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Os mecanismos que estão por trás deles ainda não são muito bem conhecidos, mas aparentemente são os mesmos, muda apenas a parte do organismo em que eles se manifestam: a pele, no caso da dermatite; o pulmão, na asma; e o nariz, na rinite. É o que os médicos chamam tríade atópica ou tríade alérgica.
A dermatite é uma inflamação de origem alérgica que causa vermelhidão, lesões e coceira em graus que podem variar de um pequeno incômodo a feridas que exigem internação para tratamento. As estatísticas revelam que cerca de 55% dos pequenos portadores da doença estarão livres dos sintomas quando se tornarem adultos. Mas “algo entre 50% e 80% desses pacientes acabam mais tarde desenvolvendo asma e boa parte deles terá também rinite alérgica”, afirma Zuliani. Só para comparar: na população geral, apenas entre 10% e 15% dos adultos sofrem de asma.
Essas estatísticas são corroboradas por um grande estudo realizado na Austrália pelas universidades de Melbourne e Monash, em parceria com o Instituto de Pesquisa Menzies. Os pesquisadores acompanharam a trajetória da saúde de 8.583 pessoas, a partir dos 7 anos de idade, por quase quatro décadas.
A incidência das três facetas da tríade vem se alastrando. Até 1970, as doenças alérgicas acometiam cerca de 10% da população brasileira. Hoje atingem de 30% a 35%. A explosão dos casos resulta, em grande parte, da maior exposição a fatores desencadeantes dos sintomas, como a poluição.
“A hereditariedade é outro fator importante”, ressalta Hamilton Ometto Stolf, professor assistente do departamento de dermatologia da Unesp de Botucatu. Nas crianças que têm um dos pais com rinite, asma ou dermatite atópica, o risco de desenvolver uma das condições é 25% maior – chance que dobra caso os dois pais sofram de uma das três manifestações alérgicas.
Problemas comuns exigem tratamentos muitas vezes semelhantes. No receituário para combater o trio de doenças, costumam marcar presença corticoesteroides – na forma de cremes ou pomadas para dermatite, ou medicamentos para inalaAnti-histamínicos e os chamados antileucotrienos também integram o arsenal de substâncias prescritas aos alérgicos. Na ponta da prevenção, os médicos às vezes recorrem à ção e insuflação no caso de asma e rinite. imunoterapia, as chamadas “vacinas contra alergia”.
Para romper a relação
Em busca de novos tratamentos, pesquisadores buscam agora entender melhor por que a dermatite atópica está relacionada à asma. Na investigação, a pergunta é inevitável: existe uma relação causal entre as duas doenças ou elas apenas se limitam a diferentes faces do mesmo problema? “O eczema não é a única causa da asma, mas possivelmente é uma das causas – e uma causa importante”, disse em entrevista por e-mail à “Unesp Ciência” o pesquisador responsável pelo estudo com os 8.583 australianos, Paul Burgess, do Centro de Epidemiologia Molecular, Ambiental, Genética e Analítica da Universidade de Melbourne.
Pesquisadores americanos da Universidade Washington, no Missouri, investigaram essa hipótese realizando experimentos em camundongos modificados geneticamente para que desenvolvessem o eczema. Concluíram que a pele lesionada libera uma substância desencadeadora de poderosa resposta imune, a TSLP (linfopoietina estromal tímica). Ao ingressar na circulação sanguínea e atingir os pulmões dos roedores, a molécula provocou nos animais os mesmos sintomas da asma. Outras experiências demonstraram que camundongos com pele sadia mas alterados geneticamente para produzir mais TSLP que o normal também sofreram do problema pulmonar.
Rafael Kopan, professor da Universidade Washington e um dos autores da pesquisa, baseia-se nestes experimentos para sugerir que, aliada ao tratamento precoce das lesões, a busca de formas de inibir a liberação de TSLP pode ser a chave para romper a associação entre asma e eczema.
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