quinta-feira, 9 de julho de 2009

Gripe suína será tratada em unidades básicas

A partir de segunda, começam treinamentos. Em Fortaleza, médicos nas 89 unidades de saúde serão capacitadosA palavra agora é descentralizar. Após limitar o atendimento a hospitais de referência, a ordem é envolver unidades da atenção básica e da secundária no combate e tratamento da gripe A. Essa nova conduta foi apresentada a diretores de hospitais públicos e particulares, ontem, na Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Há, entretanto, ainda muitas dúvidas e questões.Como a expectativa é que a demanda de suspeitos aumente com o fim do mês de julho, mais hospitais devem fazer coleta de material para exame. Enquanto isso não se define, diretores se preocupam como atenderão suspeitos em alas climatizadas, emergências e em meio à superlotação típica dos postos de saúde e hospitais de média complexidade. Por outro lado, Estado e Município garantem que haverá treinamento a partir de segunda-feira.Isso porque a tendência recomendada pelo Ministério da Saúde é ampliar o atendimento, já que a letalidade no Brasil é baixa, de 0,11% — no mundo, o índice é de 0,45%.. “A orientação é única para o Brasil, pois é uma virose que se confunde com outras”, diz o titular da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), João Ananias.Por isso, Ananias defende que não há necessidade de todas as pessoas com gripe procurarem unidades de referência — Hospital São José e o da Universidade Federal do Ceará (UFC). Contudo, por enquanto, só nesses locais é indicada a coleta de aspirado nasofaringe, em casos graves.Segundo o diretor do São José, Anastácio Queiroz, a situação no Ceará é tranqüila. “Vamos tratar a doença como ela realmente é: uma gripe sazonal. E gripe se trata em unidade básica de saúde”, afirma. A recomendação inicial, portanto, é procurar a atenção básica (posto de saúde perto de casa). Analisado o quadro clínico, a pessoa é encaminhada para casa, para coleta de material ou para a unidade referência.Segundo ele, o São José está sempre lotado, mas nunca faltou leito para os casos que precisaram ser investigados. O problema deve surgir se houver necessidade de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Felizmente isso não aconteceu”. Para atender à demanda, um consultório foi adequado para receber somente suspeitos. Segundo o diretor, a unidade hospitalar que mais encaminha suspeitos é o Monte Klinikum.O presidente da Associação dos Hospitais Particulares do Ceará, Aramicy Pinto, avisa que a conduta é uniforme nas unidades. Os infectologistas participam das reuniões com o Comitê Estadual de Controle e Prevenção da Gripe A.Como informa a supervisora de Epidemiologia da Sesa, Dina Cortez, o isolamento hospitalar continua limitado às unidades de referência. No Ceará, hoje, há 31 casos suspeitos, 13 (42%) em investigação, seis (19%) confirmados e 12 (39%) descartados.Só uma mulher foi internada. Segundo Anastácio Queiroz, ela trabalha em setor de justiça do Aeroporto Internacional Pinto Martins, chegou ao São José na quinta-feira passada com os sintomas, voltou para casa e retornou ao hospital no outro dia, com febre de 40 graus e muito angustiada. Foi colhido material para exame e ela ficou internada, mas recebeu alta ontem à tarde. Ela continuará com os cuidados em casa, até a chegada do resultado do exame, esperado para hoje ou amanhã. “Outras pessoas nos procuraram, mas nenhum teve indicação para fazer o exame e foram liberados”.O treinamento nos postos e hospitais do Município deve começar semana que vem, por Secretaria Executiva Regional (SER), segundo o gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Antonio Lima. A idéia é capacitar, em treinamento de quatro horas, médicos nas 89 unidades básicas de saúde.“O objetivo é identificar os casos e sinais de gravidade. Esse marcador pode ser a dificuldade respiratória súbita (dispnéia), as convulsões”, adianta. Será dada atenção especial a pacientes com fatores de risco — gestantes, cardiopatas, pessoas em condições imunossupressoras.MedicaçãoSobre o medicamento antiviral, Lima lembra que é preciso fazer “uso racional e restrito”. A sugestão é utilizá-lo somente a partir do segundo dia de sintomas e em pacientes graves. Também é importante fazer coleta para exame até o terceiro dia do início dos sintomas. Nisso há possibilidade de mudança.“Queremos ampliar a coleta para os grandes hospitais; hoje vai tudo para o São José. É provável que isso nem aconteça, mas as pessoas precisam estar treinadas”, pondera Dina Cortez. Porém, mesmo que haja descentralização no processo, Lima lembra que a coleta limita-se a casos graves ou surtos localizados.De acordo com Dina Cortez, se a demanda continuar nesse ritmo, os encaminhamentos continuam sendo feitos para o São José. Mas se o fluxo crescer, a ajuda de outros hospitais é quase certa. O Comitê Estadual já tem agendadas capacitações com o Hospital Luís França e com a Defesa Civil. Cerca de 800 pessoas já passaram pelo processo.De todo modo, Arruda Bastos, secretário executivo da Sesa, avisa que os postos de saúde terão de se estruturar para atender aos pacientes com gripe. Ele recomenda que, com a descentralização, unidades privadas fixem um consultório específicos para esse público. FIQUE POR DENTROPrimeiro caso foi confirmado no MéxicoNo ambiente, o vírus da gripe A sobrevive