Os índices de cura no Estado, de 62%, abaixo do devido, além da alta taxa de abandono são causas de preocupação

Lêda Gonçalves - Repórter
E não é para menos. Há dez anos, em 2006, o Estado conseguiu 79,9% de cura e 7,7% dos pacientes deixaram o tratamento, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa).
"Se temos um índice de cura baixo e muito abandono, o resultado não poderia ser outro, senão um cenário complicado", aponta a coordenadora do Programa Estadual de Combate à Tuberculose, Sheila Santiago. Para ela, é fundamental o apoio das gestões municipais, com acompanhamento das doses dos medicamentos para que o paciente não deixe o tratamento de lado. "Entendemos que seis meses é muito tempo, mas sem completá-lo, a pessoa não estará 100% curada", destaca.
Cidades
Oito municípios concentram os maiores índices: Fortaleza (com 1.1 mil casos e 21 mortes); Sobral (com 107); Caucaia (94); Maracanaú (85); Juazeiro do Norte (54); Eusébio (24); Itaitinga (23), e Horizonte (22).
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões. A doença é curável desde 1944, quando foi inventado o primeiro antibiótico para o tratamento. Hoje, um coquetel com três ou quatro medicamentos dessa classe são usados para debelar o bacilo. Anualmente, são notificados cerca de seis milhões de novos casos em todo o mundo, levando mais de um milhão de pessoas a óbito.
O surgimento da Aids e o aparecimento de focos de tuberculose resistente aos medicamentos agravam ainda mais esse cenário. Não é sem motivo que a Sesa divulgou Nota Técnica alertando para a necessidade da realização de exames para o diagnóstico precoce, principalmente, naqueles que convivem com HIV. "Isso é essencial para impedir o aumento da incidência de ambas às infecções e levar, consequentemente, à morte", diz.
Gravidade
O diagnóstico tardio da tuberculose impacta diretamente na mortalidade, aponta a médica Sheila Santiago. A detecção de casos nas formas clínicas graves e de forma tardia eleva também a taxa de letalidade. "Importante ressaltar que a TB é uma doença que tem tratamento eficaz, com evolução para a cura se conduzido de forma adequada, com os seis meses de medicação sem interrupção", orienta a coordenadora do Programa Estadual de Combate à Tuberculose.
O Brasil integra o bloco dos 22 países do mundo em desenvolvimento que abrigam 80% dos portadores da doença. Ao contrário das nações desenvolvidas, indica, onde o mal é mais frequente em pessoas idosas, por aqui a tuberculose acomete todos os grupos etários.
Os homens adoecem duas vezes mais que as mulheres, a maior parte em idade produtiva. Além disso, a prevalência é maior em áreas de alta concentração populacional, com precárias condições socioeconômica e sanitária.
FIQUE POR DENTRO
Avanços facilitam tratamento
A tuberculose existe desde a pré-históricos. Esqueletos do antigo Egito (3000 a.C.) e, mais recentemente, uma múmia pré-colombiana no Peru foram encontrados com sinais da doença.
Várias tentativas de tratamento foram feitas antes da descoberta de medicamentos eficazes que curam o mal. Ingestão de preparados exóticos, utilização de sangrias e indução de vômitos são exemplos.
Alguns pacientes eram proibidos de falar ou rir e ficavam deitados. Outros se deslocavam para regiões litorâneas ou montanhosas para se tratar e aqueles que não tinham forças para a viagem passavam a dormir com travesseiros de folhas de pinheiro.
Os médicos tinham dificuldade para diagnosticar a doença antes que atingisse gravemente pulmões e ossos. Isso só foi possível em 1824, com a invenção do estetoscópio.
Em 1882, o bacteriologista inglês Robert Koch identificou o agente causador da enfermidade, a bactéria Mycobacterium tuberculosis, também chamada de bacilo de Koch. A invenção do raio X, no final do século XIX, permitiu a visualização das imagens de partes internas do corpo.
Em 1908, os cientistas Albert Calmette e Camille Guérin conseguiram isolar uma cepa do bacilo da TB e desenvolveram a vacina. A cepa recebeu o nome de bacilo Calmette-Guérin ou "BCG". A vacina foi aplicada pela primeira vez em crianças em 1921 e oferece proteção por 10 anos. Em 1944 foi inventado o primeiro antibiótico.
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