segunda-feira, 5 de abril de 2010

Saudáveis em qualquer idade

A feição da pele, a memória e o raciocínio já não são mais os mesmos, assim como as facilidades de locomoção de outrora. Apesar disso, uma das grandes vantagem de se chegar à velhice é a clareza com que se vê a vida, sob uma ótica privilegiada de conjunto que os mais jovens não têm. É a chamada sabedoria do idoso. Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dão conta de que, em 2050, teremos muito mais pessoas idosas, com 60 anos de idade ou mais, do que pessoas jovens, com zero a 14 anos. Eles representarão cerca de 30% da população, enquanto os jovens, em torno de 13%.Mas um grupo, em especial, tem chamado a atenção. Trata-se daqueles que chegam a um século de vida ou mais. De acordo com o último censo demográfico do IBGE, existiam no Brasil, no ano 2000, 24.576 centenários. No Ceará, esse grupo somava 1.089 pessoas, dos quais 449 homens e 640 mulheres.Muito mais que chamar a atenção para as estatísticas, os centenários representam o modelo ideal de longevidade para a humanidade. Pelo menos é o que acredita o geriatra e coordenador do Centro de Atenção ao Idoso da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Macêdo Coelho Filho. O médico destaca que eles vivem até a idade extrema relativamente isentos de doenças. Em muitos não se encontra doença alguma, vivem de forma relativamente ativa e independente. Contudo, eles têm outra característica, quando adoecem, entram em incapacidade e rapidamente morrem.Os centenários, ao contrário do que muitos pensam, são um grupo à parte entre os idosos. Para eles, um fator é determinante para atingirem tal idade: o genético. Já para a população como um todo, os hábitos e estilos de vida são os fatores mais importantes.No Brasil, a rapidez com que a população está envelhecendo tem chamado a atenção. Segundo o geriatra, numa velocidade nunca vista na história da humanidade. Ele aponta dois fatores como determinantes para esse envelhecimento: a diminuição da taxa de mortalidade e a diminuição da taxa de fecundidade. "No futuro, vamos ter possivelmente um cenário de idoso cuidando de idoso e cônjuge cuidando de cônjuge", previu o médico João Macêdo.Preocupado com as projeções futuras, o especialista diz que temos que ter pressa, em termos de organização de serviços, para fazer frente a esse rápido processo de envelhecimento da população, principalmente na área da saúde, onde ainda estamos muito despreparados. "Basta dizer que nós não temos nenhum centro especializado no atendimento ao idoso e muitas necessidades, em termos de saúde da população idosa, não têm como serem atendidas pelo Sistema Único de Saúde. Seria muito mais prioritário para o Ceará um hospital para o idoso do que para a mulher".CentenárioNo dia 26 de fevereiro deste ano, o senhor Stênio Telmo Façanha Grangeiro comemorou com os cinco filhos, 19 netos e 20 bisnetos, os seus 100 anos de vida. Ainda lúcido e muito bem humorado, ele revelou que o segredo para chegar a esse marco é "viver e não morrer".Ainda hoje, "Seu" Stênio come de tudo, feijoada, camarão, linguiça, farofa e, de vez em quando, até bebe uma cervejinha. E não abre mão de tomar, diariamente, um cálice de vinho do porto no almoço."E eu já fiz 100 anos? Sou capaz de jogar futebol e ganhar", brincou "Seu" Stênio, para depois cair na gargalhada. Pescar, tomar banho de mar, plantar e assistir a lutas de boxe, são suas atividades favoritas. Em uma pescaria, em Águas Belas, litoral leste do Estado, fisgou, de uma só vez, dois peixes enormes. Fato comprovado pelas fotos estampadas na parede da sala de sua residência.Sem pestanejar, disse que não se arrepende de nada que fez em sua vida, apenas de algumas coisas que deixou de fazer, mas essas, prefere não comentar. Começou a trabalhar ainda cedo, aos 15 anos, no London Bank e lá permaneceu durante 45 anos, até se aposentar. "Seu" Stênio conta que um dos momento mais marcantes de sua vida foi quando arranjou o emprego. "Eu era um rapaz novo, metido a namorador, e fiquei muito feliz quando fui