quinta-feira, 8 de outubro de 2009

MP investiga contaminação do HIV em menino de 4 anos

Promotoria solicitou, em setembro, ao Cremec abertura de sindicância para apurar as responsabilidades.A titular da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde Pública do Ministério Público Estadual (MP), Isabel Porto, informou ontem ao Diário do Nordeste que solicitou novos encaminhamentos em relação ao caso do menino de quatro anos, que contraiu o vírus HIV após ser submetido a tratamento no Centro de Assistência à Criança Lúcia Fátima (Croa) da Parangaba e no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), onde passou por duas transfusões de sangue.De acordo com a promotora, no último dia 22 de setembro, a Promotoria da Saúde enviou requerimentos ao Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec) e ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce). Em relação ao Cremec, Isabel Porto solicitou a abertura de uma sindicância para apurar o que aconteceu e, assim, para que a entidade emita relatório com o resultado das análises dos prontuários de internações do garoto nas unidades médicas. "Até porque não é a primeira vez que isso acontece no Hias", lembrou.Em 2005, como se referiu Isabel, o Estado foi condenado a pagar 500 salários mínimos à família de uma criança de três anos que também passou por transfusões no Hias e contaminou-se com o vírus HIV. No que se refere ao Hemoce, garante a promotora, o Ministério Público solicitou novos exames de sangue dos doadores. Como detalhou, o Hemoce ficou de realizá-los e encaminhá-los à Promotoria da Saúde. Porém, até ontem, os resultados não haviam chegado ao Ministério Público."Requisitei novos exames. Não sei precisar o prazo, mas, em geral, são de cinco a dez dias. Quando as entidades não respondem, marcamos uma audiência", explicou.Segundo a promotora de Justiça, além dos requerimentos, a Promotoria também fará solicitação de um novo exame de HIV no garoto de quatro anos. Afinal, como justificou, "a mãe informou que o Hias fez apenas um exame, mas, também, queremos saber o porquê de o hospital ter feito esse teste. Queremos entender o que gerou essa desconfiança", considerou.O conselheiro do Cremec responsável pela sindicância, José Albertino Sousa, comentou que, infelizmente, não poderia dar informações sobre o andamento da solicitação do Ministério Público. Em média, disse, a sindicância dura cerca de 90 dias. Pode ser mais ou menos dias, dependendo do caso.Isabel Porto declarou que o processo de investigação foi iniciado há cinco meses, após a denúncia realizada pela mãe da criança, E.B.D, moradora do bairro Bonsucesso. A partir daí, o Ministério Público instaurou o procedimento para investigar como o menino foi contaminado. Como antecipou, após o início da investigação, o Hias enviou exames realizados no Hemoce, mostrando que os doadores, a mãe e o irmão do menino, não possuem o vírus HIV.Na última terça-feira, o Hias informou ao jornal que a criança chegou à unidade médica estadual, em 2005, com apenas cinco meses de idade. No caso, o garoto foi transferido do Croa da Parangaba, apresentando quadro de infecção intestinal e anemia grave.Nessa época, solicitou-se a transfusão de sangue. Depois de dois anos, o paciente voltou ao Hias, com novas infecções e febre. Após exames, constatou-se anemia e o menino passou por outra transfusão de sangue. Assim, fez-se um rastreamento de vírus, e, no início deste ano, detectou-se o HIV.Conforme a diretora do Croa da Parangaba, Perpétua Bezerra, no momento não há informações disponíveis sobre o caso do menino, internado na unidade em 2005. De acordo com ela, o Município pode fornecer as informações, desde que haja uma solicitação, por escrito, da Justiça ou da família do garoto. "Não temos como lembrar do menino, já que há uma média de oito mil atendimentos por mês". DESABAFOMãe acredita que infecção aconteceu na 1ª transfusãoNuma casa humilde do bairro Bom Sucesso, o garoto D. brinca com o irmão e assiste à TV, indiferente ao vírus que ataca A sua imunidade. "Ele não entende o problema, mas eu peço para ele não pular, não correr e evitar mexer com tesouras ou facas. Além do HIV, ele também tem problemas respiratórios e vai todo mês ao Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), para tomar o coquetel de remédios e fazer exames nos pulmões", diz E. B. D., mãe do menino.Segundo ela, o coquetel de quatro medicamentos antivirais deu nova vida ao garoto. "Antes, ele era magrinho e quase não brincava. Onde a gente colocasse, ele ficava. Agora, é esse trabalho que o senhor está vendo, mas assim é muito melhor", descreve, enquanto D. mexe insistentemente nos botões da câmera do repórter fotográfico.E. B. D lembra que, desde que foi informada pelo Hias da infecção do filho pelo vírus, teve de trabalhar muito mais. "Trabalho em casa de família e me transformo em duas para que não falte nada para ele. Mesmo assim, sempre falta alguma coisa. O pai dos meninos está desempregado e só sou eu para sustentar a casa", relata.A escola que o menino D. frequenta diariamente, segundo a mãe, ninguém sabe que o garoto tem o problema e, na vizinhança, o tratamento com a família tem sido de compreensão. "Nossa preocupação é conseguir saber onde foi que ele pegou essa doença. Eu acredito que foi na primeira transfusão, porque depois dela foi que ele começou a ter problemas de saúde e ficar internado sempre".Dona E. B. D. lembra que, além do Hias, onde recebeu a transfusão, e do Centro de Assistência à Criança Lúcia Fátima (Croa) da Parangaba, o pequeno D. também esteve internado nos Hospitais Luís de França e Waldemar Alcântara.DefensoriaEm abril deste ano, os pais souberam da infecção do filho. Após os exames dos doadores das transfusões e da mãe terem dado HIV negativo, o casal procurou a Defensoria Pública. "O advogado deixou tudo nas minhas mãos. Ele pediu para eu conseguir toda a documentação dos hospitais. Eu trabalho e não tenho tempo. Mesmo assim já liguei para o Albert Sabin e eles enrolaram, dizendo que eu tinha de ter o número da internação. Eu deu a eles o nome e a data de nascimento do D. Queria muito um advogado para que o culpado da infecção do meu filho pagasse pela irresponsabilidade", desabafa a mãe.

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