quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Hospital São José interna 89 por catapora em 2010

A jovem Ana Caroline Benevides, de 24 anos, estudante do Curso de Farmácia, teve de passar, em pleno semestre letivo, 16 dias em casa em total repouso. O motivo? Adquiriu varicela, a conhecida catapora.De janeiro a outubro deste ano, 89 pessoas foram internadas somente no Hospital São José, unidade referência em doenças infecto-contagiosas, vítimas da doença. Quase o mesmo número registrado em todo o ano de 2009, quando 92 internamentos foram realizados, naquele hospital. O que significa dizer que já alcançamos, neste mês, 96,7% dos casos registrados em todo o ano passado.Em 2010, dos 89 casos diagnosticados, 60 são referentes a catapora e 29 a herpes zoster, o popular cobreiro - doença decorrente da reativação do vírus da varicela, em latência, que afeta adultos e pacientes com a imunidade comprometida. As mortes, no entanto, apesar de aparecerem em menor número, se comparado ao ano passado, também já possui registros. Até a semana passada, foram dois óbitos no Hospital São José.O primeiro, em fevereiro, acometeu uma criança de sete anos que sofreu uma varicela mais grave. O segundo, em março, vitimou um senhor de 78 anos, que sofreu septicemia - infecção bacteriana generalizada grave do organismo, causada por germes patogênicos. Em 2009, foram cinco mortes, das quais um adulto e quatro crianças. Alta-Atualmente quatro pessoas estão internadas no Hospital São José vítimas da doença: uma criança, com varicela; e três adultos, acometidos pelo herpes zoster. A pequena Maria Quetsia Nascimento, passou seis dias internada naquela unidade de saúde por causa da catapora. A pequenina deu entrada em 29 de setembro e teve alta no último dia 4.A sua mãe, a trabalhadora autônoma Claudenir Nascimento Correia, 34 anos, relatou que inicialmente nasceram algumas "bolinhas" na testa da filha. No dia seguinte, as "bolinhas" aumentaram. Já no terceiro dia, ela piorou ainda mais. E, para piorar a situação, teve uma febre muito alta, que insistia em não passar. No Hospital de Messejana, a médica diagnosticou que se tratava de catapora, com infecção secundária, e a encaminhou para o Hospital São José."Agora estou mais calma, mas no início fiquei bastante nervosa. Eu não podia pegar nela, porque não tinha onde segurar, o corpo estava cheio de bolinhas. Algumas ela estourava e ficavam em carne viva. Ela não conseguia sentava, nem deitar", relatou a mãe.Durante a entrevista, quando a pequena Quetsia ainda estava internada, enquanto ela brincava com os brinquedos, mantinha-se inquieta com a coceira. Para evitar que a menina arrancasse as casquinhas e machucasse os ferimentos, a mãe colocou meias em suas mãos.A universitária Ana Caroline não sabe como adquiriu o vírus, já que acredita não ter tido contato com ninguém que estava com a doença, mas relatou que é enorme o desconforto. "Além da coceira ainda tem a parte física, o rosto fica cheio de feridas. É incômodo para dormir, para sentar, para tudo".ENTREVISTA-Vacina garante a imunização de crianças contra a enfermidade contagiosa.O que é a catapora?Doença causada pelo vírus Varicella Zoster que provoca o surgimento de pequenas vesículas na pele de todo o corpo e nas mucosas, como por exemplo, a boca, que ao curar se transformam, na pele, em crostas acompanhadas de coceira de intensidade variável.Como ocorre a transmissão?É doença altamente contagiosa transmitida pelos doentes através da fala ou tosse ou pelo contato com as lesões de pele. O paciente pode transmitir até 48h antes dos sintomas da pele e termina a transmissão quando as lesões estão todas em crostasEm qual período do ano o vírus da doença é mais propício para se disseminar?Durante o período chuvoso, quando ocorre mais frequentemente as aglomerações. Condições do clima que favoreçam as pessoas a permanecer por mais tempo em locais fechados, facilitando o contágio.Uma vez adquirida a doença, a pessoa corre o risco de ser acometida novamente pelo vírus?Na doença são formados anticorpos que causam proteção duradoura, impedindo outro episódio de catapora. É possível, no entanto, ocorrer no futuro outra manifestação desse vírus que é o cobreiro.Já existe vacina?Sim e eficaz. As pessoas, especialmente as crianças, devem buscar a imunização.Qual é a real importância de tomar a vacina?Diminuir a transmissão. É importante vacinar as crianças por serem fontes de infecção para aqueles que podem desenvolver formas mais graves da doença e também evitar que um dia elas próprias venham a ser acometidas quando adultas. Vacinar profissionais de saúde também é uma boa medida pela exposição que eles têm aos doentes, já que a doença é transmita pelo vírus e pode atingir qualquer pessoa.Teresinha LeitãoMédica infectologista.PERIGO-Complicações levam pacientes à morte.O médico infectologista Anastácio Queiroz, diretor do Hospital São José, disse que apesar da catapora ser uma doença benigna, todos os anos ela provoca óbitos, em decorrência das complicações. "A varicela atinge a pele, que é a porta de entrada para uma infecção secundária, por isso existem uma série de cuidados a serem tomados".Dentre eles, cita Anastácio Queiroz, está não estourar as vesículas; não coçar a pele onde tem lesão, para não agravar; lavar bem as mãos, para não infeccionar; tomar vários banhos ao dia, deixando apenas a água escorrer e se enxugar com toalhas limpas, de maneira que não abra as lesões existentes", alertou o infectologista.Teresinha do Menino Jesus Silva Leitão, também médica infectologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), destacou que a catapora não é considerada uma doença grave. Contudo, nos grupos chamados imunossuprimidos - de pessoas que têm as defesas baixas por transplante de órgãos, tratamento de cânceres, uso de corticoides por longo tempo, portadores de HIV e nas grávidas que podem evoluir, se não tratadas precocemente, para as formas graves da doença - pode ser considerada uma doença grave, conforme Teresinha."Nos doentes com deficiência de imunidade que demoram a iniciar o tratamento, pode ocorrer a disseminação da doença para outros órgãos, como o pulmão, e provocar uma pneumonia viral grave", explicou Teresinha do Menino Jesus, sobre as situações da doença que podem levar ao óbito. Nesses casos, ela recomenda que o doente procure uma assistência médica e inicie o tratamento o mais precocemente possível.SurtoEm crianças saudáveis, não há indicação de tratamento com antivirais, devendo ser utilizados apenas os antitérmicos e banhos com substâncias antissépticas, para prevenir infecção da pele por bactérias.De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, 12.091 casos de catapora foram registrados, de janeiro a setembro deste ano, em todo o Brasil. O Estado de São Paulo é o que lidera o ranking, com 84,5% dos casos. Ao todo, são 10.218 pessoas infectadas.O foco está nas cidades interioranas, que enfrentam um surto da doença. Em São José do Rio Preto, o número de ocorrências, de janeiro a setembro, é cinco vezes maior do que o registrado em 2009. Foram 260 no ano passado, contra 1.300 em 2010. O tempo seco é a principal causa para o surto.Até o momento, duas crianças já morreram vítimas da doença no Estado e uma está internada em estado grave por conta de complicações da doença. Os especialistas alertam para que as famílias tomem cuidados com as criança.

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