Iniciativa contribui para a colocação do Ceará em segundo lugar no ranking dos estados que mais fazem transplante
Joana
da Silva tem três anos e 11 meses. Há três anos, ela ganhou um novo
coração e a esperança de um futuro, graças à solidariedade de uma
família, que perdeu um menino de 11 anos, e à ação efetiva da Campanha
Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz com apoio do Sistema Verdes
Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Hoje, Dia do
Doador de Órgãos e Tecidos, a iniciativa comemora dez anos de existência
e a contribuição decisiva para a colocação no Ceará em segundo lugar no
ranking dos estados que mais fazem transplante no Brasil.
Joana
da Silva, de três anos e 11 meses, recebeu um transplante de coração há
três anos, o que mudou a vida dela e de sua mãe, Josicléia Foto: Alex
Costa
Nascida em Tauá, no Sertão dos Inhamuns, Joana foi
diagnosticada com cardiopatia congênita ainda com três meses de idade, o
que obrigou a família a vir duas vezes na semana até Fortaleza,
distante daquela cidade 377 quilômetros. A rotina foi essa por 11 meses,
do seu nascimento até o transplante, que mudou a sua vida.
De
acordo com a reitora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fátima
Veras, a Campanha Doe de Coração chega a ser um programa. "Porque
conscientiza e orienta a população, em especial, a menos esclarecida,
através de meios de comunicação como o Diário do Nordeste, que chega ao
Interior do Estado e da Televisão Verdes Mares, que tem amplo alcance",
avalia.
Conforto
Para a reitora, o
movimento da Fundação Edson Queiroz tem muita importância não só para
quem recebe o órgão e uma nova condição de sobrevida, como Joana, mas
para quem doa. "Além de diminuir o tempo de espera por um órgão, ainda
beneficia a família que perde algum ente querido, que tem a oportunidade
de fazer um ato de grande importância para o outro. Foi quebrado um
tabu, já que, antes da Doe de Coração, várias pessoas ainda tinham
preconceito e temiam ser doadoras", ressalta.
O empresário Edmar
Montenegro sabe muito bem do conforto que ajudar alguém, com a doação de
órgãos, pode proporcionar. Quando a filha, a empresária Marcela
Montenegro, foi assassinada, em 2010, em uma tentativa de assalto, ele
decidiu transformar a sua morte em vida para pessoas que esperavam por
um órgão na lista de espera por um transplante.
"Eu já havia
registrado antes na minha carteira de identidade que sou doador e pensei
que, como a minha filha era jovem, não fumava e não bebia, os órgãos
dela poderiam estar em bom estado e viáveis para salvar alguém. Esse ato
solidário me aliviou um pouco da dor que senti quando perdi minha
filha", conta.
Números
De acordo com a
assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), até
ontem, 893 transplantes foram realizados no Estado neste ano. Essa
quantidade só perde para os números de 2011, quando, até dezembro, foram
feitos 1.295 procedimentos desse tipo.
Na fila de espera, hoje,
724 pessoas aguardam órgãos. A maior procura é por uma córnea, com 329
pacientes. Em segundo lugar, com 253 casos, estão os que precisam de um
rim. Também estão nessa lista os que aguardam fígado, pulmão, coração,
pâncreas e medula óssea. Este número é o menor da história. No ano
passado, por exemplo, 1.200 pacientes esperavam um transplante.
Conscientização
Na
opinião do chefe de Transplantes Cardíacos do Hospital Dr. Carlos
Alberto Studart Gomes, João David Souza Neto, a Campanha Doe de Coração
tem muita importância nessa redução histórica na fila de espera. "Se a
população está mais consciente, as doações aumentam e a fila de espera
diminui, e isso se deve às campanhas que informam sobre isso. As equipes
também estão mais estruturadas e experientes", explica.
Em caso
de morte encefálica, o coração é o órgão que exige mais urgência. "A
maioria dos transplantes de coração são feitos com doadores de
Fortaleza, porque o tempo máximo de espera é de quatro horas para que
seja feito o procedimento", esclarece o médico.
FIQUE POR DENTRO
Cearense vira garota- propaganda
Com
12 anos e vivendo há oito com coração doado, a menina Nívia Maria
Castro Alves é a cearense que irá estampar com sua história as campanhas
de doação e transplantes de órgãos do Ministério da Saúde. Acompanhada
da mãe, Francisca, ela foi a Brasília, em agosto, para ser produzida e
fotografada para a campanha.
