sábado, 26 de setembro de 2009

As pazes com a aprendizagem

Médicos e psicólogos aprimoram terapia para tratar a discalculia e a disortografia, distúrbios pouco conhecidos que afetam a compreensão da escrita e da matemática.Para a maioria dos estudantes, a matemática é considerada uma das disciplinas mais difíceis. Mas, para quem sofre de discalculia, compreender os conceitos dessa disciplina é uma tarefa quase impossível. Sofrimento semelhante passam as crianças e adolescentes portadores de disortografia quando se deparam com textos e gramática. Porém, embora estejam entre as principais causas de comprometimento da aprendizagem, os dois transtornos ainda são pouco conhecidos. O primeiro interfere no raciocínio aritmético. As pessoas apresentam dificuldade acentuada para entender a tabuada, resolver cálculos que envolvam adição e subtração, por exemplo, para escrever corretamente números ou cifras ou mesmo para agrupar objetos em conjunto. Já a disortografia é caracterizada pela limitação para compor textos, acentuar e fazer a pontuação correta nas palavras e frases, entre outros problemas.
Entender os mecanismos que levam a essas alterações tem sido alvo de esforço de médicos e psicólogos. O que se sabe até agora é que essas manifestações seriam resultado de alguma falha no funcionamento do sistema nervoso central que ocorreria em regiões do cérebro ligadas ao aprendizado.
Um estudo feito na University College London, por exemplo, indicou que a área envolvida pode ser o lobo parietal, no qual são processadas informações associadas à linguagem. Estuda-se, ainda, o papel da hereditariedade. "Quando trazem os filhos ao consultório, muitos pais se identificam com os sintomas das crianças" diz o neuropediatra Jobair Ubiratan Aurélio, do Centro de Referência em Distúrbios da Aprendizagem (CRDA), de São Paulo.
Normalmente, o diagnóstico é feito quando a criança está em idade escolar um pouco mais adiantada. Contudo, os primeiros sinais podem ser percebidos antes. "Aos cinco anos, a criança já consegue fazer algumas correlações. Mas quem tem os distúrbios apresenta dificuldade para contar de um a dez, não consegue pintar dentro de uma figura e nem elaborar um desenho, mesmo quando estimulada", afirma Aurélio.
Para ter os transtornos reconhecidos, a criança precisa apresentar sintomas como esses, é claro, mas manifestar nível médio ou superior de inteligência e ter boa saúde física. Estes dois fatores demonstram que não há outros problemas que poderiam estar na origem das dificuldades. A estudante Giovanna Faiser, 12 anos, teve o diagnóstico de discalculia confirmado. "Ela não entendia o enunciado dos exercícios nem tampouco conseguia fazer cálculos. Mesmo que fosse uma simples conta de somar", conta a mãe, a professora Rosivet Cardoso Faiser.
A partir das informações que estão sendo levantadas, os especialistas estão aperfeiçoando o tratamento. Já está certo que a melhor abordagem é a multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogos, psicólogos e psicomotricistas (profissional que estimula a coordenação motora). E também há indicações de que o mais eficiente é aplicar a terapia em grupo. É o método que está sendo adotado no CRDA, por exemplo. Lá, são atendidos grupos de quatro crianças. "Juntas, elas se sentem à vontade, expõem-se, conversam, vão à lousa escrever", explica a psicopedagoga Carminha Holler. "É um comportamento muito diferente do praticado na sala de aula."
Com auxílio certo, os dois distúrbios ficam sob controle. Samuel Gustavo, 10 anos, apresenta muitos progressos desde que iniciou o tratamento. "Ele já consegue escrever sem tantos erros e confusões ortográficas" diz a mãe, a pedagoga Leila Oliveira. O mesmo está acontecendo com Giovanna. Hoje, com o tratamento e um esforço extra, em casa, ouvindo as aulas gravadas, ela já pode comemorar uma nota 8 em matemática.

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