sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Em busca das funções perdidas

O seu corpo é revestido internamente por uma grande malha de ginástica, que serve para agrupar estruturas como músculos, ossos e tendões, chamada fáscia. É sobre ela que age o rolfing: uma terapia manual profunda que tem como objetivo liberar tensões, recuperar as funções originais de cada parte do corpo e, de quebra, fazer exercícios que ensinem novamente a melhor postura e execução de movimentos simples, como andar e subir e descer de escadas. Quem desvenda a técnica são as rolfistas Eloísa Mara e Lúcia Guimarães e a professora de Cinesiologia e Biome­­cânica do curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Auristela Moser, que também é chefe da Escola de Coluna da instituição.
O que é o rolfing?
Esta é uma marca registrada do Rolf Institute for Structural Integration, que serve para designar o trabalho de integração estrutural criado pela cientista norte-americana Ida Rolf. O método consiste na manipulação dos tecidos miofasciais (conjuntivos), que são membranas que recobrem os feixes de músculos e formam uma espécie de malha de ginástica que recobre todo o corpo. Quando parte dessas membranas se retesa – por conta das tensões do dia a dia –, essa “malha” se repuxa, comprime os músculos e ocorrem dores e tensões generalizadas. A parte seguinte do tratamento é promover a reeducação do movimento, ou seja, ensinar a andar corretamente e levantar sem sobrecarregar as costas, por exemplo.
Como é a técnica de manipulação?
Consiste em uma terapia manual mais profunda, atingindo as fáscias, que envolvem e conectam músculos e tendões. Pelos movimentos, é possível trabalhar separadamente cada feixe muscular, alongar, tonificar, deixando-o pronto para que reestabeleça suas funções. O rolfista libera tensões localizadas, que afetam o bem-estar do corpo em geral. Isso ajuda a pessoa a se reorientar espacialmente, melhorando o seu alinhamento em relação à gravidade e sua coordenação dos movimentos. Assim, o corpo ganha equilíbrio e economia funcional, ou seja, não precisa gastar tanta energia para realizar movimentos básicos.
A técnica é dolorida?
Isso depende do grau de comprometimento de cada pessoa. Mu­­dar a estrutura corporal e acessar comportamentos internos pode ser dolorido, como acontece na RPG (Reeducação Postural Global). A grande questão é que o paciente, aos poucos, vai se libertando de condicionamentos antigos, deixando medos de lado e assumindo novas possibilidades para o corpo. Que, aliás, ele sempre teve, mas, com o tempo, foram sendo deixadas de lado.
Em que casos é indicado o rolfing?
Ele serve tanto para quem tem hábitos posturais ruins – decorrentes de padrões de movimentos errados ou determinados por traumas físicos ou emocionais – quanto para quem se exercita em demasia e acaba sofrendo lesões. Muitas vezes as pessoas tentam “arrumar” a postura, compensando um pé dolorido, deslocando, por exemplo, o peso para outra perna – o que compromete ainda mais o equilíbrio do corpo. A ideia é tornar o movimento mais eficiente.
Quais os principais hábitos que contribuem para a má postura e as dores?
Manter os ombros sempre levantados, sentar fora do apoio do quadril, usar saltos altos por muito tempo, carregar bolsas muito pesadas. Toda a vivência física e emocional recebe uma resposta do corpo. Quando a pessoa está triste, por exemplo, ela tende a ficar com os ombros para frente, esconder o peito, olhar para baixo.
E para quem tem uma patologia já instalada?
Uma pessoa com hérnia de disco, por exemplo, não será curada pelo rolfing. Mas provavelmente sua estrutura física sairá beneficiada das sessões. Por meio das manipulações é possível isolar o problema e tratar as estruturas vizinhas, fazendo com que retomem suas funções, alongando-as e tonificando-as. O rolfing ajuda a reorganizar o corpo da melhor forma possível, para que consiga cumprir suas funções.
Como é o tratamento?
São feitas dez sessões de alongamentos e reeducação postural. A cada sessão, uma camada é acessada, o corpo vai ficando mais solto e aberto a novas sugestões. Junto com as manipulações, são ensinados comandos para a reeducação corporal e o paciente reaprende a andar, levantar, sentar. Depois de terminadas as sessões, o corpo precisa descansar e se readequar às novas programações. O indicado é fazer o tratamento uma vez ao ano.
Há quanto tempo existe o rolfing?
Além de se aprofundar em medicina quiroprática, osteopatia, ioga e outras técnicas durante a década de 40, através do trabalho científico e das descobertas in­­tui­­tivas que realizou com pessoas cronicamente incapacitadas, a cientista norte-americana Ida Rolf começou a desenvolver o trabalho que viria a ser conhecido como integração estrutural. Nos 30 anos seguintes, dedicou-se a desenvolver a técnica – Rolfing® – e seu programa de trei­­­namento. Nos Estados Uni­­dos, a técnica passou a ser conhecida nos anos 50. No Brasil, só agora a técnica vem sendo co­­nhecida. Só que, como não está vinculada a nenhuma profissão, é vista como “alternativa” por boa parte da comunidade científica.
Quanto custa e quanto tempo dura a sessão?
Os preços variam entre R$ 100 e R$ 150 a sessão, que demora em média uma hora e quinze mi­­nutos.

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