quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sombra do H1N1

Com vacinas e reforço nas atividades de prevenção, governo se prepara para um possível avanço da gripe suína em 2010
Rodrigo Couto

Responsável pela morte de quase dois mil brasileiros, a influenza A (H1N1), mais conhecida como gripe suína, deve contaminar mais pessoas e provocar um número maior de vítimas em 2010. Apesar de não ter divulgado estimativas, o Ministério da Saúde confirma a possibilidade de a doença avançar com mais força no território nacional nos próximos meses, sobretudo a partir de abril, quando as temperaturas começam a cair na maioria das regiões. A Organização Mundial da Saúde (OMS)(1) tem posicionamento similar ao do governo do Brasil: é prematuro declarar que a pandemia da nova gripe chegou ao ápice. Até o fim de novembro, mês da aferição mais recente com os dados da enfermidade, exatas 27.850 infecções foram detectadas no país (veja quadro).
Mesmo com as perspectivas negativas para o país, o comerciante Edson Rocha, 52 anos, que contraiu a doença em junho, coleciona motivos para comemorar no último dia de 2009. “Foi a gripe mais forte que tive. Fiquei quatro dias sentindo febre e fortes dores nas articulações. Somente no quinto dia decidi procurar um médico. Agradeço a minha filha, que insistiu em buscar ajuda profissional, e ao remédio (cloridrato de moxifloxacino), que me curou. Aliás, minha vida custou R$ 149”, diz, referindo-se ao valor do medicamento.
Depois de uma semana de repouso em casa, a pedido do médico, Edson mudou hábitos e começou a difundir informações sobre a gripe. “Passei a lavar as mãos com frequência e comprei álcool em gel para me proteger.” Proprietário de uma empresa que fabrica placas e carimbos, o comerciante decidiu imprimir 50 cartazes de plástico com orientações para evitar o contato com o vírus. “Aproveitei que a UnB (Universidade de Brasília) havia me encomendado um material e mandei fabricar do meu próprio bolso esses impressos. Já distribuí no restaurante onde almoço aqui em Brasília e no Piauí, onde tenho raízes”, afirma, lembrando que gastou R$ 795 com a iniciativa. Em uma comemoração bem brasileira, Edson festeja o ano-novo. “Por tudo o que passei, quero brindar 2010 com uma cerveja bem gelada.”
As previsões de recrudescimento da gripe suína por parte da esfera pública não são as mesmas de especialistas ouvidos pelo Correio. Professor de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski condiciona o controle da enfermidade ao cumprimento do plano estabelecido pelo Ministério da Saúde. Se o ministro (José Gomes Temporão) conseguir colocar em prática o que planejou, o país não enfrentará problemas”, frisa. Na avaliação do infectologista, o fato de a população estar bem informada é positivo. “Por conta dessa mudança de hábito (lavar mais as mãos), houve uma grande redução de infecções hospitalares e de doenças contagiosas como conjuntivite e diarreia, por exemplo”, observa.

Vacinas
Do crédito suplementar de R$ 2,168 bilhões, aprovado em outubro pela Medida Provisória (MP) 469, R$ 1,06 bilhão vai ser usado na compra de vacinas para proteger a população. A um custo de R$ 447,7 milhões, o governo federal fechou a compra do primeiro lote de soluções em novembro. Serão 40 milhões de doses a serem entregues no primeiro semestre de 2010. A expectativa é que a vacinação ocorra entre março e abril, antes da chegada do frio. Uma coisa é certa: não haverá vacina para todos. Por isso, o ministério precisa delimitar o público-alvo, ainda não definido. Um dos grupos a serem beneficiados é o das gestantes. Das 1.632 mortes causadas pela gripe, 156 (28,5%) estavam grávidas.
A pasta ainda vai adquirir vacinas produzidas pelo Instituto Butantan, único produtor na América Latina, e também por meio do Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). A quantidade da nova remessa deve ser anunciada pelo ministro José Gomes Temporão em janeiro. O governo diz ter estoque de 6,6 milhões de tratamentos, sendo 421 mil kits prontos (encapsulados) e outros 6,2 milhões em matéria-prima para ser dissolvida.
Com dez óbitos e 668 casos confirmados de gripe A, a Secretaria de Saúde do DF não espera aumento de infecções no próximo ano. “A disseminação da gripe suína obrigou os profissionais a se prepararem para o certo caos causado pela doença nos hospitais públicos e privados. Se somarmos isso à disponibilização da vacina, ao trabalho conjunto das secretaria de educação e de saúde e ao bom nível de esclarecimento da população, acreditamos que não haverá pico da enfermidade em 2010”, diz o chefe do núcleo de controle de doenças imunopreviníveis da Secretaria de Saúde do DF, José Edson Pellicano.

1 - Mundo em alerta
Na terça-feira, a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, afirmou que é muito cedo para declarar que a pandemia de gripe suína chegou ao ápice em todos os continentes. De acordo com ela, ao contrário dos Estados Unidos, Canadá e alguns países do hemisfério norte, onde foi registrado o maior pico de infecções, nem todas as nações atingiram seus mais elevados índices de casos, uma vez que o inverno mal começou.

Mapa da gripe suína
Desde a confirmação dos quatro primeiros casos da enfermidade no Brasil em 7 de maio, o Ministério da Saúde contabiliza 27.850 pessoas contaminadas pela gripe suína em todo o ternt6rio nacional segundo informações do boletim mais recente, divulgado em dezembro. Ate hoje, 1.632 pessoas perderam a vida em decorrência de complicações da influenza A (H1N1). Com 827 mortes, 50,7% do total, a Região Sudeste lidera o ranking de mortalidade, seguida pela Sul (642).

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