segunda-feira, 20 de março de 2017

Muito além do peso: os riscos da cirurgia bariátrica

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No dia 2 de março, Pedro Paulo Wenceslau Domingues, o Pepê, ex-participante do reality Além do Peso, da TV Record, deu entrada no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul (PR) para realizar uma cirurgia bariátrica. No entanto, após complicações durante o procedimento, ele morreu cinco dias depois. Em seu Facebook, Pepê avisou que faria a cirurgia e agradeceu a todos que torceram por ele.
No dia 28 de janeiro, quem chorou foi a família de Amanda Rodrigues, de 19 anos, moradora de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. A jovem morreu 11 dias depois de passar por uma bariátrica. A família acusa o hospital de negligência e registrou ocorrência policial.
Segundo a família, desde que Amanda foi para o quarto depois da cirurgia, realizada em 17 de janeiro, ela reclamava de dores nas pernas. Os parentes dizem que alertaram os médicos, enfermeiros e o médico responsável pela operação sobre a necessidade da aplicação de uma dose do anticoagulante – usado para prevenir a formação de trombos sanguíneos.
Ainda segundo os familiares, a mãe de Amanda disse ao médico que sofria com trombose e que a doença poderia ser hereditária. Por isso, segundo ela, poderiam ser necessárias outras doses do anticoagulante na jovem. O pedido, segundo a família, foi descartado pelo médico. A trombose é caracterizada pela formação de um coágulo sanguíneo em uma veia, geralmente das pernas.
As duas mortes acendem o sinal vermelho: a cirurgia bariátrica é um procedimento muito arriscado? O Blog Vida & Ação ouviu a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. ”Infelizmente há uma falsa impressão que a cirurgia bariátrica é um procedimento perigoso. O risco cirúrgico é semelhante ao de uma cirurgia de vesícula biliar ou uma cesariana. Cirurgias como trocas de próteses de quadril ou cirurgia cardíaca têm risco muito maior”, afirma Caetano Marchesini, presidente da SBCBM.
Segundo ele, além dos exames, estes pacientes passam por avaliação clínica minuciosa: avaliação psiquiátrica, nutricional e cardiológica. Quando detectado qualquer problema, medidas necessárias são tomadas preventivamente.   Muito importante, também são alguns critérios que devem ser analisados antes de indicar o procedimento para um paciente, pois a indicação cirúrgica deve ser decidida sob a análise de três critérios: IMC, idade e tempo da doença.
Confira a entrevista com Caetano Marchesini, presidente da SBCBM.
Afinal, quais os riscos dessa cirurgia?
“Assim como todo procedimento cirúrgico, a cirurgia bariátrica também apresenta riscos. Existe uma lista de complicações ligadas a este procedimento. Felizmente a grande maioria deles podem ser prevenidos através de avaliação pré-operatória e condutas antes, durante e depois da cirurgia. Mesmo no caso de acontecerem, existem já protocolos de conduta de como o cirurgião deve agir nestes casos.  Já o  risco de morrer em um procedimento como esse é pequeno e gira em torno de 0,2 a 0,5%. Ou seja, dois a cinco casos de morte entre mil procedimentos
O que pode ter ocorrido?  
A possibilidade de trombose venosa profunda, como se suspeita que tenha acontecido com esse paciente, é pequena mas é possível. É rotina na cirurgia bariátrica tomar medidas de prevenção à trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar como uso de medicamentos, fisioterapia precoce e o uso de meias especiais.  Apesar de todas estas medidas a incidência de fenômenos tromboembólicos após esta cirurgia é menor que 1%.
Quais são os critérios para a indicação de cirurgia bariátrica?
Quanto ao IMC (Índice de Massa Corpórea):
IMC acima de 40 kg/m²: pode ser feita independentemente da presença de comorbidades; IMC entre 35 e 40 kg/m²: pode ser feita na presença de comorbidades; IMC entre 30 e 35 kg/m²: pode ser feita na presença de comorbidades que tenham obrigatoriamente a classificação “grave” por um médico especialista na respectiva área da doença. É também obrigatória a constatação de “intratabilidade clínica da obesidade” por um endocrinologista.
Em relação à idade: Abaixo de 16 anos: exceto em caso de síndrome genética, quando a indicação é unânime, o Consenso Bariátrico recomenda que, nessa faixa etária, os riscos sejam avaliados por cirurgião e equipe multidisciplinar. A operação deve ser consentida pela família ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de recuperação.
• Entre 16 e 18 anos: sempre que houver indicação e consenso entre a família ou o responsável pelo paciente e a equipe multidisciplinar e a recomendação do pediatra ou endocrinologista que vem acompanhando este jovem.
• Entre 18 e 65 anos: sem restrições quanto à idade.
• Acima de 65 anos: avaliação individual pela equipe multidisciplinar, considerando risco cirúrgico, presença de comorbidades, expectativa de vida e benefícios do emagrecimento.
