sábado, 11 de setembro de 2010

Baixa doação dificulta transplante de ossos

Se a doação de órgãos ainda é um assunto que encontra resistência entre os familiares de pessoas falecidas, a rejeição ao tema aumenta quando se trata de doação de ossos. De cada 30 tentativas para se conseguir um doador em Curitiba, por exemplo, apenas uma família aceita o procedimento. A dificuldade de aumentar o estoque dos bancos de ossos do país cresce com a subnotificação de possíveis doadores às centrais de transplante. No decorrer de uma semana, cerca de 420 pessoas morrem na capital paranaense, no entanto, apenas 20% dos casos são comunicados ao banco de ossos – totalizando três doações por semana.“Muita gente que poderia ser doador não é filtrada pela central de transplantes”, afirma o ortopedista Gerson de Sá Tavares Filho, presidente do Banco de Tecidos Músculo-Esqueléticos do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com 11 anos, a iniciativa paranaense foi a primeira do Brasil. Hoje, além do HC, há outros seis bancos de ossos no país (quatro em São Paulo, um no Rio de Janeiro e outro no Rio Grande do Sul).
No ano passado, segundo o Ministério da Saúde, foram feitos 246 transplantes para tratamento ortopédico ou correção de deformidades no país. Não há uma lista de espera oficial por transplantes de ossos. De acordo com o banco no Paraná, os pedidos são atendidos de acordo com o estoque. O Ministério da Saúde reforça que a demanda é gerenciada pelos próprios bancos.Doação
Diferentemente de alguns órgãos, como o coração, que só podem ser doados por pessoas que tiveram morte cerebral, a doação de ossos pode ser feita até 12 horas após a parada cardíaca. Assim que uma família autoriza a doação, uma equipe de captação do banco é acionada para proceder a retirada dos ossos, feita em um centro cirúrgico. O grupo normalmente é composto por dois médicos, dois enfermeiros e um biólogo, já que se trata de tecido.
Assim que os ossos são retirados, a equipe preenche os espaços com um material especial a fim de evitar que o corpo fique desfigurado para o velório e o sepultamento. “Nós adaptamos canos de PVC com dobras nos joelhos e nos cotovelos, já que o morto tem que ficar com as mãos postadas no caixão”, explica Tavares Filho.
Quarentena
Os ossos coletados ficam numa espécie de quarentena nas geladeiras do banco. Nesse período, passam por diversos exames. “O tecido ósseo é como qualquer outro tecido e, se não for bem estudado, pode passar uma doença para o receptor, como aids, sífilis, hepatites e bactérias”, informa o responsável. Uma média de 30% das doações acaba descartada e encaminhada para incineração.
Outro mecanismo de segurança usado pelos bancos de ossos é a rastreabilidade dos receptores. Tavares Filho conta que todos os receptores são cadastrados. Se houver indício de doença após o recebimento do material do banco em algum dos pacientes, todos os outros são contatados para saber se houve alguma reação coletiva ao material. “Em 11 anos de banco, nunca tivemos nenhum tipo de contaminação”, comenta o presidente da unidade. Para o ortopedista Carlos Cezar Wosniaki, que já encaminhou pacientes para o HC, as infecções que podem ocorrer são em decorrência da cirurgia.

Destinação
Enxertos são usados em várias especialidades
Não é apenas a ortopedia que usa enxertos ósseos oferecidos pelos bancos de ossos. Entre os “clientes” do Banco de Ossos do Hospital de Clínicas, em Curitiba, estão cirurgiões dentistas, neurocirurgiões, oftalmologistas e até ginecologistas. “É um mundo que não tem fim. Há oftalmologistas que usam enxertos para corrigir estrabismo, neurologistas que usam os enxertos para repor a calota craniana. A procura está crescendo”, comenta o presidente do banco Gerson de Sá Tavares Filho.
Na ortopedia, os enxertos são destinados a pacientes que tiveram perdas ósseas. “Antigamente se um paciente tinha câncer no fêmur era preciso amputar o membro e fazer quimioterapia. Hoje se faz o enxerto”, explica Tavares Filho. Por mês, o banco fornece 700 enxertos para hospitais de 20 estados brasileiros. “Às vezes temos que dizer que não temos material”, informa, lembrando que a prioridade de atendimento é para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Seleção de materiais
Assim como um banco de sangue, que aproveita vários componentes de uma bolsa de sangue, o banco de ossos também separa os itens a serem aproveitados. O osso é formado pelo cortical (parte externa, que forma um cano) e a medula (de consistência esponjosa, que fica na parte interna). “O tecido esponjoso é usado para fazer pó e a parte cortical é usada para o enxerto”, explica Tavares Filho. Em algumas ocasiões também é usado o osso inteiro. “Estamos vivendo uma crise do osso e por isso é muito importante que as doações aumentem”, completa.
Está em estudo a implantação de uma política nacional de estímulo à doação de ossos e tecidos. Segundo o Ministério da Saúde, é importante que a doação de ossos se incorpore à cultura assistencial brasileira e que os profissionais de saúde fiquem alertas para a demanda existente. Em Curitiba, dos 300 ortopedistas atuantes, apenas 20 recorrem ao banco do Hospital de Clínicas.

Um comentário:

  1. Olá blogueiro,
    É muito importante também incentivar a doação de órgãos e conscientizar as pessoas sobre a importância deste gesto de solidariedade.
    Para ser doador de órgãos não é preciso deixar nada por escrito. O passo principal é avisar a família sobre a vontade de doar. Os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte. Divulgue a ideia e salve vidas!
    Para mais informações: comunicacao@saude.gov.br
    Ministério da Saúde

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