quarta-feira, 23 de junho de 2010

Eficiente, vacina contra o HPV ainda é inacessível

Em 2010 devem ser registrados, segundo a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 18 mil novos casos de câncer do colo do útero no Brasil. Por ano, a doença atinge 500 mil mulheres em todo o mundo e pelo menos metade delas acaba morrendo. Muitos desses casos poderiam ser evitados com a vacina que previne contra a infecção pelo HPV (papilomavirus humano). No entanto, a imunização ainda não é feita de forma massiva, principalmente por causa do alto preço da vacina. Existe hoje dois tipos de vacinas no mercado. Em abril deste ano, a GlaxoSmithKline, fabricante de uma delas, anunciou uma redução de preço em 50%. Com isso, a dose que custava R$ 229,33 passou a ter um preço de R$ 114,67. Mesmo assim, o Ministério da Saúde ainda não tem uma previsão de quando a vacina será incluída no calendário público. Como ela é administrada em três doses, a estimativa é que o custo para cobrir a população de meninas com idade entre 12 e 13 anos seria de aproximadamente R$ 1,8 bilhão.
Apesar do preço elevado, especialistas defendem os benefícios da vacina. As duas versões disponíveis hoje protegem contra os tipos de HPV mais frequentes e perigosos, já que se estima que existam mais de 100 tipos diferentes. Os vírus de alto risco, e portanto com maior probabilidade de provocar lesões pré-cancerosas, são os tipos 16, 18, 31, 33, 45 e 58. Já os HPV de tipo 6 e 11 são encontrados na maioria das verrugas genitais e, embora sejam frequentes, não oferecem risco de progressão para malignidade. Contaminação
Acredita-se que 80% das mulheres sexualmente ativas vão contrair um ou mais tipos de HPV ao longo da vida. Um estudo americano feito com estudantes universitárias mostrou que três anos após iniciarem a vida sexual, 60% das meninas já haviam sido contaminadas. No Brasil, um levantamento feito no Rio de Janeiro pela Fiocruz com 403 garotas revelou que, um ano após o início da vida sexual, 24% delas já apresentam lesões causadas pelo HPV.
Apesar disso, pesquisas internacionais que acompanharam jovens vacinadas no ano 2000 mostraram que quase uma década depois elas continuavam imunes. “A vacina é importante porque a infecção pelo vírus não produz imunidade. Se você contrai um tipo de HPV, pode contraí-lo novamente e também continua suscetível aos outros vírus”, explica o professor adjunto do departamento de Toco­­ginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Setor de Infecções/DST-Aids na Mulher do Hospital das Clínicas, Newton Carvalho.
Em países como Estados Unidos a vacina já tem indicação também para meninos e até mesmo mulheres com mais de 26 anos. Um estudo internacional realizado em 2008 no Brasil, México e nos Estados Unidos, com 4,2 mil homens entre 18 e 70 anos, revelou que 72% dos brasileiros têm o vírus. “Do ponto de vista de saúde pública é importante vacinar os meninos para que eles não transmitam o vírus para as meninas, que têm mais risco de desenvolver câncer. Mas pensando na saúde dos meninos, é importante porque eles também estão sujeitos a ter verrugas genitais”, explica o in­­fectologista do laboratório Frisch­­­mann Aisengart, Jaime Rocha.
Transmissão
A transmissão do HPV se dá por contato direto com a pele infectada. Os HPV genitais são transmitidos por meio das relações sexuais, podendo causar lesões na vagina, no colo do útero, no pênis e no ânus. “Em grande parte das vezes o sistema imunológico consegue combater a infecção, eliminando o vírus”, diz Carvalho.
Em 10% dos casos, uma lesão causada pelo HPV evolui para câncer do colo do útero. Sabe-se que alguns fatores aumentam o risco de tumores, entre eles o número elevado de gestações, uso de contraceptivos orais, tabagismo, infecção pelo HIV e outras doenças sexualmente transmitidas. De acordo com o médico ginecologista Rosires de Andrade, professor da disciplina de Reprodução Humana da UFPR e investigador de protocolos HPV no Brasil, é importante lembrar que a vacina não exclui a necessidade de fazer anualmente o exame preventivo do câncer nem a importância de ter relações sexuais com proteção. “A porcentagem de mulheres que fazem o preventivo de câncer no Brasil ainda é baixa, principalmente entre as mais velhas”, comenta.

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