Como esta cirurgia vem aumentando no país?
O Brasil é considerado o segundo país do mundo em número de cirurgias realizadas e as mulheres representam 76% dos pacientes que fazem a redução de estômago no Brasil.  O número de cirurgias bariátricas aumentou 7,5% em 2016, se comparado com o ano de 2015. No ano passado, cerca de 100.512 pessoas fizeram a cirurgia para redução de estômago no país.  O número supera em cerca de 7 mil procedimentos as 93,5 mil cirurgias realizadas em 2015 e está em crescimento. Em 2012, foram feitas 72 mil cirurgias no Brasil; em 2013, 80 mil procedimentos foram realizados e em 2014, cerca de 88 mil pessoas optaram pela redução de estômago.
Por que este número só cresce?
O aumento no número de procedimentos para redução de estômago pode estar relacionado ao crescimento da obesidade no Brasil e também com as novas regras do Conselho Federal de Medicina (CFM) para realização de cirurgia bariátrica. O Conselho ampliou de seis para 21 o número de doenças associadas à obesidade e que podem levar a indicação da cirurgia bariátrica.  A obesidade já está sendo tratada como o mal do século por médicos e especialistas no mundo todo e a cirurgia bariátrica contribui para a cura ou remissão de diversas doenças associadas à obesidade como, por exemplo, a hipertensão, problemas nas articulações, coluna e diabetes tipo 2.
Quais os benefícios deste procedimento?
A cirurgia bariátrica apresenta índices superiores a 90% de melhora em quadros de diabetes, asma e incontinência urinária, hipertensão, doenças do refluxo gástrico e a apneia do sono. “Isso faz com que a busca por este tratamento aumente cada vez mais. Além disso, a realização da cirurgia bariátrica pode videolaparoscopia tornou o procedimento mais seguro ao paciente.
Para quem a cirurgia é recomendada?
A SBCBM segue as diretrizes do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Medicina. Em janeiro de 2016, o CFM publicou a Resolução número 2.131/15, que alterou o anexo da Resolução CFM nº 1942/10 e estabeleceu novas regras para a realização de cirurgia bariátrica no Brasil. A medida ampliou de seis para 21 o número de doenças associadas à obesidade e que podem levar a indicação da cirurgia bariátrica. Pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 35 kg/m² e afetados por doenças como diabetes, apneia do sono, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, doenças osteoarticulares e doenças como hérnias de disco, artroses, osteoartrites e inúmeras outras doenças mencionadas com a nova medida agora poderão fazer a cirurgia para redução de estômago.
Hospital bate recordes de cirurgias
Sobre a morte de Pepê, o Hospital Angelina Caron (HAC), em nota oficial, informou que ocorreu após parada cardíaca decorrente de uma embolia pulmonar. E reforça que todos os exames pré-operatórios foram realizados e indicavam que o paciente estava apto para a cirurgia realizada. “A embolia pulmonar é um risco decorrente do quadro clínico do paciente e possível em casos operatórios como o realizado no Pedro Paulo Wenceslau Domingues. Do ponto de vista médico, não houve complicações durante o procedimento cirúrgico. Vale ressaltar que a cirurgia bariátrica era indicada para o paciente e que ele estava apto”, informava a nota.
Localizado em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, o hospital informa que conseguiu um resultado recorde em 2016: realizou 2.253 cirurgias bariátricas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre janeiro e dezembro do último ano. O número representa mais da metade (55%) dos 4.100 procedimentos realizados no Paraná e 27% das cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS no Brasil. Para comparação, o número de cirurgias realizadas no Angelina Caron é superior ao realizado no estado de São Paulo (realizadas entre janeiro e novembro de 2016): 2.110 contra 1.738. Já no Paraná, o segundo hospital no ranking atingiu 478 procedimentos.
Segundo o cirurgião do Angelina Caron, Pedro Henrique Lambach Caron, o hospital é referência pelo uso de técnicas menos invasivas e na realização de procedimentos em pacientes com nível elevado de obesidade e outras doenças associadas. “O número expressivo de cirurgias bariátricas realizadas no Caron está relacionado com as técnicas utilizadas, aliadas a tecnologia de ponta e corpo clínico em constante atualização. Além das centenas de casos de alta complexidade e risco realizados no hospital”, menciona.
As técnicas de cirurgias bariátricas mais realizadas foram o bypass gástrico (que reduz drasticamente o tamanho e o volume do estômago que fica em torno de 50ml, além de realizar um desvio no intestino) e a gastrectomia vertical (também chamada de sleeve gástrico, na qual o estômago do paciente obeso é grampeado em forma de tubo, reduzindo o seu volume para 80 a 100 ml).
Da Redação, com agências
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e Hospital Angelina Caron

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