domingo, 16 de agosto de 2009

Gel contra a Aids

Uma das principais causas de contaminação pelo HIV, o vírus causador da Aids, entre mulheres é a falta de uso de preservativos nas relações sexuais. Em parte pela dificuldade que elas encontram de convencer os parceiros a usar proteção. Essa constatação tem direcionado boa parte dos estudos para a busca de modelos de defesa que possam ser usados pela população feminina sem que precisem depender do parceiro. Na última semana, pesquisadores americanos apresentaram os primeiros resultados de uma experiência promissora nesse sentido. Eles anunciaram a criação de um gel que impede a infecção do tecido vaginal pelo vírus.
Os testes foram feitos em laboratório, com amostras de tecido. Os cientistas verificaram que o remédio tem um mecanismo de ação diferente do apresentado por produtos semelhantes em teste. "Em contato com o sêmen contaminado, ele se transforma em um tipo de malha composta por aberturas que evitam a passagem do vírus", explica o pesquisador Patrick Kiser, professor de bioengenharia da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, e coordenador do trabalho. É como se o HIV tivesse sido pego em uma rede (leia mais detalhes no quadro abaixo). Os géis estudados até agora ficam líquidos e não conseguem formar essa barreira física.
Outro diferencial é que essa espécie de camisinha molecular - como os próprios cientistas batizaram a novidade - também não se mostrou tóxica. Até hoje, boa parte do insucesso dos géis microbicidas experimentais se deveu à sua toxicidade - o tecido vaginal ficava irritado. Por esse motivo, em vez de proteger, acabavam aumentando o risco de contaminação pelo vírus, que poderia se infiltrar nas lesões. "Até agora não observamos esse tipo de reação. Por isso acreditamos estar no caminho certo", diz Kiser. Se os resultados continuarem a se confirmar positivos nos próximos testes, os cientistas acreditam que o gel estará disponível dentro de três a cinco anos.
A corrida por um recurso preventivo destinado à mulher é muito grande. Principalmente em razão do crescimento da epidemia entre essa população observado em todo o mundo. Na África e na Ásia, por exemplo, até 60% das mulheres com parceiros fixos estão infectadas. No Brasil, as estatísticas também são altas. De acordo com dados do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, dos 630 mil infectados no País, 34% são mulheres.
Grande parte do aumento se deu nos últimos anos. Em 1986, no início da epidemia, no Brasil, existiam 15 homens infectados para cada mulher. Hoje, essa relação é de 15 para 10. "Mas quando a proteção depender apenas das mulheres, essa realidade poderá mudar", afirma o infectologista Adauto Castelo, da Universidade Federal de São Paulo.

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