segunda-feira, 14 de junho de 2010

O cérebro e o futebol

Canarinhos, uni-vos! É chegada a hora de torcer. Seja do jeito que for, em casa ou em um estádio na África do Sul, saiba que este ritual composto por pipocas e vuvuzelas tem explicação científica. A paixão nacional é comandada por um cérebro verde e amarelo. Mais especificamente pelo cerebelo: estrutura classicamente considerada responsável pela coordenação motora que vem sendo observada também nas funções cognitivas.
O futebol estimula nos jogadores e no público várias sequências cognitivas. Ou seja, pensamentos elaborados sobre a partida, com noções de ação e reação, como o desejo de vencer, o medo de perder, as lembranças de situações semelhantes do passado, antecipações sobre as implicações de uma vitória ou uma derrota. Segundo Ana Maria Serra, psicóloga e terapeuta do Instituto de Terapia Cognitiva, de São Paulo, o corpo responde a essas sensações por ordem do sistema nervoso autônomo em forma de tensão muscular, atenção redobrada a cada detalhe do jogo, aceleração cardíaca, alterações respiratórias e suor excessivo. E isso, por sua vez, resulta em comportamentos como gritos de incentivo, xingamentos, hiperatividade, bater palmas e roer as unhas.
Para os mais aficcionados, o jogo pode provocar estresse; enquanto para os torcedores mais relaxados não passa de diversão ou, para os balipodófobos (sim, existem pessoas com fobia de futebol), contrariedade com tamanha comoção pelo mundo onde rola a bola. “Tudo depende do significado que cada pessoa atribui ao futebol. A maioria da população brasileira parece ter crenças culturalmente compartilhadas e reforçadas do tipo ‘este é o país do futebol’, ‘vamos mostrar ao mundo que somos os melhores’. Ou ainda: ‘pelo menos no futebol somos os melhores’. Essas crenças são ativadas em tempo de Copa do Mundo, provocando emoções muito fortes, de ansiedade e raiva, diante de falhas, e forte alegria, diante de vitórias”, diz ela.
Para Luiz Carlos Ribeiro, professor de História da UFPR e integrante do Grupo de Estudos do Futebol e Sociedade, a paixão pelo futebol pode ser explicada pela necessidade do ser humano de criar envolvimentos (como os amorosos, a religião, os partidos políticos) e, com isso, conquistar uma válvula de escape, um ativador da adrenalina ou um agente causador de sofrimento. “Gostamos de futebol por uma questão cultural. Os imigrantes europeus trouxeram para o Brasil o jogo de regras e execução fácil. E o futebol das peladas de bairro, dos talentos individuais, da possibilidade de ascensão por meio do esporte virou mania. Junto disso, vêm os apelos da mídia, os produtos temáticos e a comoção geral. É difícil não gostar, nem que seja em tempos de Copa, como dizem boa parte dos não aficcionados por futebol”, comenta ele. “O melhor é que o futebol tem um caráter lúdico que, no final, se transforma em conversa de botequim. A gente não vive de futebol. Vive com futebol. Ele é parte da vida”, brinca.

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