sexta-feira, 17 de julho de 2009

E o vírus deixou de ser forasteiro…

Não precisa ser idoso nem criança. Também não precisa viajar para o exterior nem ter um histórico de doenças. A gripe A H1N1, conhecida como gripe suína, não tem mais grupos de risco no Brasil. Qualquer um, segundos especialistas, está exposto ao vírus. E até o próprio ministro da Saúde, José Gomes Temporão, confirma que não há mais como garantir que pessoas saudáveis tenham menos chances de desenvolver um quadro grave da doença — e até chegar à morte.
O Ministério da Saúde confirmou sete novas mortes por causa da gripe. Dessas, três eram pessoas que não apresentavam nenhuma doença pré-existente. “O universo de análise ainda é pequeno, e é cedo para fazer conclusões”, ressaltou Temporão. O ministro, entretanto, disse que não é mais possível afirmar que pessoas sem histórico de doenças graves têm menos risco de desenvolver complicações com a nova gripe. Até agora, a doença já infectou 1.175 pessoas no Brasil, com 11 mortes. O número ainda será atualizado, mas a taxa de letalidade no Brasil, de 0,93%, já é maior que a média mundial, de 0,5%. Foram sete óbitos no Rio Grande do Sul, três em São Paulo e um no Rio de Janeiro.
O infectologista César Carranza reforça a tese de que não há mais grupos ou locais de risco para a nova gripe. “A doença está espalhada. Não adianta evitar locais para se proteger”, enfatizou. “A política agora tem que ser de redução de danos”, completou o infectologista Pedro Tauil.
O Ministério da Saúde confirmou que a menina que morreu em Osasco não teve contato com casos vindos do exterior — o que comprova a circulação do vírus (1)no estado. Com isso, o Brasil entrou na lista de países onde há transmissão sustentada da doença. Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido também fazem parte desse grupo.
O ministro da Saúde disse, na entrevista de ontem, que a situação era esperada. “Não há nenhum motivo para pânico nem para uma mudança radical de comportamento”, afirmou Temporão. Ele reitreou que não haverá mudanças, por enquanto, nos protocolos de combate e prevenção à doença. E destacou que a prioridade será tratar os casos mais graves. “Esse tratamento independe de confirmação da doença em exame laboratorial”, disse.
Cuidados
A situação do Rio Grande do Sul é a que “inspira mais cuidados”, segundo o Ministério da Saúde. A proximidade com a Argentina — país com o segundo maior número de mortes — e o clima frio contribuem para o avanço da doença no local. O órgão vai enviar mais uma equipe ao estado para reforçar as ações de vigilância.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que as primeiras doses da vacina contra a nova doença estejam disponíveis em setembro. “A vacina é uma estratégia mundial para uma eventual segunda onda da doença”, afirmou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães. Ele afirma, porém, que as fábricas que trabalham no novo medicamento estão operando na capacidade máxima. “Pode não ter vacina para todo mundo. E ela não será barata.”
1 - TRANSMISSÃO SUSTENTADA
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera transmissão sustentada quando o contágio pela nova gripe ocorre dentro do território nacional, ou seja, quando há registros de infectados que não estiveram no exterior nem mantêm contato frequente com pessoas que foram contaminadas fora do país.
O número
A gripe avança
11 mortes foram confirmadas até agora em decorrência do vírus A H1N1
Remédio: vitamina C e primavera
O melhor remédio para conter a disseminação da gripe suína pode ser, segundo especialistas, a chegada da primavera. Baixas temperaturas e o clima seco típicos do inverno contribuem para a propagação do vírus H1N1, assim como o de outros tipos de influenza. Esses fatores podem ser determinantes para o aumento dos casos registrados no país, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Nesta época do ano, as pessoas tendem também a se aglomerar mais, facilitando a contaminação.
“Teremos muitos casos que nem vão ser diagnosticados. O inverno, nas regiões onde o frio é mais intenso, contribui para isso. No Norte, Nordeste e Centro-Oeste, não vamos ter tantos diagnósticos da doença”, explica o professor da UnB Pedro Tauil. De acordo com o médico, na medida em que as temperaturas voltem a subir, a tendência é diminuir o número de casos. “O Brasil conseguiu segurar a transmissão o máximo possível. Mas não é fácil”, afirma o professor, que cobra do governo medidas de monitoramento da circulação do vírus para evitar uma nova epidemia: “Quando o inverno chegar ao Hemisfério Norte, teremos uma vacina pronta”.
O professor da UnB Cesar Carranza também acredita que o fim do inverno pode espantar a doença. “A tendência é que ela se comporte como outras influenzas e a medida que a primavera for chegando, volte a cair o número de casos, como o das outras”, explica. Segundo o infectologista, ainda não há motivo para pânico.
Carranza alerta ainda para a necessidade de acompanhamento das autoridades sanitárias mundiais para as mutações do H1N1. “ Existe o risco de ele sofrer pequenas alterações com a multiplicação em muitas pessoas e não sabemos se serão boas ou ruins.” (AR)
Tira-dúvidas
1 Quais são os sintomas da gripe A H1N1?
Febre alta, mal-estar e dificuldade respiratória. Todos os sintomas são muito parecidos com os de qualquer gripe.
2 Posso fazer alguma coisa para prevenir a doença?
A proteção individual é fundamental. O uso de vitamina C é importante, assim como umidificar o ambiente. Colocar bacia com água no quarto ou mesmo toalha molhada é uma boa alternativa. Tudo isso evita doenças respiratórias. Lavar as mãos também é recomendável.
3 Qual é o momento ideal para procurar atendimento médico?
Na medida em que os sintomas vão evoluindo. Por exemplo: se a partir do terceiro dia a gripe piora, é preciso fazer um acompanhamento específico. O diagnóstico da doença não é fácil.
4 Preciso evitar multidões?
Ainda não. O México fechou o país num momento onde a letalidade estava alta porque só estavam fazendo diagnóstico de pneumonia grave.
5 Quem deve ficar de quarentena?
A orientação é do médico. Porém, quem não tem acesso ao atendimento médico e suspeita da doença, pode fazer o isolamento por conta própria. Cabe às autoridades isolar escolas e prédios públicos. A quarentena é indicada para evitar a transferência da doença para outra pessoa, quando o vírus ainda está incubando.
6 Preciso usar máscara?
A máscara deve ser usada quando se tem um caso conhecido. Ou mesmo para quem está doente evitar a transmissão para familiares, por exemplo.
7 Há vacina ou remédio para curar a gripe?
Os medicamentos têm o efeito de curar e de diminuir a mortalidade. Em setembro, a vacina deve ficar pronta.

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