contratado", admitiu. Com saudades lembra de viagem que fez ao Pantanal, no Mato Grosso e assegura: "ainda vou voltar lá".Prática esportiva sempreUm bom exemplo de que idade não é empecilho para quem quer se exercitar é o do aposentado José Freitas de Almeida. Ele está chegando aos 70 de idade, em plena atividade. "Não tem idade para o esporte, pois com saúde a pessoa tira qualquer atividade física de letra", disse. Em 2010, Freitas completa 51 anos de atletismo. Mas atualmente, devido a uma prótese na perna direita, está impossibilitado de correr. Apesar do problema, não deixou de se exercitar. Todas as terças e quintas pratica atividades físico-respiratórias e de alongamento, na Avenida Beira-Mar. "A gente chega quebrado e saí inteiro. Estou chegando a essa idade graças ao esporte. Dou de chinelo na garotada", brincou.Envelhecimento do corpoSão várias as mudanças e manifestações que o corpo humano passa quando começa a envelhecer. Elas facilmente podem ser observadas. São alterações no sistema ósseo, no sistema muscular e na composição corporal. Além de mudanças no sistema somatosensorial, que afetam o equilíbrio corporal. A fiscal do Conselho Regional de Educação Física, Jaina Bezerra de Aguiar, explicou que a partir dos 40 anos, a estatura da pessoa pode começar a diminuir cerca de um centímetro por década, mas a partir dos 70 anos, essa redução é acentuada. A especialista diz que as mudanças são consideradas biologicamente normais e evoluem progressivamente. Porém, ela diz que podem ocorrer variações individuais, uma vez que cada pessoa envelhece de um modo.A prática de atividade física, além de promover a saúde, previne doenças, principalmente as crônico-degenerativas, como diabetes, hipertensão arterial e osteoporose. Em pessoas com patologias já diagnosticadas, a prática de exercícios pode contribuir no controle das doenças, evitando a sua progressão e até mesmo possibilitando a sua reabilitação. Além de proporcionar também um bem estar para o mente. "A pessoa começa a apresentar melhoras na autoestima, nos níveis da memória, ter um maior senso de independência e ainda reduz os quadros de depressão e ansiedade",OPINIÃO DO ESPECIALISTA-Fatores para atingir a longevidade-João Macêdo Coelho FilhoGeriatra e professor da UFC.Quando falamos em longevidade, estamos falando em uma dimensão quantitativa, de quanto tempo se vai viver. Mas o mais interessante é pensar em uma dimensão qualitativa, de envelhecimento saudável. A tendência hoje, é que esse termo seja substituído por envelhecimento ativo. Que significa atingir uma idade avançada, mas com capacidade para desenvolver projetos, se relacionar com as pessoas, ter autonomia para decidir o que quer para si, realizar atividades sem necessidade de ajuda dos outros. Na medida em que envelhecemos, a probabilidade de adquirirmos doenças aumenta muito, o que não significa dizer que não possamos gozar do envelhecimento ativo, contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento da sociedade. Não é muito salutar se vender a ideia de que a idade avançada é uma maravilha ou mesmo que venha a ser a melhor idade, não é bem assim. O que torna essa idade interessante não é a ausência dessas adversidades, mas a forma de lidar com elas. Para a população, de uma maneira geral, os fatores que contribuem para se atingir a longevidade são os hábitos e estilos de vida. Aqui entra alimentação, atividade física, a questão do cigarro, do fumo. Outro fator é a questão do ambiente em que se vive. Além, disso, tem também os aspectos sociais; que incluem o suporte da família. Outro aspecto é o existencial, que tem a ver com espiritualidade, a visão de mundo: por que estou aqui? Quais os meus objetivos? Qual a minha função social? Vários estudos demonstram que as pessoas que estão envolvidas com tarefas voluntárias, tendem a ter muito mais longevidade do que as pessoas que não tem essa postura. Por último, têm ainda os fatores econômicos, que é a questão da renda, do maior acesso aos serviços de saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário