sexta-feira, 9 de abril de 2010

60% dos médicos no CE estão na Capital

Apesar do salário convidativo que pode variar entre R$ 6mil ou R$ 7mil, a maioria dos médicos convocados para trabalhar no Interior do Estado do Ceará ainda prefere ficar na Capital.No Interior, a proporção é de um médico para 4.949 habitantes, enquanto que em Fortaleza essa proporção é de um médico para 373 habitantes. Os dados são da pesquisa, divulgada ontem, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a concentração de médicos no Brasil.Na média total, o Estado do Ceará apresenta a proporção de um médico para 994 habitantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como parâmetro ideal de atenção à saúde da população a relação de um médico para cada 1.000 habitantes.Hoje, 4.824 médicos trabalham em Fortaleza e 3.142 no Interior. Apesar da maioria dos Estados brasileiros apresentar a média recomendada pela OMS, a desproporção da presença desses profissionais quando os dados são analisados na Capital e Interior é muito grande.Na pesquisa, a capital paulista apresenta a relação de um profissional para 239 habitantes, média superior à de países europeus. A região Sudeste concentra 55% dos médicos.Comparado a outros estados, o Ceará apresenta uma média dentro do estipulado pela OMS, mas abaixo de outros estados da região Nordeste como Pernambuco (um médico para 754 habitantes), Paraíba (um médico para 886 habitantes) e Bahia (um médico para 972 habitantes).No Interior do Estado de Roraima, há um médico para 10.306 habitantes, média inferior à de nações africanas.Dados coletados entre os anos de 2000 e 2009 apontam que a média nacional de um médico para um grupo de 578 habitantes, índice próximo a de países como Estados Unidos, que é de 411 pessoas.A pesquisa também mostra que o total de médicos cresce mais que o tamanho da população, em termos percentuais, e que nesse período avaliado o número de mulheres que se graduam em Medicina já supera o de homens.ConcentraçãoA escolha dos profissionais cearenses em trabalhar na Capital, engrossa a estatística apresentada na pesquisa do CFM: a concentração de profissionais em determinadas regiões mais desenvolvidas, no litoral e nas capitais, em contraponto com a escassez de médicos nos municípios mais distantes e pobres.A explicação para essa situação, segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, José Maria Pontes, é que o salário aparentemente atrativo não revela as péssimas condições de trabalho. Tem, ainda, a precariedade das cidades onde vão trabalhar, a insegurança e a falta de vínculo empregatício ou nenhuma garantia ou direito trabalhista quando acaba o contrato."Não sei nem informar quantas ações trabalhistas temos aqui no sindicato devido ao grande volume de processos. Em algumas cidades do Interior, o médico não tem a garantia nem de realizar uma sutura; não tem férias e muitas vezes depois de trabalhar o dia inteiro ainda tem que tirar um plantão", argumenta.Além disso, José Maria Pontes explica que fora de Fortaleza, o médico não tem a chance de realizar uma especialização, de evoluir na carreira. Ele justifica que o salário ideal para se trabalhar no Interior seria de aproximadamente R$15 mil.Tramita no Congresso Nacional Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Nº 454, que estabelece o salário de R$15 mil para os médicos.A reportagem tentou entrevistar o secretário da Saúde do Estado, Arruda Bastos. O contato foi feito com a Assessoria de Imprensa da Sesa, que não deu retorno até o fechamento da edição.No município de Fortaleza, a Assessoria de Imprensa não atendeu as ligações para comentar os dados da pesquisa.Reclamações"Em cidades do Interior, o médico não tem a garantia nem de realizar uma sutura""Não sei quantas ações trabalhistas temos aqui no sindicato "José Maria Arruda PontesPresidente do Sindicato dos Médicos do Estado do CearáNO ESTADO408 profissionais não têm registroO levantamento do Conselho Federal de Medicina foi realizado com base no endereço de correspondência informado pelos profissionais aos Conselhos Regionais de Medicina do País.De acordo com a pesquisa, 408 profissionais no Ceará ainda não possuem o registro. Apesar da pesquisa apontar uma distribuição heterogênea dos profissionais de Medicina em todo o Brasil, as diferenças regionais ainda são grandes.Enquanto mais da metade dos médicos está na Região Sudeste, são 439 habitantes por profissional, no Centro-Oeste há um profissional para cada grupo de 590 habitantes; e no Nordeste, um para cada grupo de 894 habitantes.No Amazonas, 88% dos profissionais estão na capital Manaus, que tem um médico para 574 habitantes.Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes, a desvalorização da profissão afasta o médico das cidades do Interior. "As prefeituras, na sua maioria, não cumpre contratos, nem dão condições aos profissionais. Quando o médico vai para municípios como Sobral ou Juazeiro ainda consegue se manter e produzir com qualidade. Fora isso, listo mais uns 15 ou, no máximo, 20 municípios no Ceará que apresentam estrutura de trabalho", diz.Na pesquisa, o CFM considera fundamental que a estrutura e os recursos tecnológicos da saúde seja aperfeiçoados, principalmente no interior dos estados. O primeiro secretário do CFM e responsável pela coleta das informações, Desiré Carlos Callegaria, defende melhores políticas para a interiorização do profissional. Callegaria ainda analisa como desnecessária a abertura indiscriminada das escolas médicas em todo o País."O Brasil possui hoje 181 escolas médicas, sendo que, dessas, 100 foram instaladas na última década. Observamos que a qualidade do ensino tem caído muito nesse período", analisa Desiré Callegaria .

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