domingo, 4 de abril de 2010

Costumes antigos para bebês modernos

Pensar em fraldas de pano dá uma sensação de preguiça. Lembra as mães de 30 anos atrás que, além de todos os cuidados com o bebê, precisavam encontrar tempo e forças para passar as fraldas de pano antes da próxima troca. Sem contar as lavagens rigorosas, o molho, a coarada (deixar com sabão no sol) e até fervura para as mais exigentes. No varal, fraldas branquinhas a perder de vista.
Pois esse e outros antigos costumes da puericultura estão voltando, de forma mais prática e sem alguns exageros. Pen­sando na saúde dos filhos e na promoção de um mundo mais sustentável, pais estão aderindo à versões modernas de fraldas de tecido, mamadeira de vidro e lenços para carregar bebês.
O retorno da fraldas de pano aconteceu inicialmente na Europa. A empresária Bettina Lauterbach, que fabrica e vende produtos infantis alternativos, recebeu uma demanda de mães que tinham morado em outros países, como Inglaterra. “Elas me pediam para fabricar fraldas de pano porque era salutar para a criança, já que diminuem bastante as alergias”, conta. Há três anos passou a vender em sua loja virtual, a Fralda Bonita, as peças que produz. O alfinete deu lugar a botões reguláveis ou velcros.
Com estampas chamativas e em vários modelos, as fraldas de tecido estão disponíveis em lojas e sites especializados em produtos sustentáveis. A maior parte tem o formato parecido com a descartável, vêm com a superfície externa impermeável e absorvente de pano, ou de um papel, para ser colocado em contato com a pele do bebê.
A cada troca, a fralda passa por um enxague e fica de molho em sabão neutro. Quando se acumulam fraldas em quantidade razoável, as peças podem ir para a lavagem na máquina. Depois são estendidas no varal, com as outras peças de roupa. “O sabão disponível hoje no mercado é suficiente para dar conta da higienização. Não precisa deixar no sol, passar goma ou produto para clarear. A tecnologia acompanhou as novas fraldas de pano”, diz Betina.
Argumentos prós
O argumento de uso sustentável utilizado pelas adeptas é forte. Pelos cálculos dos defensores, são utilizadas em média 5,5 mil fraldas descartáveis por crianças durante os dois anos e meio iniciais. O que atinge um gasto de R$ 3.575 durante este período. As fraldas descartáveis somam 2% do total do lixo doméstico enviado aos aterros e levam, segundo estimativas, 400 anos para se decompor. Somente em Curitiba, segundo pesquisa realizada pelo espaço Aobá – de acompanhamento de gestantes e pais – uma tonelada de fraldas descartáveis é enviada por dia ao aterro sanitário. “A descartável foi importante em uma época em que as mulheres estavam entrando no mercado de trabalho e tinham nela uma aliada da praticidade. Hoje, algumas pessoas estão modificando seu comportamento por uma questão de consciência e fazendo escolhas que transmitem valores”, diz a psicóloga e doula Luciana Lima, coordenadora do Aobá.
Luciana utiliza as fraldas de pa­­no no filho Aysso, de 2 meses. Im­­porta e vende fraldas feitas de ma­­terial orgânico, vindos da Ale­­ma­nha. “Não adianta pensar so­­men­­te no descarte e sim no processo de produção da fralda. Não pos­so ter todo um discurso consci­­ente e vestir meu filho com roupas feitas em indústrias que desrespeitem meus valores”, diz.
A engenheira civil Sibelle Lara, 35 anos, também optou pelas fraldas de pano desde que Eduardo, 10 meses, nasceu. Diz que elas não dão tanto trabalho quanto parece. “São dez minutos a mais por dia gastos com a lavagem. É uma questão de opção.” Enquanto o filho não for para o berçário, ela vai manter a opção, mas sabe que terá dificuldade de encontrar uma escola que aceite cuidar da criança com fralda de pano.
A alternativa de tecido tem um custo que, segundo os adeptos, se torna vantajoso em pouco tempo. Cada pacote com absorvente, calça impermeável e 18 conjuntinhos de fraldas importadas por Luciana custa R$ 715. Esse valor corresponde ao gasto de quatro meses de fraldas descartáveis. Outra vantagem é que como o próprio bebê se incomoda mais com a fralda de tecido quando suja, já que não há o gel absorvente, acaba por “desfraldar” mais cedo.
O problema começa ao pensar em sair de casa. A descartável acaba sendo inevitável em um passeio, pois não é muito agradável pensar em carregar um saquinho plástico com uma fralda suja de cocô até chegar em casa.
O tecido causa menos alergia desde que seja bem lavado, enxaguado e que não guarde resíduos de sabão, de acordo com a pediatra Clau­­dete Closs. Ela confirma que os pro­­dutos utilizados na fabricação das descartáveis, como o plástico e o gel, podem provocar alergias. “Vai depender da sensibilidade do bebê. Al­­guns desenvolvem aler­­gias com uma marca e não com outra”, diz a médica.
Mamadeiras
Se os argumentos a favor das fraldas de pano são diversos, a mamadeira de vidro gera controvérsias. Seus defensores dizem que uma substância liberada com o aquecimento do plástico, o bisfenol A , está ligada ao surgimento de câncer. Um estudo realizado na Universidade do Missouri (EUA), em 2007, teria comprovado essa ligação. De acordo com a Anvisa, porém, a quantidade de bisfenol estipulada para a fabricação não prejudica a saúde.
Algumas marcas de produtos in­­fantis já fabricam uma versão em vidro que vem com uma capa de silicone para que a mamadeira não escorregue das mãos. O primeiro problema apontado por especialistas é justamente a possibilidade de o vidro se quebrar e machucar os pequenos.
Mas o principal argumento contrário é a contra-indicação das mamadeiras. “A amamentação deve ser exclusiva até o sexto mês e complementada até 2 anos, ou mais. Não precisa de mamadeira, desde que a mãe seja bem orientada”, diz Claudete Closs, coordenadora do programa de aleitamento materno da secretaria municipal de Saúde de Curitiba.
Se por algum motivo a mãe não puder amamentar, o recomendado é que a criança receba o leite colocado em um copo e dado com colher. A questão maior é a higienização da mamadeira, que pela forma, impede a esterilização perfeita, podendo causar infecções, como candidíase.
O bom colo
O costume antigo, associado à comunidades indígenas, de carregar filhos amarrados em pano também tem aparecido cada vez mais nas grandes cidades. Conhecidos como slings (tipoia), os tecidos usados para carregar bebês colocam o corpo da criança colado ao dos pais, dando conforto e acalmando. Também são vendidos em diversos modelos e estampas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário