quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Camaçari: mortes pela meningite colocam tratamento em xeque

O surgimento de sucessivos casos de meningite nas últimas semanas no município de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, vem assustando moradores e preocupando a comunidade com relação ao tratamento adequado da doença. A creche Estiva dos Buris, na localidade de Vilas de Abrantes, está com aulas suspensas desde segunda-feira, depois de ter três crianças diagnosticadas com meningite- sendo que duas delas morreram.
“Não achamos que houvesse motivo de fechar a creche antes porque a Vigilância Sanitária (de Camaçari) afirmou que não precisava”, explica a coordenadora da creche, Eliete Faustina.
O primeiro caso a surgir na creche foi o de Lucas Oliveira, 5 anos, que segundo a coordenação foi diagnosticado com a doença no dia 3 de outubro. Dois dias depois, Camile Fagundes, 5, morreu no hospital Couto Maia, com diagnóstico de meningite do tipo C.
Ainda assim as aulas prosseguiram e, no último dia 12, Emanuel Oliveira dos Santos, 4, também morreu com diagnóstico de meningite do tipo C. Entre uma morte e outra, a coordenação da creche disse ter seguido orientação do Ministério da Saúde e ministrou quatro doses de antibióticos de 12 em 12 horas. “Achei que depois dos antibióticos as crianças não corriam mais risco”, afirmou Eliete.
Cinco dias depois, também em Camaçari, o adolescente Taciano Santos Falcão, de 16 anos, morreu diagnosticado com meningite meningocócica - a forma mais grave. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), no entanto, a morte não tem a ver com os casos da creche. Tratamento-A meningite é uma inflamação na membrana que cobre o cérebro, a meninge. De acordo com o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professor de infectologia, José Tavares Neto, a doença é complexa: pode ser causada por fungos, vírus ou bactérias.
Cada agente é tratado de forma específica. Para as meningites virais não há tratamento e, geralmente, elas não têm muita gravidade, sendo combatidas pelo próprio organismo. As formas mais graves são as bacterianas e as mais importantes são as dos sorogrupos A, B e C. Segundo o Ministério da Saúde o uso de antibióticos é o tratamento mais indicado. “Atualmente, há vacina específica apenas para as meningites bacterianas do sorogrupo B, que são produzidas em Cuba”, diz Tavares Neto.
Na creche Estiva dos Buris foram aplicadas 200 doses da vacina em alunos e professores, na sexta-feira passada. Porém, ela não é disponibilizada para toda a comunidade e só é usada em caso de surto. O custo é um dos motivos -a dose custa entre R$85 e R$200.
Ar livreEnquanto não surge uma vacina eficaz e segura para todos os casos, a saída é investir em prevenção. “Para prevenir a meningite o importante é evitar locais fechados aglomerações”, esclarece Tavares Neto, destacando que a vacina contra BCG (disponibilizada no calendário básico contra a tuberculose)também pode garantir cobertura contra a doença.
Punção identifica gravidade A infecção causada pela meningite gera um aumento da pressão dentro da cabeça (pressão intracraniana). Esse quadro se manifesta através de sintomas como dor de cabeça, febre alta, vômitos, incômodo com luz forte, irritabilidade, delírios e convulsões.
Para que a doença possa ser diagnosticada e o agente causador seja identificado, é fundamental a realização de exames de sangue e coleta de líquido cefalorraquidiano (LCR), que é retirado da medula.
Para isso, é feita uma punção lombar - uma agulha fina é utilizada para coletar da coluna vertebral o líquido, que é examinado em busca de bactérias. O LCR do paciente com meningite bacteriana é mais turvo, geralmente num estado purulento (com pus), com taxa de glicose reduzida e contagem celular aumentada.
Para garantir o controle da meningite e a cura, o tratamento deve ser específico para o agente causador envolvido. Para identificar as bactérias que causam a infecção, uma amostra do líquido é encaminhada ao laboratório para a realização de cultura e a identificação de microrganismos.
Quando estão na circulação sanguínea, as bactérias - como os meningococos ou estreptococos - podem atravessar a barreira de proteção natural do organismo. Além disso, elas também podem entrar diretamente pelo aparelho respiratório. Para as infecções bacterianas, o tratamento deve ser o mais rápido possível, pois a doença pode matar ou provocar seqüelas neurológicas

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