domingo, 21 de junho de 2009

Por acaso, brasileiros descobrem nova fonte de células-tronco


Com a ajuda do acaso, pesquisadores brasileiros obtiveram pela primeira vez células-tronco adultas a partir de tecidos das tubas uterinas (antes chamadas trompas de falópio). Essas células foram transformadas em osso, músculo, cartilagem e gordura. Agora, os cientistas querem investigar por que as tubas, canais que ligam os ovários ao útero, são ricas em células-tronco.
O grupo do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP e de mais duas instituições paulistanas publicaram a descoberta no periódico "Journal of Translational Medicine".
"Não tínhamos a intenção de extrair células-tronco da trompa de falópio. Na verdade, queríamos cultivar as células do aparelho reprodutor feminino do endométrio, da trompa e até do sangue menstrual para que essas células servissem de suporte para a cultura de células-tronco embrionárias humanas", conta Tatiana Jazedje, bióloga do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP. As células foram extraídas de tecidos descartados de cirurgias como retirada do útero e laqueadura, feitas em seis pacientes. Depois de isoladas, no entanto, um fato chamou a atenção de Jazedje e seus colegas de pesquisa: elas se dividiam rápido demais.
Segundo a pesquisadora, o perfil genético dessas células foi analisado no laboratório e se percebeu que elas "tinham cara de célula-tronco". Surpresos, os cientistas resolveram testar a sua capacidade de diferenciação (transformação em diferentes tecidos do corpo).
"Precisávamos de três tecidos diferentes para mostrar que era célula-tronco", disse. Obtiveram quatro: músculo, gordura, osso e cartilagem.
Para os pesquisadores, os fragmentos de tecido das tubas uterinas "podem representar uma nova fonte potencial de células pluripotentes para medicina regenerativa" --já que células-tronco têm potencial para regenerar órgãos.
Mas a célula-tronco adulta é menos potente do que a polêmica célula-tronco embrionária, capaz de se converter em qualquer tipo de tecido.
O próximo passo na pesquisa, de acordo com Jazedje, é testar as células em animais.
Sem problemas éticos
O grupo, liderado pela geneticista Mayana Zatz, ressalta o fato de a obtenção da célula-tronco ter ocorrido a partir do aproveitamento do descarte cirúrgico -assim, sua utilização não levanta problemas éticos.
Já se supõe que no corpo inteiro possam existir células-tronco em pequenas quantidades. Mas o que intriga os pesquisadores neste caso é por que as tubas são tão ricas nesse tipo de célula. "Não sabemos ainda qual é a função, se imunológica ou para dar suporte para o crescimento do embrião recém-fecundado", disse ela. Essa é mais uma área de estudo que se abriu agora para os cientistas.
No ano passado, uma integrante desse grupo de pesquisadores, Natássia Vieira, usou a própria gordura, retirada numa lipoaspiração, para estudos com células-tronco. O resultado mostrou que as células-tronco da gordura, injetadas no sangue de camundongos, produzem proteínas para o combate da distrofia muscular.

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