domingo, 8 de novembro de 2009

Novos recursos contra a obesidade

A mais nova esperança para domar o excesso de peso é o uso, por obesos, de uma classe de remédios de última geração indicados para tratar outra doença, a diabetes. Eles são chamados de análogos do GLP1, um hormônio produzido no intestino delgado quando há presença de comida. Porém, trata-se de um uso ainda off label, ou seja, uma indicação fora da bula dessas drogas, que foram aprovadas pelas agências reguladoras de cada país em que são comercializados exclusivamente para tratamento da diabetes.
Ainda que fora das bulas, a indicação desses medicamentos tem dado bons resultados. Na última semana, um estudo publicado na renomada revista científica "The Lancet" comparou os efeitos de um novo representante dessa família, o liraglutide - que deve chegar no ano que vem ao Brasil - com o velho orlistat (Xenical), usado para emagrecimento. Feita durante 20 semanas com 564 indivíduos não diabéticos, a pesquisa mostrou que os pacientes que usaram o remédio contra a diabetes perderam entre cinco e sete quilos, contra apenas quatro entre os que tomaram o Xenical. Todos também fizeram exercícios e dieta.No Brasil, por enquanto, há apenas um remédio da família, a exenatida (Byetta). E seus efeitos contra a obesidade também são relevantes. A terapeuta corporal Egle Gatta, 48 anos, por exemplo, emagreceu 11 quilos. "Tinha experimentado da dieta aos antidepressivos e anfetaminas", diz. Para completar o processo, aderiu à ginástica. Outra usuária dessa classe de substâncias, a especialista em fundos de investimento Margareth Brisolla, 55 anos, perdeu 13 quilos. "Experimentei todos os remédios antes e nada dava certo", conta. "É a primeira vez que algo funciona comigo - estou com 62 quilos, meu colesterol e a pressão baixaram. Não tive efeitos colaterais."Em comum, antes do tratamento, as pacientes apresentavam uma discreta elevação da quantidade de insulina no sangue. Este hormônio abre as portas das células para a entrada da glicose que está na circulação sanguínea. "É o princípio de algo que chamamos de resistência à insulina, que dificulta a entrada do açúcar nas células. O remédio ajuda a equilibrar essa situação e a melhorar a ação do hormônio", diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo.
A ideia de usar as medicações tomou corpo quando a ciência começou a aprofundar os conhecimentos sobre a relação entre a diabetes e a obesidade. "Hoje sabemos que 90% dos diabéticos tipo 2 são obesos. E descobriuse que nas duas doenças o GLP1 está em níveis muito baixos", explica o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Halpern, assim como a endocrinologista Maria Fernanda, é um dos médicos brasileiros que estão receitando o remédio contra diabetes a obesos com ligeira elevação de insulina. "É um novo caminho de tratamento bastante promissor e que chega para preencher uma lacuna", diz. "Os medicamentos para tratamento da obesidade, que hoje deve ser considerada uma doença crônica, são eficientes apenas para cerca de metade dos casos."
Os remédios abrem realmente uma nova maneira de combate ao acúmulo Ende peso.E, por enquanto, as grandes restrições ao seu uso no combate à obesidade são o fato de serem injetáveis e o preço. A exenatida não sai por menos de R$ 300 a caixa. O liraglutide, como é importado, custa mais de R$ 1,5 mil por mês. E também há efeitos colaterais possíveis, como náuseas e vômitos.

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