúde, ainda irá acontecer um aulão sobre órgãos e tecidos na sede da Sesa, às 9h de hoje, após a inauguração da nova Central de Transplantes. O encontro irá levar informações aos jovens e terá a participação de 50 estudantes da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Marvin, localizada no bairro Pirambu, e bolsistas do Núcleo de Iniciação Profissional Primeiros Passos.

Requisitos
A legislação brasileira de transplantes estabelece critérios para as doações de órgãos e tecidos. Para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, mas é fundamental comunicar à família o desejo da doação.

Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), no primeiro semestre deste ano, o Ceará notificou 200 potenciais doadores. Foram realizadas 138 entrevistas familiares. A maioria das famílias disse sim à doação. Em 45 casos, houve recusa dos parentes.

Defensor será homenageado
O defensor público Régis Gonçalves Pinheiro irá receber, hoje, em Brasília, o prêmio anual do Ministério da Saúde "Destaque na Promoção da Doação de Órgãos e Tecidos no Brasil". Gonçalves desenvolveu um trabalho pioneiro no Brasil, através da assinatura de um termo de cooperação técnica entre a Secretaria de Saúde e a Defensoria Pública, para agilizar os transplantes que encontram barreiras burocráticas, como a obrigatoriedade da assinatura do pai e da mãe em caso de doador menor de idade.

Com essa iniciativa, a Defensoria passou a cuidar desses casos específicos, que antes não eram levados em consideração e nem eram procurados para a doação de órgãos e tecidos.

Depois do início dessas ações da Defensoria Pública, em setembro de 2011, 24 pessoas já foram transplantadas com órgãos de doadores que antes nem eram contabilizados. "Após a assinatura desse termo, nós estamos atuando de forma efetiva para agilizarmos os transplantes que antes encontravam entraves legais. No caso de um dos pais não poder comparecer para assinar, nós entramos em contato até por telefone e, caso não se saiba o paradeiro de um deles, entramos com uma ação judicial, tudo para que o órgão possa ser aproveitado", ressalta.

Além desse caso, também é preciso que a Defensoria Pública ajude no caso de o doador só ter o companheiro como parente mais próximo. "Se a pessoa não for casada, o defensor público vai até a residência da pessoa e pega o depoimento de três testemunhas para que seja comprovada a união estável", esclarece.

Trabalho
Por conta de a maioria dos casos ocorrerem no fim de semana ou à noite, a Defensoria Pública chega a realizar um trabalho de plantão. "Recentemente, conseguimos a autorização da mãe de um doador que morava no interior do Amazonas e que mandou o documento através de um fax da delegacia da cidade", relata o defensor público.

A experiência já é difundida em outros Estados. "No último congresso, divulgamos a nossa experiência e, em breve, outros Estados poderão adotar essa iniciativa", afirma Gonçalves.

De acordo com o defensor público, com a construção dos hospitais regionais do Cariri e de Sobral, a entidade poderá ampliar a ação também para essas regiões. "Ainda não temos uma data, mas queremos ampliar essa ação para o Cariri e Sobral em breve", anuncia.

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