domingo, 13 de dezembro de 2009

A vida sem parte do cérebro

O menino americano Tyler Plotkins, 5 anos, vive apenas com a metade esquerda do cérebro. Mesmo assim, segundo seus pais, Erik e Heather, ele consegue levar uma rotina praticamente normal onde mora, em Boston.

Tyler teve a parte direita removida quando estava com um ano e três meses. Foi o último recurso que os médicos encontraram para tratar uma forma gravíssima de epilepsia doença caracterizada por uma atividade elétrica anormal em áreas do cérebro diagnosticada após três semanas de vida. Antes, eles haviam tentado controlar as crises com remédios, mas o garoto continuava sofrendo mais de 100 ataques por dia.

A cirurgia a que o menino foi submetido chama-se hemisferectomia e é indicada a pacientes que, como Tyler, apresentam a categoria mais severa da doença. “O objetivo é retirar a parte danificada do cérebro”, explica o neurologista Arthur Cukiert, diretor do Centro de Cirurgia de Epilepsia do Hospital Brigadeiro, em São Paulo.

Na instituição, até agora 57 indivíduos passaram pelo procedimento: 12 adultos e 45 crianças. A primeira vista é intrigante imaginar como uma pessoa pode viver sem metade das estruturas cerebrais.

Mas o que a medicina tem constatado é que isso é possível graças a uma capacidade do cérebro conhecida como neuroplasticidade. Trata-se de uma habilidade que permite aos circuitos de neurônios preservados assumir a função daqueles que por alguma razão foram lesados ou retira dos.

Essa maleabilidade se mostra ainda mais forte em crianças menores de dois anos. “Nessa fase, o cérebro tem grande capacidade de se reconfigurar”, explica o neurologista Cukiert. “Neurônios que comandam o lado direito do corpo podem passar a responder pelas funções do lado esquerdo também.”

Neurônios associados às funções motoras se remanejam bem até dois anos de idade

Estudos revelam, por exemplo, que as células nervosas associadas às funções motoras se remanejam bem até os dois primeiros anos de vida. Nos setores relacionados à fala, até os seis anos, e à visão, até os sete anos. Esse fenômeno natural consegue produzir mais benefícios quando o paciente recebe as estimulações certas.

Por meio de exercícios específicos, pode-se acionar com maior eficácia cadeias neuronais e fazê-las atuar para que funções perdidas sejam resgatadas total ou parcialmente. Tyler, por exemplo, faz fisioterapia, terapia ocupacional e equoterapia.

E, por causa de uma hidrocefalia desenvolvida semanas após a operação, é obrigado a viver com um dreno para evitar o acúmulo de fluido cerebral. O caso do garoto foi veiculado mundialmente após o início de uma campanha, nos Eua, para divulgar dados sobre a epilepsia. Sua história acabou sendo conhecida, mas seus pais, criadores de uma fundação para ajudar famílias em situação semelhante, estão assustados com a repercussão.

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