sexta-feira, 3 de julho de 2009

Em cobaias, gripe suína é mais grave que a comum

Dois estudos paralelos nos EUA e na Holanda mostraram que o vírus da gripe suína ou 2009 A (H1N1) causa no furão, um pequeno mamífero, uma doença um pouco mais severa do que o vírus H1N1 das gripes sazonais. Os resultados indicam que é provável que o vírus permaneça por longo tempo em populações humanas --com potencial ainda desconhecido de se tornar mais perigoso.
A nova gripe 2009 A pode ter vindo do porco, mas, quando se trata de estudar seu potencial no ser humano, o animal mais indicado é o furão, pois o vírus causador da doença afeta o pequeno mamífero de modo semelhante.
"Ambos os grupos concordam que o vírus não se transmite apenas por contato direto, mas também por meio do ar. Isso tem implicações importantes para as medidas implementadas para parar com a transmissão", disse o líder da equipe holandesa, Ron Fouchier, do Centro Médico Erasmus, de Roterdã, Holanda.A gripe foi considerada uma epidemia global (pandemia) pela Organização Mundial de Saúde em 11 de junho passado.
As duas equipes --uma dos EUA, outra da Holanda-- descobriram que o novo vírus se multiplica mais intensamente no trato respiratório (pulmão, brônquios), enquanto que o vírus sazonal permanece na cavidade nasal.
Os americanos também acharam o vírus suíno no intestino do furão. Uma das características misteriosas do novo vírus é sua capacidade de produzir sintomas não associados a gripe, como vômitos e distúrbios gastrointestinais.
"Estes dados sugerem que o vírus influenza 2009 A (H1N1) tem a habilidade de persistir na população humana, potencialmente com mais severas consequências clínicas", relata a equipe holandesa.
"Os fatores que levam à geração de vírus pandêmicos são complexos e pouco conhecidos, mas a habilidade de um novo vírus influenza de causar doenças graves e ser transmitido pelo ar é um traço de linhagens pandêmicas de influenza", afirma a equipe americana, chefiada por Terrence Tumpey, dos CDC (Centros para Controle e prevenção da Doença) dos EUA.
Os dois artigos estão no site da revista americana "Science".
Refúgio intestinal
"O estudo corrente foi conduzido para ajudar a obter pistas sobre a virulência e a transmissibilidade inerentes ao novo vírus de influenza 2009 A (H1N1). No momento, não está claro como alguns vírus de influenza são capazes de replicar no trato gastrointestinal, enquanto que outros não. É provavelmente uma combinação de ligação de receptores e modificações em outros genes de influenza desconhecidos. Essa é uma área ativa de estudo", declarou Tumpey à Folha.
"O 2009 A (H1N1) não mata a maior parte dos seus hospedeiros, mas se transmite eficientemente pelo ar", disse Fouchier. "Essa é uma estratégia perfeita para o vírus. No presente, apenas um em cada 200 pacientes confirmados morreu."
"A gripe espanhola matou mais, mas mesmo assim a maior parte das pessoas sobreviveu. Vírus da gripe não são realmente matadores em termos evolucionários. Eles se disseminam facilmente e deixam a maior parte dos hospedeiros viva", afirma Fouchier.
Houve uma diferença de resultado entre os dois grupos em relação à transmissibilidade dos vírus por gotículas no ar. O grupo americano concluiu que o 2009 A é menos transmissível que o vírus sazonal, enquanto que os holandeses reportaram que os dois têm a mesma --e grande-- capacidade de transmissão.
Segundo Fouchier, a diferença vem de os dois estudos ainda terem significado estatístico fraco, pois o número de furões estudados foi pequeno. Os furões americanos espirravam bem menos que os holandeses, talvez pela disparidade de clima entre Atlanta e Roterdã. "Mas, no fundo, nós não sabemos o que causou essa modesta diferença", conclui o cientista.

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