Pensar em fraldas de pano dá uma sensação de preguiça. Lembra as mães de 30 anos atrás que, além de todos os cuidados com o bebê, precisavam encontrar tempo e forças para passar as fraldas de pano antes da próxima troca. Sem contar as lavagens rigorosas, o molho, a coarada (deixar com sabão no sol) e até fervura para as mais exigentes. No varal, fraldas branquinhas a perder de vista.
Pois esse e outros antigos costumes da puericultura estão voltando, de forma mais prática e sem alguns exageros. Pensando na saúde dos filhos e na promoção de um mundo mais sustentável, pais estão aderindo à versões modernas de fraldas de tecido, mamadeira de vidro e lenços para carregar bebês.
O retorno da fraldas de pano aconteceu inicialmente na Europa. A empresária Bettina Lauterbach, que fabrica e vende produtos infantis alternativos, recebeu uma demanda de mães que tinham morado em outros países, como Inglaterra. “Elas me pediam para fabricar fraldas de pano porque era salutar para a criança, já que diminuem bastante as alergias”, conta. Há três anos passou a vender em sua loja virtual, a Fralda Bonita, as peças que produz. O alfinete deu lugar a botões reguláveis ou velcros.
Com estampas chamativas e em vários modelos, as fraldas de tecido estão disponíveis em lojas e sites especializados em produtos sustentáveis. A maior parte tem o formato parecido com a descartável, vêm com a superfície externa impermeável e absorvente de pano, ou de um papel, para ser colocado em contato com a pele do bebê.
A cada troca, a fralda passa por um enxague e fica de molho em sabão neutro. Quando se acumulam fraldas em quantidade razoável, as peças podem ir para a lavagem na máquina. Depois são estendidas no varal, com as outras peças de roupa. “O sabão disponível hoje no mercado é suficiente para dar conta da higienização. Não precisa deixar no sol, passar goma ou produto para clarear. A tecnologia acompanhou as novas fraldas de pano”, diz Betina.
Argumentos prós
O argumento de uso sustentável utilizado pelas adeptas é forte. Pelos cálculos dos defensores, são utilizadas em média 5,5 mil fraldas descartáveis por crianças durante os dois anos e meio iniciais. O que atinge um gasto de R$ 3.575 durante este período. As fraldas descartáveis somam 2% do total do lixo doméstico enviado aos aterros e levam, segundo estimativas, 400 anos para se decompor. Somente em Curitiba, segundo pesquisa realizada pelo espaço Aobá – de acompanhamento de gestantes e pais – uma tonelada de fraldas descartáveis é enviada por dia ao aterro sanitário. “A descartável foi importante em uma época em que as mulheres estavam entrando no mercado de trabalho e tinham nela uma aliada da praticidade. Hoje, algumas pessoas estão modificando seu comportamento por uma questão de consciência e fazendo escolhas que transmitem valores”, diz a psicóloga e doula Luciana Lima, coordenadora do Aobá.
Luciana utiliza as fraldas de pano no filho Aysso, de 2 meses. Importa e vende fraldas feitas de material orgânico, vindos da Alemanha. “Não adianta pensar somente no descarte e sim no processo de produção da fralda. Não posso ter todo um discurso consciente e vestir meu filho com roupas feitas em indústrias que desrespeitem meus valores”, diz.
A engenheira civil Sibelle Lara, 35 anos, também optou pelas fraldas de pano desde que Eduardo, 10 meses, nasceu. Diz que elas não dão tanto trabalho quanto parece. “São dez minutos a mais por dia gastos com a lavagem. É uma questão de opção.” Enquanto o filho não for para o berçário, ela vai manter a opção, mas sabe que terá dificuldade de encontrar uma escola que aceite cuidar da criança com fralda de pano.
A alternativa de tecido tem um custo que, segundo os adeptos, se torna vantajoso em pouco tempo. Cada pacote com absorvente, calça impermeável e 18 conjuntinhos de fraldas importadas por Luciana custa R$ 715. Esse valor corresponde ao gasto de quatro meses de fraldas descartáveis. Outra vantagem é que como o próprio bebê se incomoda mais com a fralda de tecido quando suja, já que não há o gel absorvente, acaba por “desfraldar” mais cedo.
O problema começa ao pensar em sair de casa. A descartável acaba sendo inevitável em um passeio, pois não é muito agradável pensar em carregar um saquinho plástico com uma fralda suja de cocô até chegar em casa.
O tecido causa menos alergia desde que seja bem lavado, enxaguado e que não guarde resíduos de sabão, de acordo com a pediatra Claudete Closs. Ela confirma que os produtos utilizados na fabricação das descartáveis, como o plástico e o gel, podem provocar alergias. “Vai depender da sensibilidade do bebê. Alguns desenvolvem alergias com uma marca e não com outra”, diz a médica.
Mamadeiras
Se os argumentos a favor das fraldas de pano são diversos, a mamadeira de vidro gera controvérsias. Seus defensores dizem que uma substância liberada com o aquecimento do plástico, o bisfenol A , está ligada ao surgimento de câncer. Um estudo realizado na Universidade do Missouri (EUA), em 2007, teria comprovado essa ligação. De acordo com a Anvisa, porém, a quantidade de bisfenol estipulada para a fabricação não prejudica a saúde.
Algumas marcas de produtos infantis já fabricam uma versão em vidro que vem com uma capa de silicone para que a mamadeira não escorregue das mãos. O primeiro problema apontado por especialistas é justamente a possibilidade de o vidro se quebrar e machucar os pequenos.
Mas o principal argumento contrário é a contra-indicação das mamadeiras. “A amamentação deve ser exclusiva até o sexto mês e complementada até 2 anos, ou mais. Não precisa de mamadeira, desde que a mãe seja bem orientada”, diz Claudete Closs, coordenadora do programa de aleitamento materno da secretaria municipal de Saúde de Curitiba.
Se por algum motivo a mãe não puder amamentar, o recomendado é que a criança receba o leite colocado em um copo e dado com colher. A questão maior é a higienização da mamadeira, que pela forma, impede a esterilização perfeita, podendo causar infecções, como candidíase.
O bom colo
O costume antigo, associado à comunidades indígenas, de carregar filhos amarrados em pano também tem aparecido cada vez mais nas grandes cidades. Conhecidos como slings (tipoia), os tecidos usados para carregar bebês colocam o corpo da criança colado ao dos pais, dando conforto e acalmando. Também são vendidos em diversos modelos e estampas.
domingo, 4 de abril de 2010
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