Nívia recebeu coração saudável em
2004, aos quatro anos, no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto
Studart Gomes, da Secretaria da Saúde do Estado. Ele está na relação dos
285 transplantes de coração realizados no Ceará desde 1998, quando foi
implantada a Central de Transplantes do Ceará.
Nova Central é inaugurada hoje
As
novas instalações serão no Bloco E da Secretaria da Saúde do Estado do
Ceará (Sesa) e contam com 12 salas e sete médicos Foto: Viviane Pinheiro
No
Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, a Secretaria da Saúde do
Estado do Ceará (Sesa) aproveita para inaugurar a Central de
Transplantes do Estado. As novas instalações estão no Bloco E da Sesa e
contam com 12 salas e um número maior de médicos. Há sete anos, a equipe
só contava com dois médicos e, agora, dispõe de sete. Outra novidade é o
acréscimo de três aparelhos de eletroencefalograma, que diagnosticam a
morte encefálica. Antes, só existia um equipamento.
Neste dia,
considerado um dos mais expressivos para o calendário da saúde, ainda
irá acontecer um aulão sobre órgãos e tecidos na sede da Sesa, às 9h de
hoje, após a inauguração da nova Central de Transplantes. O encontro irá
levar informações aos jovens e terá a participação de 50 estudantes da
Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Marvin, localizada no
bairro Pirambu, e bolsistas do Núcleo de Iniciação Profissional
Primeiros Passos.
Requisitos
A legislação
brasileira de transplantes estabelece critérios para as doações de
órgãos e tecidos. Para ser doador não é necessário deixar nada por
escrito, mas é fundamental comunicar à família o desejo da doação.
Segundo
o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), no primeiro semestre deste
ano, o Ceará notificou 200 potenciais doadores. Foram realizadas 138
entrevistas familiares. A maioria das famílias disse sim à doação. Em 45
casos, houve recusa dos parentes.
Defensor será homenageado
O
defensor público Régis Gonçalves Pinheiro irá receber, hoje, em
Brasília, o prêmio anual do Ministério da Saúde "Destaque na Promoção da
Doação de Órgãos e Tecidos no Brasil". Gonçalves desenvolveu um
trabalho pioneiro no Brasil, através da assinatura de um termo de
cooperação técnica entre a Secretaria de Saúde e a Defensoria Pública,
para agilizar os transplantes que encontram barreiras burocráticas, como
a obrigatoriedade da assinatura do pai e da mãe em caso de doador menor
de idade.
Com essa iniciativa, a Defensoria passou a cuidar
desses casos específicos, que antes não eram levados em consideração e
nem eram procurados para a doação de órgãos e tecidos.
Depois do
início dessas ações da Defensoria Pública, em setembro de 2011, 24
pessoas já foram transplantadas com órgãos de doadores que antes nem
eram contabilizados. "Após a assinatura desse termo, nós estamos atuando
de forma efetiva para agilizarmos os transplantes que antes encontravam
entraves legais. No caso de um dos pais não poder comparecer para
assinar, nós entramos em contato até por telefone e, caso não se saiba o
paradeiro de um deles, entramos com uma ação judicial, tudo para que o
órgão possa ser aproveitado", ressalta.
Além desse caso, também é
preciso que a Defensoria Pública ajude no caso de o doador só ter o
companheiro como parente mais próximo. "Se a pessoa não for casada, o
defensor público vai até a residência da pessoa e pega o depoimento de
três testemunhas para que seja comprovada a união estável", esclarece.
Trabalho
Por
conta de a maioria dos casos ocorrerem no fim de semana ou à noite, a
Defensoria Pública chega a realizar um trabalho de plantão.
"Recentemente, conseguimos a autorização da mãe de um doador que morava
no interior do Amazonas e que mandou o documento através de um fax da
delegacia da cidade", relata o defensor público.
A experiência já
é difundida em outros Estados. "No último congresso, divulgamos a nossa
experiência e, em breve, outros Estados poderão adotar essa
iniciativa", afirma Gonçalves.
De acordo com o defensor público,
com a construção dos hospitais regionais do Cariri e de Sobral, a
entidade poderá ampliar a ação também para essas regiões. "Ainda não
temos uma data, mas queremos ampliar essa ação para o Cariri e Sobral em
breve", anuncia.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
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