quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O melhor amigo das mulheres

Pesquisa revela que os exercícios físicos são mais benéficos à população feminina que à masculina. Em compensação, elas sofrem mais para conseguir começar a praticá-los.Caminhadas, corridas, natação, tênis, musculação, pilates, yoga ou hidroginástica: não importa qual atividade física a mulher escolha, todas valem a pena. E mais: um recente estudo mostrou que os exercícios podem ter um impacto mais positivo nas mulheres do que nos homens. Eles têm, por exemplo, a capacidade de diminuir mais o nível de LDL, o chamado colesterol “ruim”, entre elas — em relação ao resultado obtido pelos homens. Se os resultados são melhores, por outro lado, dar o primeiro passo ou mesmo continuar no caminho para uma vida saudável é mais difícil para elas. O segredo, de acordo com os cientistas, é esquecer quantas calorias se vai perder e pensar mais na saúde e no bem-estar que o esforço físico pode trazer.
Durante nove anos, uma equipe da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, fez um estudo com 9 mil voluntários, completamente sedentários e de meia idade, de 45 a 64 anos. O resultado foi surpreendente. As mulheres conseguiram abaixar consideravelmente os níveis de colesterol LDL, e melhoraram o quadro geral da saúde. Para os homens, contudo, a atividade física não fez diferença nos exames periódicos. “O nosso objetivo não era entender a questão biológica, mas acreditamos que as mulheres tiveram um resultado melhor do que os homens por causa de uma questão hormonal”, disse ao Correio Keri Monda, uma das coordenadoras do programa de pós-graduação do Departamento de Epidemiologia da universidade.
Para cada 60 minutos de exercício moderado e cada 30 minutos de atividade intensiva por semana, o resultado foi uma redução de 3,97mg/dL em mulheres brancas, e 10,55mg/dL em mulheres negras. Segundo a cientista, exemplos de exercício moderados são caminhadas leves, musculação ou boliche, e de exercício intensivo são basquete, caminhadas em trilhas ou dança moderna. A perda do colesterol foi ainda maior para mulheres que já tinham passado pela menopausa: 5,91mg/dL L em mulheres brancas e 14,68 mg/dL em mulheres negras.
Dificuldades
A lição é antiga: atividade física faz bem para a saúde física e mental. Segundo Michelle Segar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa de Mulheres e Gênero da Universidade de Michigan e fundadora do site Essential Steps, para mulheres, contudo, é mais difícil começar e fazer exercícios físicos durante toda a vida do que para os homens. E os dois principais motivos femininos para não se exercitarem é “falta de tempo” e “falta de motivação”. “São motivos verdadeiros e não desculpas, mas eles podem estar escondendo um problema”, explica a psicóloga.
As mulheres têm dificuldade de priorizar o seu próprio bem-estar, porque elas têm a cultura e sofrem a pressão de cuidar sempre dos outros primeiro. “É difícil ter tempo para fazer exercícios se você não se sente confortável em arrumar tempo para se cuidar. A falta de motivação é por causa do jeito que as mulheres enxergam a atividade física — como apenas uma forma de perder peso, e não para se sentir bem”, esclarece Michelle.
Para começar, é preciso mudar de atitude e pensamento. Se a motivação para caminhar, correr, nadar ou ir para uma academia for apenas perder peso, as chances de desistir são maiores. Segundo a psicóloga, as mulheres estão culturalmente acostumadas a pensar apenas nos aspectos negativos do exercício. O estigma de que é preciso sofrer para ter algum resultado, ou de que a malhação só funciona depois de muita dor, não ajuda ninguém a gostar do exercício físico.
Sandra Starling, 65 anos, foi sedentária até chegar aos 50. Com a maturidade, também veio a vontade de se movimentar e se cuidar. A deputada federal aposentada começou com caminhadas e ficou viciada em exercícios, até ter um problema na coluna por causa do esforço. “Foi quando eu caí na real, e vi que tinha que saber até onde eu poderia ir”, conta. Depois de passar também por um enfisema pulmonar e sofrer com a pressão alta, ela encontrou o equilíbrio. Faz musculação e atividades aeróbicas, inclusive caminhadas de costas, que, segundo ela, “fazem bem para o cérebro”. Tudo com a ajuda de um personal trainer. “Na minha idade, o prazer mental de fazer exercícios é muito maior do que o meu prazer físico”, revela Sandra.
Prazer
A primeira dica para mudar é esquecer o sofrimento e procurar uma atividade física prazerosa. “Relembre aquela atividade que você gostava de fazer quando era criança. Também tente não exagerar na dose e fazer com que o exercício se torne um fardo. Ele tem que fazer parte da sua vida, sem estresse”, aconselha Michelle.
Para Ludmila Faria Guedes Coelho, 29 anos, essa é uma realidade. A funcionária pública aprendeu a gostar de praticar esportes na infância, e hoje tenta equilibrar a vida atribulada com o exercício físico. “Quando eu posso, vou nadar no clube na hora do almoço. À noite, faço pilates, capoeira ou spinnig. Tento variar, para não virar rotina e enjoar”, conta.
A família também teve um papel importante na hora de encarar a atividade física como uma oportunidade de bem-estar, e não obrigação. “Meu pai sempre me estimulou a praticar esporte. E até hoje a família costuma caminhar junta domingo de manhã. É um momento para a gente ficar junto também”, observa Ludmila. A flexibilidade de fazer o que mais gosta também é importante. Ela não se sente culpada se não consegue ir à academia, e é justamente quando está cansada ou estressada que a funcionária pública acredita que seja a hora de colocar o tênis para ir à luta.
Para as mulheres com mais de 30 anos, a atividade física é essencial, segundo a pesquisadora norte-americana. Quanto antes a mulher mudar de atitude em relação ao exercício, melhor, mas nunca é tarde para começar. “Depois dos 25 anos, é importante levar seu corpo a sério, porque, caso contrário, a perda de funcionabilidade e fraturas são possibilidades reais no futuro”, indica Michelle.
Mônica Gusmão Barcellos, 52 anos, só abriu os olhos para o exercício quando precisou. Depois de levar um tombo em casa, fraturar o tornozelo e ficar dois meses sem andar, ela se viu obrigada a cuidar mais do corpo. Depois da fisioterapia, era necessário recuperar a massa muscular. As recomendações médicas a levaram para os aparelhos de musculação. “Eu era sedentária, então, no início, parecia que eu estava em outro planeta: não me reconhecia lá no meio dos aparelhos, e todas aquelas pessoas muito focadas no exercício”, conta.
Desde então, muito mudou. Agora, a empresária chega a ir duas vezes por dia à academia. Faz um pouco da série de manhã e volta à noite para finalizar. Só descansa nos fins de semana. “Eu nunca gostei de exercício, mas agora deixou de ser um sacrifício. Acho que, pelo resultado que tive, em apenas seis meses, teve um efeito fantástico na minha saúde”, confessa.
Para ir à luta
Veja as dicas da psicóloga americana Michelle Segar para mudar de atitude e começar a se movimentar para ter mais saúde e bem-estar:
Tome uma decisão consciente: você quer começar a ter os benefícios que a atividade física traz, como melhora do humor, redução do estresse, mais energia e qualidade do sono
Analise o que você quer de uma atividade física e tome uma atitude: quer se livrar do estresse? Faça atividades ao ar livre. Quer melhorar sua vida social? Matricule-se na academia ou chame algum amigo ou membro da sua família para caminhar
Planeje o seu dia. O exercício tem que fazer parte dele. Permita-se deixar um compromisso de lado para ir à academia
Avalie se a atividade física que você escolheu lhe proporciona a experiência que você queria ter. Se não foi positivo, tente um novo tipo de atividade física, um professor diferente, uma outra hora do dia, mas não desista
Sua saúde e seu bem-estar devem ser sua prioridade. Lembre-se de que, por você, vale a pena gastar seu tempo
Para praticar
Escolha uma atividade física e faça meia hora de exercícios intensos ou uma hora de exercícios moderados para fazer diferença na sua saúde:
Exercícios moderados
Caminhada, musculação, dança de salão e hidroginástica
Exercícios intensos
Corrida, judô, natação e ciclismo

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