quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sete motivos para temer a segunda onda

A gripe A vai voltar. Essa é a convicção das autoridades de saúde do país, reforçada por uma nova eclosão do vírus no Hemisfério Norte. A expectativa é que a vacina chegue a tempo de conter a nova onda.
A confirmação de uma segunda onda de gripe A no Hemisfério Norte, onde as mortes recomeçam a preocupar, coloca mais uma vez em alerta o Rio Grande do Sul. Paralelamente ao recrudescimento da doença nos Estados Unidos, que levou o presidente Barack Obama a decretar situação de emergência no país, a Secretaria Estadual da Saúde pôs em sobreaviso o sistema público de saúde. Com 201 mortes por gripe A de um total de 1.368 no país, o Rio Grande do Sul prevê a ocorrência da nova fase de transmissão em breve:
– Vamos ter a segunda onda, é óbvio. Não sabemos como ocorrerá, mas deve ser mais branda do que a primeira. Quando vai chegar, é imprevisível – afirma o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra.
A estrutura de atendimento montada às pressas para conter a disseminação do vírus que chegou ao Estado em maio está novamente em alerta. Em caso de novos surtos, Terra garante reativar essa rede. Além de respiradores artificiais comprados e alugados para hospitais, o governo poderá voltar a estender horários de postos de saúde.
A expectativa do secretário é de que a segunda onda coincida com o início da vacinação, prevista para ocorrer entre fevereiro e março. Até lá, estão à disposição 100 mil tratamentos de tamiflu, o principal antiviral utilizado no combate à doença. Outra medida a ser adotada nas próximas semanas é a retomada de orientações à população, reiterando que sejam mantidos cuidados básicos de higiene. Terra valoriza o conhecimento acumulado:
– Viramos veteranos, pois o pior da epidemia foi registrado no Cone Sul.
Para o infectologista Breno Riegel Santos, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Conceição, essa experiência pode ajudar a reduzir os efeitos de uma segunda onda. Um dos acertos citados por ele foi a montagem de contêineres ou barracas para o pré-atendimento aos pacientes suspeitos, o que reduziu a circulação dentro dos hospitais.
Enquanto a vacinação em massa não começa no Brasil, a recomendação é redobrar cuidados durante estadias nos países do Hemisfério Norte. André Luiz Machado da Silva, infectologista da Santa Casa, diz que devem ser evitados locais fechados:
– Em caso de a pessoa observar algum sintoma no Exterior, não deve esperar para consultar no Brasil. As viagens não estão contra-indicadas.
Por que os brasileiros devem ficar em alerta
Ciclo da doença
Com o reaparecimento nos Estados Unidos, a tendência é de que a segunda onda chegue em breve ao Estado. Foi assim que a doença entrou no Brasil em maio, depois do registro de casos no Hemisfério Norte em abril.
A previsão inicial era de que o novo estágio ocorresse em novembro, mas, segundo as autoridades, é impossível determinar com precisão. A Secretaria Estadual da Saúde ainda não observou sinais da segunda onda, mas dá como certo o reaparecimento. A expectativa é de que ocorra entre novembro e dezembro.
Alcance desconhecido
Pelo histórico das grandes epidemias de gripe, normalmente a segunda onda costuma ser mais fraca do que a primeira.
No entanto, as proporções da nova fase de transmissão são desconhecidas pelas autoridades sanitárias, a exemplo do que ocorreu quando a doença surgiu no México. Durante a primeira onda da doença, a estimativa do governo do Estado é de que 2 milhões de gaúchos tenham tido contato com o vírus, ou seja, cerca de 20% da população. Isso não significa que todos manifestaram sintomas.
Característica do vírus
É uma característica do vírus influenza a mutação. A nova onda pode chegar com um vírus mais potente. Em junho, o Instituto Adolfo Lutz anunciou a descoberta de uma variação. Após isolamento e sequenciamento do vírus por especialistas, foi detectada uma nova estirpe, diferente da registrada originalmente nos primeiros pacientes com casos confirmados nos Estados Unidos.
Até o momento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as variações identificadas por laboratórios de todo o mundo indicam que o vírus continua com a mesma capacidade de infecção inicial.
Chegada do verão
Embora os casos de gripe sejam registrados em todos os meses, intensificam-se no frio. Se a segunda onda surgir durante o verão, conforme o prognóstico, pode pegar a população desprevenida. Sem chamar a atenção, a doença pode se espalhar por meio de descuidos com a higiene.
Nas próximas semanas, o governo do Estado deve retomar orientações à população. Anúncios lembrarão cuidados básicos que podem fazer a diferença contra a gripe A, como lavar as mãos com frequência, cobrir a boca ao tossir ou espirrar e evitar lugares fechados com grande circulação de pessoas.
Viagens internacionais
A segunda onda está prevista para o período de férias, quando se intensifica a circulação para áreas que apresentam sinais da nova fase da doença. Quando a gripe surgiu, os primeiros casos vieram “importados” para o Estado, de gaúchos que tinham estado em outros países.
A situação pode se repetir, com um agravante. A primeira onda ocorreu entre a primavera e o verão no Hemisfério Norte, ou seja, em um período de maior calor. Agora, com a proximidade do inverno e do consequente frio, quem viajar para países dessa parte do globo pode estar mais exposto do que antes.
Desenvolvimento da vacina
A vacina contra a gripe A ficará pronta no início de 2010 e chegará ao Estado entre fevereiro e março, talvez após o retorno da doença. Das 30 milhões de doses que serão produzidas pelo Instituto Butantan no primeiro semestre, 6 milhões devem ser para os gaúchos.
O descompasso entre o reaparecimento da doença e o início da imunização pode significar a disseminação do vírus. Para a Secretaria Estadual da Saúde, a vacinação de 60% da população pode barrar a nova onda de transmissão.
Estrutura dos hospitais
Durante a primeira onda, ficaram evidentes as deficiências do sistema de saúde em atender tantos pacientes ao mesmo tempo. A situação pode se repetir caso o número de infectados for próximo ao dos meses mais severos.
No Estado, o sistema público de saúde está de prontidão. Em caso de necessidade, postos de saúde voltarão a ter os horários estendidos, profissionais poderão ser deslocados para unidades de atendimento e respiradores artificiais serão novamente locados para áreas de internação hospitalar.

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