terça-feira, 4 de outubro de 2016

Microcefalia: incidência pode se tornar sazonal - Ce

Assim como a dengue, a malformação, causada por zika, via mosquito, deve crescer em certas épocas do ano
Vanessa Madeira 
Neste mês, o Ceará completa um ano desde as primeiras notificações de Síndrome Congênita do Vírus Zika. Entre outubro de 2015 e outubro de 2016, foram contabilizados 588 casos suspeitos, 147 casos confirmados e 24 vítimas da malformação. Hoje, o Estado vivencia a desaceleração e estabilização do número de ocorrências. Nas últimas cinco semanas epidemiológicas, de 28 de agosto a 3 de outubro, não houve alterações na quantidade de óbitos e apenas cinco novos casos foram observados. No entanto, segundo especialistas, uma das possibilidades para o futuro é que, assim como a dengue, o problema torne-se sazonal, com picos de registros ao longo dos anos, ainda que em menor dimensão.
sda Segundo o infectologista Robério Leite, do Hospital São José, o cenário atual de queda nas confirmações de microcefalia e alterações do Sistema Nervoso Central (SNC) já era previsto após o forte surto do fim de 2015 e o término do período chuvoso deste ano, no qual ocorre maior proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus zica. "Tivemos uma epidemia de infecção por vírus zika e, na sequência, tivemos um pico de casos de microcefalia. Agora, vai haver uma queda esperada, porque, com a epidemia, diminuiu a população susceptível", completa o médico.
Ele destaca, porém, que, com o passar dos anos, se as medidas de controle do mosquito Aedes aegypti continuarem se mostrando ineficazes, o número de pessoas vulneráveis deve aumentar novamente, o que poderá causar novos surtos de infecção, inclusive entre gestantes, e da malformação. "É provável que a doença fique ocorrendo, e, embora numa dimensão menor, também ocorra uma sazonalidade de microcefalia. Nove meses após a quadra chuvosa, período de grande proliferação do mosquito, deve haver maior número de casos. Mesmo que não seja no volume de anteriormente".
Embora afirme que ainda é cedo para fazer previsões, o infectologista Érico Arruda, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia, também ressalta que os casos de infecção por zika vírus podem voltar a crescer a partir da quadra invernosa do próximo ano, criando um cenário propício para novas ocorrências de microcefalia.
"Estamos na expectativa para ver o que acontecerá no começo do próximo ano, que é quando ocorre o período chuvoso", afirma. "Não tenho certeza da quantidade de pessoas que se infectaram no surto do ano passado, mas ainda deve existir um percentual significativo da população ainda suscetível ou com menos imunidade. É possível que tenhamos novamente um crescimento do número de casos de zica", afirma. Contudo, o médico diz que é necessário ter cautela ao fazer avaliações sobre a infecção por vírus zika e a microcefalia, uma vez que ambas ainda são situações recentes no País. "Quando nos perguntam o que vai acontecer, dizemos que é preciso aguardar. Algo que aprendemos nesse ano é que precisamos ter mais cuidado na avaliação de coisas novas", afirma.
Medidas
Para o infectologista Robério Leite, outro aprendizado de um ano de registros de microcefalia no Estado do Ceará é a necessidade de pensar em novas medidas de controle do Aedes aegypti, tanto por parte do poder público como da sociedade. Segundo ele, apenas a mudança de hábitos poderá funcionar como prevenção contra os agravos causados pelo mosquito.
"Reproduzir as estratégias de controle que existem desde o início do século passado não adianta. As campanhas não têm dado resultado eficiente, e as pessoas não mudaram de postura em relação ao convívio que possuem como meio ambiente. Em nível institucional, deve haver um esforço tanto para buscar uma situação de saneamento melhor para o País, e a sociedade também precisa ter consciência desse cuidado", diz.

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