de 24 a 28 horas; em roupas, de 8 às 12; e nas mãos, cinco minutos. O primeiro caso foi confirmado no México, em 18 de março deste ano. No dia 15 do mês seguinte, a detecção aconteceu nos Estados Unidos. Nove dias depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou alerta voltado para todos os continentes. Antes a quarentena era de dez dias; e agora, de sete. Em crianças, o período se estende para 14 dias. Um total de 122 países têm 94.512 casos confirmados. Os óbitos são 429, sendo apenas um no Brasil, de um gaúcho de 29 anos. A taxa de letalidade no mundo é de 0,45% e no Brasil, de 0,11%. Na Argentina, o índice é o maior, de 2,2%.RETORNO DAS FÉRIASDemanda deve aumentar no fim do mêsPor enquanto, a situação está sob controle. Mas tudo indica que, no fim de julho, o quadro não seja de otimismo. O fim dos recessos escolares, a volta de cearenses que estavam no exterior, a vinda de turistas para o Fortal e a chegada de europeus em férias representam as principais preocupações, tanto em hospitais públicos como em particulares.De acordo com a coordenadora de Vigilância Epidemiológica do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Elisabete Silveira Aguiar, em agosto, setembro e outubro, muitos europeus dão entrada na unidade de saúde com quadro de pneumonia ou gripe forte. A pouca intimidade com o sol e o calor agravam a situação desse tipo de paciente, muitos dos quais são portugueses, italianos e espanhóis.Outro agravante é que, após reformas, o HGF é todo climatizado, inclusive a emergência. Além disso, só há dois médicos no setor, por plantão. E o local está sempre lotado. Ontem, segundo Elisabete Silveira, no lugar de 36 leitos havia 80 internados. “O metro quadrado é disputado”, alerta.A demanda é tão crescente que, como a coordenadora informa, o hospital está custeando uma van para levar para o Centro de Saúde do Meireles, todo dia, pessoas que vão ao HGF, mas poderiam ser atendidas na atenção básica.Em unidades particulares e conveniadas com planos de saúde, também não faltam problemas e preocupações. Até porque o público das unidades coincide com aquele que tem condições financeiras de viajar para o exterior. Prova disso é que, desde a chegada da doença ao Ceará, os hospitais particulares são os que mais enviam suspeitos para o São José.O médico infectologista Ronald Pedrosa, que atua no Hospital Monte Klinikum e no São José, estima que entre segunda e quarta-feira, quatro ou cinco pessoas tenham ido à unidade particular com sintomas da gripe A. A preocupação dele é que, com a recomendação do Ministério da Saúde de priorizar a notificação de casos graves, ocorra o mesmo que está acontecendo na Argentina.Lá, o índice de letalidade da doença, 2,2%, é o maior do mundo, cuja média é de 0,49%. Na avaliação de Ronald Pedrosa, isso é porque no país vizinho só são coletadas amostras de casos graves. Dessa forma, o quadro de suspeitos vai desaparecendo, e o resultado da proporção entre casos e mortes torna-se maior. “Aí pode acontecer de várias pessoas estarem com a doença e não entrarem nas estatísticas porque não são casos graves”, alerta. VÍRUSLacen é candidato a realizar os examesNo Brasil, só três laboratórios estão habilitados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a realizar os exames que detectam o vírus da gripe A. Com isso, as unidades ficam sobrecarregadas. Para ajudar no processo, o Laboratório Central do Ceará (Lacen) está pleiteando fazer parte da restrita lista. Tanto que antes as amostras cearenses eram enviadas para o Pará três vezes por semana e, a partir de agora, conforme houver necessidade, esse processo pode ser diário.Os laboratórios autorizados atualmente são o Evandro Chagas (em Belém do Pará), que recebe amostras do Norte e Nordeste; o da Fundação Oswaldo Cruz (no Rio de Janeiro) e o Adolfo Lutz (em São Paulo), que dividem análise de material do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.Estrutura necessáriaDos três laboratórios, o mais sobrecarregado é o Adolfo Lutz, porque é no Estado de São Paulo que está concentrado a maioria dos casos suspeitos e confirmados no País. De acordo com Ricardo Sá, o Lacen pode fazer os procedimentos porque há pessoal capacitado, condições físicas e de infra-estrutura para efetuar esse tipo de análise clínica.Prova disso é a mudança no procedimento de envio das amostras para o Evandro Chagas. “Caso haja necessidade, estamos preparados para fazer a arremessa todo dia”, frisa.Ricardo Sá acredita que, no momento em que o Ministério da Saúde perceber a necessidade de também descentralizar a realização dos exames em outros estados, “com certeza o Ceará vai ser contemplado”, através do Lacen.O diretor do Hospital São José, Anastácio Queiroz, afirma não ter dúvidas de que isso irá acontecer. “O Ministério da Saúde vai ter que descentralizar essa conduta também”. Hoje há 13 casos aguardando resultados de exames. NO CEARÁ31 casos suspeitos13 casos sendo investigados, o equivalente a 42%6 já foram confirmados (19%). Destes, quatro mulheres e dois homens12 casos descartados (39%)26 anos é a idade média dos envolvidos, na faixa etária entre 18 e 36 anos50% são oriundos dos Estados Unidos e 50%, da Argentina e Chile100% apresentaram febre, tosse e dor de garganta83% apresentaram coriza e 33%, dispnéia (dificuldade de respiração)

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