
“É necessário que esse medicamento esteja acessível em toda a rede pública de saúde e na rede privada também, por uma questão de vida ou morte”, afirmou ontem Ordacgy ao Correio. “O número de óbitos tem crescido muito.” Se julgada procedente, a ação terá validade em todo o país.
O defensor público elenca três principais razões permitir que quaisquer médicos possam prescrever o Tamiflu em qualquer estágio da doença. O primeiro deles é que o remédio tem eficácia reduzida quando ministrado após as primeiras 48 horas de contaminação pelo vírus. Isso depõe contra o entendimento do Ministério da Saúde de que a medicação só pode ser passada para pacientes graves, cujas complicações se manifestam geralmente após esse período. Em segundo lugar, tanto os casos graves como os grupos de risco, segundo o defensor público, são as pessoas mais suscetíveis a desenvolver resistência ao medicamento. Não seria o caso das pessoas saudáveis, segundo Ordacgy. Por último, as pessoas que desenvolverem resistência podem usar outro medicamento, o Relenza, ou ser colocadas em quarentena para não contaminar outras.
O Ministério da Saúde segue as recomendações feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento e prevenção da influenza A ao recolher das farmácias e controlar a distribuição do Tamiflu. O governo conta com 9,5 milhões de kits para tratamento da doença. Até o sábado, 76 pessoas morreram em decorrência de complicações do H1N1. Países como a Argentina, a Inglaterra e os Estados Unidos têm tido uma política mais flexível de acesso ao medicamento. Na Inglaterra, o remédio é prescrito preventivamente pela autoridade de saúde local a familiares do infectado. Nos EUA e na Argentina, podem ser comprados em farmácias. Duas cidades do Rio Grande do Sul atingidas pela doença, Foz do Iguaçu e Passo Fundo, quebraram a recomendação do Ministério da Saúde e estão prescrevendo o Tamiflu para casos suspeitos.
Para o infectologista Edimilson Migowski, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), muitas das 76 mortes por gripe suína poderiam ter sido evitadas. “Se déssemos o remédio em até 48 horas, poderíamos modificar a evolução da doença para não levar a todos esses óbitos”, avalia Migowski, um dos estudiosos consultados pelo defensor público. O médico sanitarista Pedro Tauil, da Universidade de Brasília (UnB), discorda da tentativa de se liberar a medicação do Tamiflu. “É um absurdo a interferência da Justiça”, critica.
Segundo Tauil, o Ministério da Saúde tem agido com prudência, porque, principalmente, não há em escala mundial medicamento para consumo em massa. Os laboratórios, diz, não dispõem de estoques do remédio. “Vejo que a liberalização desse medicamento pode resultar em mais malefícios do que benefícios”, afirmou Tauil. (leia mais no ponto crítico)
O médico sanitarista da UnB afirma que já foram registrados casos de resistência do vírus em países que adotaram uma política liberal de acesso ao medicamento, como Japão, Dinamarca e a Inglaterra. “Temos que discutir bem, pois o momento é de escassez (do medicamento). Precisamos trabalhar com prioridades”, destacou.
O temor da gripe suína fez cinco estados adiarem a volta às aulas dos estudantes da rede pública, marcada para hoje. Minas Gerais e Paraná começam o semestre letivo na próxima segunda. Os alunos de São Paulo e do Rio Grande do Sul retornam apenas daqui a duas semanas.
1 - GRUPO DE RISCO
Considera-se grupo de risco idosos com mais de 60 anos, crianças até dois anos, gestantes e lactantes, hipertensos e diabéticos. As pessoas com deficiência respiratória, cardiopatia e que apresentam doenças que abaixam a resistência do organismo, como o HIV, também se enquadram.
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