domingo, 14 de junho de 2009

Identificação das vítimas


As circunstâncias do desastre do voo AF 447, da Air France, que caiu no Oceano Atlântico dia 31 de maio, acrescenta uma dificuldade ao já trágico caso: o resgate e reconhecimento das vítimas. A Força Aérea e a Marinha brasileiras trabalham na busca dos corpos em alto mar, e a tarefa de identificação dos passageiros pode ser complexo. Entenda a seguir como funciona essa operação e quais os seus obstáculos, a partir de esclarecimentos do perito Elvis Adriano de Oliveira, secretário da Associação Brasileira da Medicina Legal (ABML).
1. Como funciona o processo de reconhecimento das vítimas em acidentes como este?
Um dos fatores que mais influencia o trabalho de reconhecimento de vítimas é obviamente o estado dos corpos. Uma vez que as primeiras informações indicam que a aeronave voava a uma altura de aproximadamente 11 quilômetros quando caiu, é provável que tenha se partido na queda - o que pode provocar a fragmentação dos corpos. Isso pode dificultar o reconhecimento, já que características como sexo, idade, peso e altura são fundamentais para o processo de identificação de um indivíduo.
2. Quais são as possíveis formas de identificação?
A primeira de todas é o reconhecimento pela família, mas só é possível quando o corpo mantém todas as suas características. Excluída essa possibilidade, uma forma bastante eficiente é a coleta de impressões digitais, que pode ser feita mesmo em cadáveres em decomposição. Sinais permanentes como tatuagens, cicatrizes e marcas de nascimento também ajudam. A arcada dentária é outra forma bastante utilizada pelos peritos: não à toa, ela é chamada de "caixa preta do individuo", porque contém informações que o identificam e dizem como ele viveu. O passo seguinte é o exame de DNA, pelo qual uma amostra de tecido da vítima é comparada à de um familiar.
3. O que mais pode ajudar na identificação?
Assim que os corpos são retirados do mar, eles são acondicionados juntamente com objetos encontrados próximos a ele. Isso porque adereços como roupas, anéis, correntes e outros objetos auxiliam no reconhecimento. Fotografias das vítimas também ajudam no processo, pois podem permitir a comparação a partir do formato do crânio.
4. A ação da água do mar dificulta a identificação?
A decomposição do cadáver é mais acelerada na água. Além disso, o clima e a temperatura do oceano influenciam bastante na conservação ou não. Por exemplo: se o corpo ficou em local quente, a deterioração acontece de forma mais rápida. Daí, a importância de se proceder o resgate o mais rápido possível.
5. Se o resgate dos corpos demorar muito, a identificação das vítimas pode se tornar impossível?
Não. Até mesmo em um pequeno fragmento de matéria orgânica possibilita o reconhecimento, por exame de DNA, por exemplo. Ocorre, porém, que à medida que o tempo passa, os obstáculos ao reconhecimento de fato crescem, demandando o trabalho de profissionais cada vez mais treinados.
6. Por que os corpos demoraram a aparecer na superfície do mar?
Em caso de óbito no mar, o corpo passa por diferentes fases. Por volta do segundo ou terceiro dia, a tendência é que ele volte à superfície, devido a um processo conhecido como decomposição gasosa - que o torna menos denso do que a água. Isso pode durar dois ou três dias. Depois, porém, o corpo volta a afundar, o que pode ser definitivo. Todo o processo, contudo, sofre variações devido a fatores como temperatura da água e constituição física do indivíduo.
7. Por que só parte das vítimas foi encontrada?
Essa questão só poderá ser respondida depois do esclarecimento das causas do acidente. Se o avião não explodiu, por exemplo, ele pode ter afundado e os corpos, ficado presos entre os destroços da aeronave. Além disso, há outros fatores que dificultam a busca, como os já citados na questão anterior e o fato de que os corpos poderem ter sido dispersos pela correnteza marinha.
8. O trabalho de identificação pode contribuir de alguma forma para descobrir as causas do acidente?
Sim. Uma necropsia bem feita pode ajudar na investigação das razões da tragédia. É importante, assim, observar os padrões da causa das mortes, como fraturas e queimaduras. Esses elementos fornecem informações importantes, como a ocorrência de explosões ou incêndio da aeronave, por exemplo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário