quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Droga anti-impotência é ligada a tumor na próstata, sugere pesquisa

Uma pesquisa inédita da PUC do Paraná em parceria com os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) sugere que o uso de medicamentos contra a impotência sexual pode aumentar as chances de câncer de próstata.
Esse é o segundo tumor mais frequente entre homens -o primeiro é o câncer de pele que não o melanoma.
Os pesquisadores avaliaram tumores de próstata de 50 pacientes do Hospital AC Camargo, de São Paulo, e descobriram que, em 30%, há uma redução da função de uma proteína do gene PDE11A, que estaria associada ao câncer de próstata.
Acontece que drogas contra impotência (em especial as de longa duração e uso contínuo) também causam, de forma indireta, a diminuição da função dessa proteína, segundo Fábio Rueda Faucz, professor de genética molecular pela PUC e um dos autores do trabalho.
"A gente encontrou na pesquisa uma simulação do que o medicamento faz. O problema maior estaria nos medicamentos de longa duração, que são administrados a cada 36 horas. Eles podem criar uma condição de suscetibilidade ao câncer."
Segundo Faucz, pacientes que fazem uso constante desses medicamentos devem ser submetidos a exames preventivos regulares, como o toque retal e o PSA.
"É preciso atenção especial, já que os pacientes que normalmente buscam o tratamento para a impotência sexual são aqueles que já se enquadram no grupo de risco do câncer de próstata, que é idade superior a 50 anos."
A pesquisa foi publicada no "Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism", a principal publicação mundial da especialidade. CAUTELA
Desde a descrição do genoma humano, há uma década, vários estudos têm sido feitos para identificar alterações moleculares que possam se relacionar a uma maior suscetibilidade ao câncer de próstata.
Com isso, genes expressos no tecido da próstata passaram a ser testados isoladamente ou em conjunto como potenciais marcadores de diagnóstico do câncer.
Segundo o urologista Alberto Azoubel Antunes, do Hospital Sírio-Libanês, a grande dificuldade desses estudos tem sido reproduzir os resultados -condição fundamental na medicina baseada em evidência.
Por isso, embora considere o estudo "interessante" por descrever alterações novas do gene PDE11, Antunes ressalva que os resultados precisam ser vistos com cautela.
"A amostra estudada é relativamente pequena para uma doença tão prevalente e alguns pacientes do grupo controle [sem a doença] apresentam alterações nos genes mesmo sem ter o câncer."
O professor titular de urologia da USP, Miguel Srougi, concorda. Para ele, o estudo é importante para a "ciência", mas não tem aplicação prática imediata.
Isso significa que até que os resultados possam ser confirmados por outros autores, ainda não é possível afirmar com certeza que as alterações genéticas no PDE11 estejam associadas de forma significativa a uma maior predisposição ao câncer.
Fábio Faucz também reconhece a limitação do trabalho, mas considera que seja um indício importante e um alerta para os homens de meia-idade.
"Não queremos impedir a utilização do medicamento. Sabemos que o sol causa câncer de pele, mas nem por isso deixamos de tomar sol. A intenção é reforçar as medidas preventivas", diz ele.

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