segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres contam como conciliam trabalho, filhos e cuidados com a casa-8 de março - dia internacional da mulher

Filhos, carreira, viagens e a manutenção da casa. Conciliar tantas responsabilidades pode não ser uma tarefa fácil, mas o fato é que a tal da tripla jornada feminina faz parte da vida de cada vez mais brasileiras. A tendência, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é que o ingresso das mulheres no mercado de trabalho não acarrete o abandono das tarefas domésticas.

Um estudo sobre o uso do tempo, que tem como base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 e 2005, aponta ainda que, se considerada a jornada do trabalho produtivo mais os afazeres domésticos nos cinco dias úteis da semana, as mulheres, em média, trabalham 11,5 horas por dia. Os homens, 10,6 horas.

Em casos de casais com filhos, o número de horas dedicadas, por homens "chefes de família", aos afazeres domésticos, aumentou entre 2001 e 2005, passando de 8,8 horas semanais para 9,6. Ainda assim, o tempo das mulheres nessas atividades corresponde a mais do que o triplo do observado para os homens - 29 horas.

E neste Dia Internacional da Mulher, nada melhor do que contar histórias de bons exemplos desta dedicação. Marlise, Shirlene e Daiane, entre tantas outras mulheres, têm filhos, trabalham fora e dão conta de deixar a casa em ordem.Para a fonoaudióloga Marlise Dias de Abreu, 43 anos, mãe de dois filhos, de 13 e 21 anos, o trabalho só foi interrompido durante alguns períodos, e retomado por uma questão de necessidade.
“Deixei de trabalhar por vários períodos pequenos durante seguidas internações do meu filho em virtude de crises de asma. Com a Maylime, minha filha mais velha, foram menos vezes. Mas sempre os acompanhei quando passaram por algum problema de saúde. Fiquei afastada também na época do nascimento de ambos. Já a decisão de retomar a carreira foi uma necessidade. O trabalho teria que ser retomado de qualquer maneira, pois é através dele que mantenho nossa casa e nossas vidas”, diz ao G1.

Os filhos da fonoaudióloga aprenderam a conviver com a carga horária semanal da mãe: 32 horas fixas em um centro de reabilitação e mais quatro horas adicionais com atendimento em domicílio. “No meu dia a dia, não tive que fazer nenhuma grande adaptação, pois são feitas médias e pequenas adaptações todos os dias.”

Mas como será que a chefia no trabalho lida com as interrupções ocasionadas pela maternidade? “Por muito tempo fui autônoma e então era mais fácil. Ainda assim precisava desmarcar meus pacientes e isso, mesmo sempre bem compreendido, poderia afetar a qualidade do meu atendimento. Desde que estou no centro de reabilitação, tenho a sorte de ter uma coordenadora compreensiva, que entende esses afastamentos, embora as minhas faltas devam ser repostas”, afirma.Quando o assunto é auto-estima da mulher, a independência financeira pode trazer ainda mais benefícios. “A autonomia reflete no controle da sua vida em geral. Penso que, feliz ou infelizmente, quando não há autonomia financeira, não há estabilidade dos outros aspectos da vida mulher e a família pode se desestruturar, se realmente os laços afetivos não forem fortes. Nesse sentido, posso dizer, por experiência própria, que muitos casamentos são desfeitos por problemas financeiros, mesmo depois de muitos anos de convivência.”

Marlise é divorciada e conta com a ajuda da mãe para se manter sempre presente no cotidiano dos filhos. “No meu caso, a participação efetiva da minha mãe no acompanhamento das atividades, principalmente escolares e médicas dos meus filhos, foi fundamental, ainda mais quando eles eram pequenos. Hoje, ela me auxilia na parte da manhã, quando providencia o almoço do Matheus e o leva para a escola. Algumas vezes também é ela quem o leva em consultas médicas de rotina. Quando meus filhos eram menores, mesmo estando casada, foi sempre minha mãe quem me auxiliou nessas ocasiões”, conta.

Apesar dos esforços para cumprir com todas as suas responsabilidades da melhor forma possível, o acúmulo de funções é bastante cansativo. “Confesso que muitas vezes passei por crises em que me considerava aquém do esperado em todas as áreas. Muitas vezes parece que você faz o melhor, mas não o suficiente. Parece que quando você privilegia alguma parte da sua vida, a outra fica defasada”, diz.Escolha consciente- A maternidade sempre foi um sonho da agente operacional Shirlene Luna, 42 anos. E para que nenhum aspecto da vida pessoal atrapalhe o desenvolvimento profissional, é preciso planejamento. Por isso, a decisão de tornar-se mãe levou-a a diversas ponderações. “Esperei cinco anos depois que me casei para ter meu primeiro filho, hoje com 7 anos. Três anos depois engravidei da minha caçula, de 3 anos. Eu e meu marido queríamos curtir a vida a dois, arrumar o apartamento, até o momento em que decidimos que era a melhor hora”, diz.

Shirlene trabalhou até uma semana antes do nascimento de seus filhos e, depois das licenças-maternidade, nunca mais deixou de trabalhar. Ainda assim, apesar das gestações programadas, ela teve que abrir mão de outras metas para se dedicar à família. “Pequenas adaptações de horário não atrapalharam minha carreira, mas abri mão de cursos e uma pós-graduação, por exemplo, porque decidi ser mãe. Poderia estar mais bem colocada profissionalmente.” Ela não se arrepende. E acredita que o trabalho da mulher contribui para uma melhor relação com o marido e leva à admiração dos filhos.

Com um cotidiano agitado, Shirlene é a responsável, de manhã, pela alimentação, banho, e lanche dos filhos. Durante a tarde, atua em uma multinacional do ramo do turismo, e à noite, depois do cansaço causado por inúmeras reuniões, reassume a casa e cuida do jantar e lições de casa das crianças. Não sobra tempo para cuidar da beleza ou de projetos pessoais. “A vida toda muda. A relação com o marido e com os amigos fica diferente, e você passa a ter outros objetivos. Por isso é tão importante decidir com consciência. No fim, vale muito a pena”, afirma.

Maternidade adiada- Mãe de uma menina de 1 ano e seis meses, e casada há sete anos, Daiane França Coletti, 35 anos, adiou a maternidade para se dedicar à carreira de administradora. Ela é funcionária de uma empresa há nove anos e o fato de ocupar um cargo de confiança foi determinante para decidir qual a hora certa de adicionar a maternidade à lista de responsabilidades.

“Queria engravidar antes, mas adiei por receio de não estar preparada e por ponderar a influência da gravidez na minha carreira. Por ocupar um cargo de confiança, assim que decidi engravidar, avisei a empresa. Eles me apoiaram bastante, mas confesso que não tinha certeza se teria meu emprego de volta depois da licença”, afirma.
A licença-maternidade, que era para somar cinco meses, foi interrompida pelo trabalho. Daiane ainda amamentava, e por isso teve que adaptar o horário de expediente. “Eu entrava uma hora mais cedo do que o usual, e, portanto, saía uma hora mais cedo também”, diz.
Como toda mãe que concilia filhos, carreira e casa, Daiane viu sua vida mudar completamente, e sofreu com a falta de tempo para cuidar de si mesma. “Você passa a viver para seu filho e isso absorve muito o tempo. Eu diria que, no primeiro ano, absorve todo o seu tempo."

Para superar a falta de tempo para se cuidar, o que considera o maior obstáculo da tripla jornada, o trabalho foi um grande aliado. "Você volta a ver as pessoas, consegue sair um pouco. Durante o dia, enquanto estou trabalhando, minha filha fica com minha sogra, mas aos fins de semana não temos tempo para sair, queremos ficar com ela", diz.
“Nunca pensei em deixar de trabalhar. Sempre tive meu dinheiro, gosto da minha profissão, de trabalhar. Só deixaria tudo isso se minha filha precisasse de mim por razões de saúde”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário